O grupo havia aproveitado até a última luz do sol de outono para avançarem. Antes da claridade da tarde se desvanecer do mundo, dando lugar à escuridão da noite, um camponês de idade pediu, ou melhor, implorou para que levassem seu neto para servir ao Exército Sagrado. Em consideração para com a insistência do velho, o Marechal Arstan parou o avanço e deu uma oportunidade ao garoto, que não devia ter mais de dezesseis anos. Um integrante da Ordem entregou a espada curta de torneio a ele, em seguida um escudo. O jovem vestiu uma gibão de couro que estava sobrando e por fim colocou um elmo sobre os cabelos castanhos. Na hora de chamar pelo seu oponente, Arstan convocou Artoges. Uma vez que ele aparentemente havia se tornado o novo melhor guerreiro daquele grupo, era sua a tarefa de testar os novos recrutas em potencial. Quando desmontou do cavalo e se pôs na frente do garoto, o mesmo limpou a garganta ao olhar de baixo para cima no rosto do adversário, que estava quase com pena do pobre rapaz. Quando ofereceram sua cota de malha e armadura leve de couro fervido, fez um leve aceno com a mão e disse que só precisaria da sua espada de torneio. Quando Arstan autorizou o confronto, o rapaz avançou primeiro, e tentou acertar o inimigo diretamente com a espada curta. Em um rápido movimento, Artoges removeu a arma do oponente com a sua, acidentalmente quebrando a mão do garoto no processo. O coitado caiu no chão gritando de dor logo em seguida.
– Pobre diabo... – Pensou Artoges. Nunca antes na vida havia derrotado um oponente tão rápidamente.
– O... O... O que você fez?! – Perguntou o velho, após correr a socorro em direção ao neto, que choramingava encolhido ao solo.
– Sinto muito, senhor, mas um garoto que nem sabe empunhar direito uma espada sem saber dos riscos que corre ao desferir um golpe não é capacitado o suficiente para entrar no Exército Sagrado. Agora devolva o equipamento para podermos seguir caminho. Já perdemos muito tempo aqui. – Explicou Arstan.
Após despirem o jovem do equipamento de combate, seguiram percurso após o papelão de duelo do mesmo. Logo teriam que encerrar o dia de viagem, pois a noite já havia dominado o nublado céu acima. Em um ponto do trajeto, Swan se aproximou de Artoges e tentou dialogar com o sujeito mais calado da turma.
– Aquela foi rápida. – Elogiou. Até o momento, o recruta havia apenas trocado palavras com os outros convocados da guarda bálmana, e ainda assim falou pouco. Não parecia nutrir grande empatia por aquela nova companhia com a qual andava, mesmo após já terem percorrido juntos longos dias de viagem.
– Arh... Os camponeses deviam saber de coisas como estas... Um garoto que apenas viveu de arar a terra e dar comida a cavalos e bois não pode dar um bom guerreiro.
– Uhm... Talvez seja verdade. Mas eu conheço homens da Ordem que já foram camponeses antes de aderirem à causa, camponeses e coisas mais pobres ainda. O próprio Grande Mestre um dia também foi um pacato eremita.
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Fardos de Batalha (Em Andamento)
FantasyA jornada contida neste escrito se passa em Eingsfyre, o país que detém para si o poderio militar dos reinos do ocidente. Embora ainda sendo um reino, o domínio deste não está contido nas mãos de seu monarca, mas sim nas da Igreja, pois foi esta que...