Trajava sobre cota de malha uma camisa branca de tecido grosseiro, com a cruz azul nela pintada. Era uma manhã quente, com poucas nuvens no céu. A última gota d'água em seu cantil foi bebida alguns minutos atrás, o resto ele havia derramado sobre a cabeça para afastar temporariamente o calor do pleno verão. Se aliviava pelo fato de seu turno de vigila estar quase acabando. Patrulhava pelo alto da muralha interior oeste, erguida em blocos de maciça rocha clara. Estava suado e com uma lança repousada ao ombro. Enquanto observava uma gaivota dando de comer à sua prole em um ninho no topo de uma das torres observadoras, notou um grande tumulto se aproximando do portão principal. Uma grande aglomeração de pessoas seguia um grupo de sete cavaleiros do Grande Templo em armaduras que refletiam a luz do sol escaldante. Estavam a escoltar o que parecia ser um prisioneiro pela extremidade do distrito comum. Eles dobraram uma esquina e seguiram até uma praça aberta onde a multidão se intensificou, conforme mais espectadores se reuniam em círculo aberto. Curioso, Artoges larga seu posto e dá uma carreira escadaria abaixo, passando em sequência pelo grande portão e seguindo pela avenida com calçamento de rochas irregulares até entrar na curva da rua na qual o povo se amontoava. Abriu caminho através dos moradores comuns e pobres até sair no meio da praça, mas o que viu por lá não o agradou. A tremulante bandeira de Eingsfyre que avistara de cima da muralha alguns minutos atrás tinha sido removida de sua haste para amarrar o criminoso amordaçado, que se remexia inutilmente. Sendo empilhado abaixo e ao redor de seus pés havia tábuas, feno e galhos de árvore de tamanhos irregulares. Não precisou ver ou ouvir mais nada para entender o que estava acontecendo.
– O que houve, soldado? – Perguntou ao militante mais próximo.
– ... Capturamos o desgraçado tentando roubar comida e armas da nossa carruagem enquanto dávamos de beber aos cavalos, antes de podermos sair em missão. – Reportou o membro da Ordem, após levantar a viseira do seu elmo, para melhor avaliar quem o perguntava.
– ... Hum... Claro que roubo é um crime sério, mas não acha que jogá-lo na prisão seria uma punição mais adequada?
– Não brinque comigo! Esse herege matou dois dos nossos antes de podermos detê-lo!
– Então ele é...
– Sim... – Admitiu, em tom pesaroso. – O maldito reagiu assim que teve a chance, eu vi com os meus próprios olhos... Foi terrível! Ele manipulou sua própria sombra, transformando-a em uma fumaça negra que usou para envenenar os meus camaradas.
– É MENTIRA! – Negou o prisioneiro, ao conseguir remover o pano da boca com dificuldade. Estava vestido em trapos e sujo pelo lixo nele atirado pela plebe durante o percurso até ali. Tinha uma ferida de queimadura recente na bochecha, em formato de cruz, que representava seu estado como amaldiçoado capturado. A marca feita com brasa ardente, que servia para mostrar ao mundo sua verdadeira identidade maligna. – ELES ENTRARAM NA MINHA CASA E COMEÇARAM A ME ESPANCAR POR NÃO TER DINHEIRO PARA PAGAR OS IMPouGh...! – Tentou se explicar, mas foi ligeiramente silenciado com um punho revestido por ferro de uma manopla e cota de malha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fardos de Batalha (Em Andamento)
FantasyA jornada contida neste escrito se passa em Eingsfyre, o país que detém para si o poderio militar dos reinos do ocidente. Embora ainda sendo um reino, o domínio deste não está contido nas mãos de seu monarca, mas sim nas da Igreja, pois foi esta que...