Estavam a atravessar uma larga estrada de barro que cortava o meio de um bosque, era um dos ramos da estrada principal que encurtaria a rota da comitiva até a capital. O entardecer já chegara. Havia chovido na noite anterior, o clima havia ficado agradável em decorrência disso, visto que o tempo estava estranhamente quente ultimamente, embora estivessem em pleno outono. Há algum tempo já podia-se avistar os picos nevados do Escudo Real acimando as copas desbotadas das árvores, guarnecendo atrás de si parte dos últimos gracejos da luz do sol. Uma bela vista, sem dúvidas. Todos seguiam conversando sobre assuntos diversos. Os recrutas tentavam obter mais informações com os cavaleiros da Ordem sobre o que os esperava no quartel general, alguns até estavam a cantarolar. Todos falavam, menos Artoges e Arstan. O recruta bálmano não se sentia enturmado o suficiente com o resto do grupo para poder puxar assunto, isto se somava ao remorso que ainda carregava consigo de ter deixado sua cidade natal para trás. Arstan liderava a coluna montado em seu corcel. Continuaram avançando desta maneira até chegarem a um ponto da estrada em que as sombras da vegetação começavam a encobri-los. As árvores que perdiam suas folhas devido à estação passavam a ser circundadas por vegetação rasteira e se tornava difícil de enxergar o que havia por trás delas. O grupo seguiu a trote por mais alguns metros até o Marechal inesperadamente levantar o punho ao ar, fazendo sinal para a equipe parar. O soldado que vinha atrás fez isso, depois outro e mais outro, logo todos tinham notado que haviam parado de prosseguir.
– O que houve, capitão? – Perguntou confuso um dos novos recrutas, utilizando-se do tratamento errado para se dirigir ao superior.
– Shhh! – Silêncio! – Ordenou Arstan, quase que sussurrando. Então todos pararam de falar. Estava a observar cuidadosamente o ambiente ao redor do grupo. Um silêncio completo se seguiu após isto, perturbado apenas pelo som do vento contra a vegetação e o nitrido dos cavalos.
– Algo errado, Senhor Marechal? – Perguntou o Coronel Varymir, o mais baixo que pôde. – Parece tudo quieto.
– Justamente isso, está tudo quieto... Quieto até demais.
Aconteceu tudo muito rápido, então. Após se ouvir a aproximação dos sons de galhos secos sendo quebrados sob pés, o recruta que havia se dirigido a Arstan foi atingido na lateral do crânio por um projétil que veio do nada, fazendo com que ele instantaneamente caísse sem vida de sua montaria. Quando os demais olharam sobressaltados para o corpo na terra molhada, viram que havia um machado fincado em sua têmpora. Logo estavam a rodopiar para fora das árvores e dos arbustos outros tipos de lâminas de arremesso. Uma delas foi em direção a outro recruta, que teve sua montaria atingida na coxa, o animal empinou relinchando em dor e saiu em disparada mata adentro, derrubando seu condutor no processo. Mais um machado atingiu um dos cavaleiros do Grande Templo, mas sua armadura o protegeu. Da vegetação estavam a emergir os responsáveis pelo ataque surpresa. Vários homens, vestidos com peles de animais e roupas sujas feitas de trapos costurados. Tinham em maioria pele morena e profundos olhos azuis. Armavam-se com machados, punhais, foices e lanças rudimentares. Naares.
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Fardos de Batalha (Em Andamento)
FantasyA jornada contida neste escrito se passa em Eingsfyre, o país que detém para si o poderio militar dos reinos do ocidente. Embora ainda sendo um reino, o domínio deste não está contido nas mãos de seu monarca, mas sim nas da Igreja, pois foi esta que...