Finas gotas de chuva estavam a cair dos céus nublados. Parte da divisão havia deixado suas montarias para seguir até o possível campo de batalha. A menor parte que permaneceu montada adentrou a cidade para reconhecimento. Nenhuma viva alma podia ser avistada de relance nas ruas de Unisteirn, as casas de madeira estavam quase todas reduzidas a escombros fumegantes. A recente chuva havia ajudado a apagar parte dos incêndios. Moscas cortavam o ar de cheiro putrefato e afumegado, procurando os corpos espalhados por todo lugar para depositar seus ovos, era uma combinação nauseante. Levaram doze dias para deslocar a tropa até a cidade, tempo o suficiente para os invasores terem saqueado, violado e incendiado.
– Unisteirn não é uma cidade pequena, têm boas muralhas... Um cerco de dias seria necessário para derrubá-la. Seus números devem ser maiores que o imaginado. – Observou o General Kraston, analisando toda a destruição ao seu redor.
Os homens do grupo de treinamento de Artoges haviam passado por ali para reabastecer os suprimentos na volta para a capital ao final da expedição nas florestas. Lembravam-se dos mercadores a tentarem ganhar a vida nas feiras do comércio, mercadores que agora pendiam do alto das casas, com pescoços envoltos por cordas de cânhamo. Seus corpos mutilados também podiam ser vistos espalhados pelo pavimento parcialmente alagado das ruas. Segundo relatórios do Capitão Swan, entregues antes da partida da capital, o líder dos naares era um homem muito alto e robusto. De acordo com os rumores, ele era forte o suficiente para quebrar o crânio de seus oponentes apenas usando as mãos. Diziam também que ele até tinha um grande lobo marrom de estimação, um animal sedento por sangue que levava consigo para as batalhas.
Estavam saindo do distrito comercial quando ouviram o acelerante barulho de cascos chocando-se contra o calçamento da estrada, provindo de uma fonte única em direção à comitiva. Era o batedor que voltava adentrando a galope na escura bruma levantada pelos incêndios. Quando alcançou o grupo, não se preocupou em desmontar nem em fazer reverências ao oficial, foi logo anunciando o motivo da pressa.
– Senhor General! Eles estão descendo pela mata!
– Quantos?! – Inquiriu Kraston.
– Milhares! No mínimo quatro! – Uma leve expressão de temor pode ser vista nos rostos dos homens do esquadrão de reconhecimento.
– PARA AS FILEIRAS! – Ordenou o General, erguendo seu famigerado vozeirão, então os duzentos homens a seu comando se puseram a galope em meia volta, acelerando na direção da saída norte da cidade. Quando enfim deixaram os muros destroçados para trás, vislumbraram o horizonte. Foi quando puderam contemplar a imensidão da horda inimiga que se amontoava de frente às árvores da floresta de pinheiros do rei. Os cavaleiros se apressaram para se reunirem ao restante da divisão, que se encontrava no terreno da entrada de uma curva côncava do rio que trespassava a cidade. Quando se juntaram, já estavam todos desmontados, os cavalos foram deixados não muito longe dos muros. Iriam batalhar a pé dali em diante. Não se delongou e as tropas bárbaras já haviam se posto em movimento, o chão parecia tremer ao ser pisoteado por milhares. O posicionamento da tropa poderia parecer duvidoso para os inimigos, este inclusive deveria ser o provável motivo da investida precipitada. Atrás e aos lados dos cruzes azuis havia apenas água, impedindo qualquer tentativa de recuo ou retirada. Mas eles não pretendiam recuar, já havia um plano em mente.
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Fardos de Batalha (Em Andamento)
FantasyA jornada contida neste escrito se passa em Eingsfyre, o país que detém para si o poderio militar dos reinos do ocidente. Embora ainda sendo um reino, o domínio deste não está contido nas mãos de seu monarca, mas sim nas da Igreja, pois foi esta que...