Todos tinham passado pelos altos portões de Heartfall há cerca de três dias e meio. Encontravam-se atualmente a galope para a cidade ribeirinha de Unisteirn. O sol estava a emergir ao horizonte, aos poucos ia privando aquela parte do mundo da bem-vinda brisa noturna de verão. Artoges ainda estava muito desconfiado. Ele não esperava que fosse tão fácil passar cinquenta homens em armadura e a cavalo pelas ruas da capital sem que sua real motivação fosse logo desmascarada. Mas ao mesmo tempo, também se sentia grato por ter saído da metrópole. Com sorte teria saído para nunca mais retornar àquele lugar miserável, do confinamento do interior daquelas muralhas pálidas que o trouxeram imensurável tristeza e arrependimento.
Já estavam a alguns bons quilômetros da cidade, até então parecia que tudo ia bem. Não demorou muito e a paisagem começou a se modificar, os longínquos campos de plantações e pacatos casebres dos trabalhadores agrícolas cobertos pela escuridão foram aos poucos sendo substituídos por formações rochosas, que iam se elevando aos flancos do grupo, timidamente iluminadas pelos primeiros raios de luz da manhã. Estavam a entrar em um extenso desfiladeiro conhecido como As Brechas, estrada que os levaria até a fronteira com a cidade de Unisteirn. Tinham um plano de se dividirem em subgrupos menores assim que atravessassem aquela passagem, seguindo então para diferentes partes do reino quando alcançassem uma distância segura da capital. Uma comitiva grande como a atual chamaria muita atenção se continuasse seguindo unida por muito tempo, principalmente se houvessem optado por uma rota de viajem mais tradicional. Dificilmente haveriam testemunhas relevantes para delatarem a passagem da cavalaria pelas íngremes encostas do desfiladeiro.
O General estava liderando o grupo na frente da formação. Haviam viajado até a metade do dia por entre aquelas altas paredes rochosas. Achava que aquela rota seria um atalho que os distanciara e os manteria a salvo da estrada principal, mas a calmaria naquele dia não foi tão duradora quanto desejado. Todos subitamente começaram a ouvir sons de cascos de cavalo unindo-se aos do grupo, tornando o barulho ainda mais intenso. Estavam sendo seguidos, perceberam. De repente, de uma bifurcação da estreita estrada surgiram vários outros cavaleiros da Cruz Azul, no mínimo trinta de cada lado, não demorou muito até ladearem as laterais do grupo.
– ESTÃO TENTANDO BLOQUEAR A PASSAGEM! NÃO DEIXEM QUE ELES NOS ULTRAPASSEM! – Gritou Artoges, e seus seguidores colocaram suas montarias para se esforçarem. Como todos aqueles homens conseguiram alcançá-los tão rapidamente? O grupo havia tomado a dianteira, tinham pelo menos duas horas de vantagem. A única explicação para isso seria se a fuga já houvesse sido premeditada. Logo as extremidades da cauda do grupo estavam brandindo armas com os perseguidores. Conforme todos avançavam, o desfiladeiro se tornava mais estreito. Caiam homens dos cavalos de ambos os lados, mas os inimigos estavam em vantagem numérica. Além disso, suas montarias aparentavam estar menos cansadas, já estavam atingindo a extremidade frontal da formação. O General tinha que tomar alguma atitude ou seriam cercados.
– FORMAÇÃO DE SETA! – Trovejou em seu vozeirão. – NÃO DEIXEM ELES USAREM O RELEVO A FAVOR! – Os homens se apressaram para seguirem a ordem e colocaram os perseguidores contra as paredes do desfiladeiro, impedindo que a massa os ultrapassasse pelas laterais, mas ao mesmo tempo estavam gerando mais perigo eminente para os integrantes do início da seta. – DEPRESSA! ESTAMOS QUASE SAINDO DO DESFILADEIRO! – Artoges dizia isto, mas o que eles fariam depois que saíssem? Tentariam despistá-los na floresta ao leste ou se dividiriam em dois grupos e seguiriam em direções opostas? No pior dos casos, teriam que partir para o confronto aberto. Por via das dúvidas, desembainhou a sua espada longa de debaixo da capa, que tremulava freneticamente ao vento. Teria que tomar uma decisão rápida assim que saíssem dali.
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Fardos de Batalha (Em Andamento)
FantasyA jornada contida neste escrito se passa em Eingsfyre, o país que detém para si o poderio militar dos reinos do ocidente. Embora ainda sendo um reino, o domínio deste não está contido nas mãos de seu monarca, mas sim nas da Igreja, pois foi esta que...