As ondas de água salgada avançavam e recuavam ritmicamente pela areia da praia, tornando-a molhada em marcas ondulantes, desenhadas na sua superfície, que seguiam por vários e vários quilômetros além da rochosa costa noroeste de Heartfall. Uma série de pegadas estava sendo deixada naquele terreno úmido e arenoso, dois pares delas seguiam lado a lado por uma boa distância até que as menores marcas de pés descalços à direita subitamente paravam de serem deixadas para trás. Mais à frente encontravam-se os responsáveis por aquela trilha, um homenzarrão estava a carregar uma mulher sentada aos seus ombros, não demonstrava esforço nem desequilíbrio, mesmo por a ter transportado durante boa parte do percurso e por carregar uma cesta aparentemente pesada na mão esquerda. Com a mão direita, segurava o tornozelo da jovem, que tinha as pernas apoiadas ao seu peitoral, para evitar que se desequilibrasse.
– Creio que já fomos bem longe, não acha? Eu já devo estar te cansando, você quer parar? – Perguntou a moça, que tinha as madeixas presas por uma bandana vermelha acima da testa, evitando que seus fios atrapalhassem sua visão ao esvoaçarem com o sopro da maresia.
– Hmm... Só mais um pouco, e pode relaxar que você é quase uma pena repousada sobre minhas costas... Acho que devia comer um pouco mais, você não está pesando muito além do que o escudo com o qual eu treino. – Observou o musculoso sujeito de escuros cabelos curtos que a carregava. Vestia-se naquele dia com um claro calção amarronzado de tecido razoavelmente espesso e uma simples camiseta escura. Trajes leves para tentar amenizar os efeitos daquele clima escaldante.
– Eu como bastante, seu idiota! Eu somente não consigo engordar... Mas eu realmente acho que devíamos parar por aqui, não aguento mais esse sol.
– Só mais alguns metros. Está vendo aqueles coqueiros ali? Aquela é nossa parada.
– Nossa! Eles ainda estão muito longe. – Admitiu em desânimo a mirar ao horizonte, semicerrando os olhos.
– Bem, ao menos que você queira torrar ao sol, teremos que andar mais um pouco para encontrarmos alguma sombra.
– Haha... É, você tem razão. – Assentiu, ao curvar-se para beijar-lhe a testa.
Após mais um bom tempo de caminhada, eles finalmente encontraram um bom local para acamparem. Artoges tirou da cesta um longo tapete bege, que usou para cobrir o chão arenoso, logo abaixo da sombra de um grande coqueiro. Antes de poder se sentar, certificou-se de que a planta não estava dando frutos. Já ouvira histórias de pessoas que morreram da inesperada queda de um coco em suas cabeças enquanto descansavam despreocupadas à sombra da árvore.
– Arhh... Droga... Seu trapézio é duro! – Reclamou a senhorita Aurunvax, enquanto se espreguiçava a massagear a parte traseira das coxas, vestia um roupão branco de tecido rendado a cobrir uma curta saia vermelha e uma leve camiseta branca.
– Meu o quê? – Indagou, confuso.
– ... Esses músculos que ligam seus ombros ao pescoço. – Explicou apontando, da maneira mais simples e com um sorriso aos lábios, após lembrar-se da escassez de termos linguísticos do namorado. Aquilo a divertia de certa forma, embora aquela não fosse sua língua natal ela ainda dominava suas variações melhor que o parceiro, ao menos em algo como aquilo ela tinha que o superar, pensava.
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Fardos de Batalha (Em Andamento)
FantasyA jornada contida neste escrito se passa em Eingsfyre, o país que detém para si o poderio militar dos reinos do ocidente. Embora ainda sendo um reino, o domínio deste não está contido nas mãos de seu monarca, mas sim nas da Igreja, pois foi esta que...