18- MENTIROSO (Parte II)

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Durante o tempo em que conversávamos Zenit terminou de limpar o couro do macaco, que ainda não se parecia nada com uma capa, mas já pôde ser dobrado e guardado dentro de sua mochila. Era agradável estar ali com eles, no entanto, precisávamos partir o quanto antes. Sugeri buscar o bote com Tony antes de caminhar em direção à nossa nova embarcação.

— Estou curioso mesmo para conhecer esse filho de Netuno. — Comentou Cont, sombrio. 

Encontramos Tony deitado dentro do bote. Estava lendo um dos livros de Zenit. Nos lançou um olhar indiferente assim que paramos em sua frente.

— Ah, olá, pequeno. — Dirigiu-se a Napoleão, que respondeu movendo o focinho.

— Tire suas mãos imundas dos meus tesouros! — Zenit reclamou.

— Seus tesouros? Você tem ideia de quem escreveu esses livros?

— LT. — Zenit respondeu, irritado.

— Exatamente. Lorde Tritão. Meu pai. — Entregou o livro nas mãos de Zenit junto com a carta que encontramos em Sol. Enquanto o jovem comparava as assinaturas, incrédulo, Tony levantou-se em minha direção.

— Conseguimos um barco melhor. — Tentei lhe motivar de alguma maneira enquanto tirava nossas provisões de dentro daquele barquinho minúsculo.

— Você é o Tony? — Perguntou Cont.

— Sou eu. — Caleidoscópio sorriu com prontidão, arrumando os cabelos brancos com uma das mãos. — Tony Caleidoscópio.

— Agora me lembrei! Já ouvi falar de Caleidoscópio. Um baderneiro adotado por Lorde Tritão. Só não sabia que também era um impostor.

— Do que está falando? — Perguntou Tony pulando para fora do bote, sem entender nada, mas já bastante ofendido.

— Filho de Netuno, é o que reivindica ser. — Cont riu. — Nunca vi história mais malfeita. E, acima de tudo, humano!

— Tem certeza? — Caleidoscópio perguntou em desafio, mudando a cor dos olhos. Eu não achei que Cont fosse enfrentá-lo de maneira tão incisiva, e naquele momento me arrependi de ter mencionado a relação de parentesco.

— Você vai precisar provar. — Falou o homem. — Caso contrário, não posso perdoar alguém que se aproveite do Nasa desse jeito.

— Eu não preciso provar nada a ninguém! Muito menos a um bêbado desconhecido. — Mesmo  que Cont estivesse sóbrio, ainda exalava forte cheiro de álcool. Tony então virou-se para mim.— Onde está esse barco que você falou?

— O barco é meu. — Disse Cont. — E se você não vai revelar sua verdadeira face, deixemos que o mar o faça. — Segurou Tony pelos ombros e o derrubou no mar.

A água daquela pequena praia natural era rasa demais para que Caleidoscópio corresse perigo real. No entanto, tomado pela surpresa e pela fobia do mar, Tony não parava de se debater pedindo por ajuda. Ele estava com a aparência de tritão, as escamas douradas fazendo com que Cont permanecesse atônito por alguns instantes. Ao perceber que Zenit permanecia indiferente ao possível afogamento e eu não tinha coragem de entrar no mar para ajudá-lo, Cont despertou da inércia e entrou na água para resgatar Tony.

— Não encoste em mim! — Assim que estava em terra firme, Caleidoscópio empurrou Cont violentamente para longe de si, a aparência humana reconquistada exibindo claros sinais de constrangimento. Pelo menos, a visão de sua forma original fez Cont desistir da discussão. Na realidade, ele parecia bastante confuso.

— Impossível. Deve ser algum truque. O filho de Netuno está morto!

Sem pensar em uma explicação satisfatória, nos guiou até o local onde guardava suas embarcações. Indicou uma chalupa pequena, visivelmente antiga, mas que foi aprovada pela minha inspeção minuciosa. 

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