Os veículos com a equipe de produção se retiraram da casa antes da chegada dos participantes, como fora previsto. Tomaram o caminho de terra por onde muitos passariam e, para a surpresa dos dois apresentadores, se detiveram em um ponto a poucos minutos dali, momento no qual os homens saíram e arrastaram alguns troncos para fora, para então todos quatro carros passarem para uma estrada secundaria irregular. Tomaram o cuidado de voltar a posição inicial que o encontraram.
O olhar nervoso que trocaram ambos apresentadores soava como uma pergunta muda, algo ignorado completamente. E, no final das contas, nada que se comparasse a cara no chão que ficariam assim que os carros começassem a descer um conjunto de cavernas e os homens revelarem um alçapão. Em nenhuma linha do contrato dizia que o centro de operações era um bunker.
O lugar era muito amplo e completamente aparelhado. A maior parte da equipe já tinha seus lugares, então coube apenas aos apresentadores se instalarem.
— Se a gente não tiver um retorno, com certeza Forreta está falido. – Jaqueline ironizou, embora estivesse também admirada com tudo que os olhos abarcavam. – Vocês conseguem ver tudo daqui?
— É por aí... – Começou Damião, um dos técnicos de vídeo – Está vendo estas belezuras aqui? – Indicou alguns dos grandes monitores gigantes próximos. Estavam apagados, mas a um mero toque:
— Os quartos, salão principal, academia, banheiros... É, privacidade realmente não é nosso forte.
Ambos trocaram sorrisos, Lucas se aproximou. Incomodado.
— Jaque? Você não quer dar uma voltinha por aí?
Damião tornou a voltar sua atenção para o teclado e os aparelhos de sonorização e imagem. Jaque lhe deu um aceno de mão que não foi visto. Retirou-se.
— Ei garotão, é impressão minha ou aquele pedaço de mal caminho gostou do staff?
— Poxa Caruso, não enche o saco, vai.
O roteirista júnior fez um cafuné no colega e o puxou de canto:
— Com tanta gatinha para assistir no telão e você busca justamente a queridinha do amiguinho do chefe? Puta burrice, heim.
— Já disse... não enche. Por que você não volta para seu roteiro, heim? Seu trabalhinho deve ser bem fácil. Só tem que escrever umas besteiras.
Se tinha uma coisa que podia atingir Caruso era justamente aquilo, diminuir o seu trabalho. Como roteirista ele simplesmente se sentia como um general em meio a um campo de batalha e, embora não admitisse, via aos demais como soldados dispostos a ir para a linha de frente tomar um tiro. Mas era ele e seu núcleo que tinham a chave para dominar o inimigo.
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Watch-Pad: O reality show de papel
General FictionPara escapar da falência, a emissora (in)Certa decide lançar um reality show exótico que promete agitar o país. Participantes exóticas, uma mansão comprada a preço de banana, um farol que permite acessar a outra dimensão e um grupo de peças de um qu...