A jornada contida neste escrito se passa em Eingsfyre, o país que detém para si o poderio militar dos reinos do ocidente. Embora ainda sendo um reino, o domínio deste não está contido nas mãos de seu monarca, mas sim nas da Igreja, pois foi esta que...
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Sol já se escondia por detrás das montanhas quando ele alcançou as extensivas florestas de Aghnor, estas fariam grande parte da sua jornada para fora do país. A cobertura das sombras das árvores seria uma grande aliada à sua rota de fugitivo, saindo vivo delas, só lhe restaria uma parada para atravessar antes de chegar à cidade portuária de Balmon. Prosseguiu por entre as altas árvores até o anoitecer, coletou um pouco de pura água cristalina em uma fonte natural dentro de uma gruta e acendeu uma pequena fogueira, para afastar o frio e animais selvagens. Não era muito sábio assar ou cozinhar comida por ali, predadores perigosos se escondiam naquelas florestas, por isso teve de se contentar com um pouco de carne seca que comprara no mercado de Tallor. Encostou-se à dobra côncava das emergentes raízes de um alto carvalho frondoso e de lá ficou encarando a fogueira com a guarda da espada repousada sobre seu ombro. Detestava o fogo, até naquela ocasião em que estava apenas a proporcionar-lhe proteção. As maiores desgraças que surgiram em sua vida pareciam sempre estar ligadas às chamas. Abriu a palma de sua mão direita e observou por uns instantes a esbranquiçada cicatriz que carregava em seu centro, suspirou ao fechar os dedos novamente, tentando parar de pensar no assunto que aquilo trazia à tona e voltou a encarar a madeira a crepitar pelo calor do fogo. Assim permaneceu por um bom tempo, meditando acerca do passado e do futuro. Ficou imóvel até o sono começar a forçar suas pálpebras abaixo. Já estava começando a perder as contas de quantos dias havia se mantido foragido, mas podia chutar que já ultrapassara por pouco os dois meses. O tempo que precisaria gastar para atravessar aquela maldita floresta também não lhe animava. Seu cabelo não recebera um corte durante todo aquele tempo, os fios desgrenhados já começavam a alcançar o nível dos seus olhos, também não arranjara tempo para aparar sua barba e bigode, que se tornavam cada vez mais volumosos.
A noite foi longa, quase não conseguiu dormir, quando o começava a fazer, acabava acordando sobressaltado com os barulhos vindos da mata. Fora as criaturas que se esgueiravam pelas sombras da noite, aquela floresta era conhecida por abrigar um famigerado clã nômade de caçadores foras da lei que se aproveitavam de viajantes perdidos. Acordou-se três ou quatro vezes próximo ao amanhecer, em duas delas, podia jurar que vislumbrara alguém se esgueirando pelas sombras. Na última vez que despertou, assustou uma raposa que se aproximava para tentar capturar restos de sua comida, a descoberta do pequeno e curioso animal o tranquilizou um pouco.
Então já amanhecia. A fogueira havia se apagado não muito tempo atrás, empacotou suas coisas dentro da bolsa e seguiu caminho. Em certos pontos do percurso encontrou rastros mornos de pessoas. Pegadas, galhos retorcidos, dejetos e coisas do tipo. Quando chegou a uma clareira à beira de um córrego, viu que havia uma fogueira ainda fumegando ali. Encontrou mais duas não muito longe, a quantidade de pegadas distribuídas no solo úmido ao redor do local indicava que no mínimo oito pessoas haviam acampado por ali. Não estava sozinho por aquelas partes, daquilo tinha certeza. Continuava a caminhada quando de repente avistou a silhueta de uma pessoa à distância, estava parada em frente a uma bifurcação do riacho, na direção em que suas águas seguiam. Teve de se esconder por trás das árvores às pressas e esperar que o sujeito retomasse seu caminho sem olhar para trás, notou que ele vestia armadura, o que induzia-lhe a pensar que não se tratava de um fora da lei qualquer. Quando a misteriosa figura se foi, pôs-se a seguir seus passos, que eram abafados pelo som da correnteza do riacho que se alargava conforme percorria sua pedregosa margem. Infelizmente, perdeu o rastro do desconhecido no cascalho ao ter de atravessar o fluxo de água que se tornava largo e mais veloz à frente, deixando aos poucos de ser um riacho, virando um rio de correnteza forte conforme se juntava a outros regatos.
