Quando as lamparinas dos postes espalhados à distância começavam a serem acesas para iluminar a vindoura noite, os dois cessaram suas carícias para poderem se pôr a caminho de suas obrigações. A senhorita Aurunvax tinha de desempenhar seu expediente noturno, enquanto Artoges teria de patrulhar os arredores da Santa Catedral até tarde da noite.
– Ah... Desculpe, querido, eu queria poder ficar por mais tempo, mas sabe como é, não? – Relembrou, ao afastar-se dos seus braços para poder se pôr de pé.
– É... Tem razão, já está ficando tarde. – Observou.
– Bem... Então... Amanhã pela metade da primeira luz, de frente ao portão leste, certo?
– Exatamente, assim como acertamos... Te vejo lá, May. e tome cuidado por onde anda. Não passe por lugares pouco movimentados.
– Arh... Eu já lhe prometi que iria tomar mais cuidado meia centena de vezes, seu bobo! Fique tranquilo!
– Certo, certo... Eu apenas me preocupo com você, é somente isso.
– Hm... Tá bom, até amanhã, então... – Concluiu, antes de virar-se para seguir seu caminho de volta à Esmeralda Reluzente, mas foi ligeiramente interrompida pela mão levada ao seu ombro, que a virou de volta, e pelo vívido beijo que se sucedeu por uns bons segundos, atitude inesperada que fez seu rosto corar.
– ... Eu te amo muito, sabia? – Enfatizou, fitando o chão após apoiar sua testa sobre a dela, enquanto a abraçava firmemente.
– Eh... Sim? ... O que há de errado, Arth? Você está agindo meio estranho hoje. – Questionou novamente, enquanto observava a expressão incomum ao duro rosto marcado dele.
– Me promete que você jamais irá embora? – Pediu, enquanto se afastou um pouco para poder fitar aquela linda face novamente.
– Que tipo de pergunta é essa?! É claro que eu prometo! – Assegurou-lhe, antes de levar os lábios até a sua bochecha. – Vamos, diga-me qual é o problema, sei que você está escondendo algo.
– Não é nada com que você precise se preocupar, agora vá. Aquele idiota já deve estar cogitando seriamente a possibilidade de te deixar desempregada.
– Hmm... Tá... Mas quero que você saiba que sempre pode contar comigo para ajudar a resolver seus problemas. Ou tentar, ao menos.
– Sim, eu sei. Pode ir agora.
– ... Certo. – Assentiu, então se pôs a correr de volta para o seu dever, Artoges fez o mesmo após observá-la descendo pela rua, até sumir por entre os casebres de tijolos esbranquiçados.
Ele se contentava em saber que sempre teria aquele belo sorriso esperando para poder alegrá-lo em dias tristes como aquele. Não soube por que, mas durante o final daquele encontro ele se pegou lembrando do pesadelo horrível que tivera anos atrás. Aquilo o incomodou. Anteriormente à viagem para Balmon, sua noite de sono havia sido atormentada por um devaneio que parecia ter sido escavado da mais escura profundeza dos seus medos. Tentava não se apegar muito aos detalhes do que viu, em esperança de algum dia poder esquecê-lo por completo. Uma alucinação que envolvia a cidade, sangue, fogo e sua amada. Naquele dia, teve de dar um alto berro de sentimentos negativos misturados para poder despertar daquele horror, e o ecoar do grito despertou o restante do bloco de dormitórios junto. Talvez todos aqueles estranhos sonhos que tinha fossem apenas alguma forma de sua confusa consciência demonstrar aquilo pelo que ele mais presava. Felizmente, as maravilhosas férias que passou ao lado do seu amor fizeram sua mente relaxar bastante. Nunca mais tivera um pesadelo como aqueles, e por aquilo ele se sentia grato. Desde então, suas noites de sono haviam se tornado muito mais tranquilas.
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Fardos de Batalha (Em Andamento)
FantasyA jornada contida neste escrito se passa em Eingsfyre, o país que detém para si o poderio militar dos reinos do ocidente. Embora ainda sendo um reino, o domínio deste não está contido nas mãos de seu monarca, mas sim nas da Igreja, pois foi esta que...