No ocaso do dia seguinte eles seguiram caminho. Após uma refeição em nada especial, Artoges afirmava estar forte o suficiente para ir andando, mas tinha que usar a espada como muleta. Os ferimentos de flecha nas pernas ainda não haviam cicatrizado o suficiente, o da coxa direita era o que mais lhe incomodava, sentia como se sua perna fosse explodir antes de avançar mais um metro. A cada passo que dava, suas costelas rangiam em dor, mas tinha que continuar avançando, ficar muito tempo ocioso naquela floresta era estar assinando uma sentença de morte. Arlandrya concordara sem objeções em segui-lo até a fronteira entre o campo e a cidade de Balmon. Por vezes ela se afastava para examinar o caminho à frente para ter certeza de que tudo estava seguro, visto que ela podia correr e ele não. Aproveitaram até o último raio de sol para seguirem percurso, quando finalmente pararam, foi em uma pequena clareira. Ainda restava um longo caminho para se sair daquelas florestas, o desertor ainda chegou a aconselhar sua acompanhante a ir embora, pois tinha quase certeza que a jovem não suportaria passar vários dias sem ter um sinal de civilização, mas aquele argumento foi contraposto quando lhe foi alegado que sem a ajuda dela, nunca mais chegaria a ver tais sinais de civilização. A garota havia se afastado novamente para ir buscar lenha para a fogueira, não era muito sábio acender uma naquelas condições, mas o fim do dia estava ficando muito frio, mesmo não tendo chovido. O orvalho havia aparecido cristalizado pela manhã, sinais claros da aproximação do inverno. Artoges podia aguentar o frio sem se queixar apenas com uma coberta simples, mas Arlandrya afirmara o contrário. Parecia até que ele estava recebendo ordens vindas da boca de uma oficial de quinze anos, e aquilo o irritava. Mas ainda assim, ele não tinha coragem de a mandar embora, pois lá no fundo sabia que cada palavra que ela lhe dirigia carregava certa verdade. Deveria estar agradecendo pelo milagre que a fez cruzar seu caminho. Seu corpo estava todo acabado, até a simples tarefa de urinar estava causando-lhe dores. Não sabia o quão longe iria chegar sem a ajuda da pequenina, mas seu orgulho o impedia de admitir aquilo.
Enquanto esperava lenha para a fogueira, ele sentou-se no chão, aliviando-se um pouco das dores pelo repouso. Pegou uma pedra que estava próxima e começou a afiar sua espada curta e adaga para passar o tempo. Teve de improvisar devido ao fato de também ter perdido sua pedra de esmeril, juntamente com todo o resto dos seus pertences e suprimentos contidos dentro da bolsa de viagem ao ser derrotado por Cosmodeos e seus perseguidores.
Após uns quinze minutos ela havia retornado com a lenha. A acendeu após algum tempo fazendo atrito com um graveto, ainda que demorando um pouco, surpreendeu-se com a prática da jovem em acender fogo. Ela tirou uma pequena panela da bolsa que trazia nas costas, encheu-a com a água do cantil e pôs pequenos pedaços de carne e legumes para cozinharem.
– Não é muito sábio fazer isso por aqui, sabia? – Advertiu, tirando os olhos das suas lâminas por um instante.
– Lá vem você de novo... Por que não?! – Perguntou em desanimo.
– ... Vem cá... Onde foi mesmo que você estava com a cabeça quando resolveu cortar caminho por essas bandas? Não diria que você escolheu o melhor dos atalhos. Essas florestas são lar de lobos, ursos e coisas piores.
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Fardos de Batalha (Em Andamento)
FantasyA jornada contida neste escrito se passa em Eingsfyre, o país que detém para si o poderio militar dos reinos do ocidente. Embora ainda sendo um reino, o domínio deste não está contido nas mãos de seu monarca, mas sim nas da Igreja, pois foi esta que...