Decididamente, aquele monte de palavras era um grande poço de bosta, essa era a analogia mais obvia que passava na cabeça de Midas (nome falso – pensou) toda vez que repassava o script na cabeça e se dava conta de que era um fracasso total. Ele era o sobrevivente numa piscina de bosta, lutando para pelo menos manter a cabeça – e com sorte a boca – bem acima do cocô, e o pior era que ele próprio estava cagando e tinha medo de uma hora não conseguir se segurar.
— Puta que pariu! – Deixou escapar, assim que Aline afundou na piscina, era decididamente a pá de cal que faltava para enterrar a sua noite.
— Will? Lu? Mid? Socorro!!! – Ela gritava. E então ele entendeu por que Aline não tinha um script, ela era um script vivo. Uma atuação de qualquer pornô amador feito às presas e ainda assim ela conseguira roubar a cena.
Samantha e Kasten riam, e ele, que achava que finalmente tinha conseguido falar aquilo que entalou na garganta: que não era o pervertido que Kasten julgava que fosse – teve que novamente se voltar pra rapariga com os seios que pareciam boiar acima d'água.
Rápido, o diretor jogou uma toalha, ao passo que ele estava estacado, revivendo tudo como uma grande rebobinada da fita cassete com o filme velho. Tudo lhe passou muito rápido, desde o momento que a Alfa o chamou, os contatos com a (in)Certa, o rápido treinamento em atuação e aquela designação. Era assessor de imprensa? Enfim, era qualquer coisa, nem lembrava mais e aquilo pouco importava. Será que a pobreza bateu tão forte a ponto de estar ali, em rede nacional, vendendo a imagem de um porco tarado? Ok, ok, ele queria pegar Samantha ou Kasten, mas suas tentativas devem ter sido desprezíveis, só pode, ou Kasten não estaria dizendo aquilo pra si e...
— Que droga! – O grito de Aline, já enrolada na toalha, o tirou do transe, e ele correu para acolhê-la assim que o diretor saiu, como quem foge após pisar no formigueiro.
"E lá vamos nós" – pensou – e achegou-se junto a loira, erguendo-a e cruzando o batente da porta. Podia jurar que ela deu língua e mostrou o dedo do meio para as duas garotas que outrora decoravam a varanda e cruzou a entrada principal da casa com destino ao piso superior.
Aline andava diante dele ameaçando vez ou outra deixar a toalha cair, era uma espécie de tomara que caia em que a dona literalmente torcia por isto. Não que não fosse lucrativo para ele se aquilo acontecesse, porém se ver como o pedaço de carne a ser usado o incomodava...
— Pronto! – Aline empacou diante de uma porta – Estica o dedo e enfia aqui!
Midas, cujo nome real era Fernando, se assustou e corou. Ficou tão vermelho quanto o cabelo, então a loira – sorrindo maliciosamente – apontou o local para colocar as digitais.
— Você conhece as regras: Dois entram, e dois saem.
Sim, droga, os quartos vips obrigavam que duas pessoas entrassem e validassem com a digital. Só poderiam sair juntas também. Aline o fitava ansiosa:
— Calma, eu não vou te devorar – ela provocou, tocando-o no queixo – talvez só tirar uma lasquinha, ok?
Ele sorri, contrafeito, e coloca o dedo no orifício destinado a validação. Pouco depois que ambos pressionaram os respectivos pontos, a luz eu era vermelha se tornou verde e após um clic a porta se abriu. Aline entrou deixando a toalha cair como a bolsa de valores num dia péssimo. Ela torcia para que algo nele subisse como o dólar, mas se tinha uma coisa que não ia rolar mesmo era se deitar com uma bêbada desesperada.
— Não precisava desse showzinho, né? – Reclamou, deixando a porta fechar-se atrás de si.
Midas tenta censurá-la com a toalha diante das câmeras, mas é inútil. O brilho da lua se deleita nos seios fartos da moça transmitindo-lhe mais pureza do que aquela que realmente detinha.
— Você ficou com aquelas duas vadias... Aff...
— É, e você com alguém? Bêbada assim, creio que não...
Que ultraje. Aline não permitiria aquilo. Como assim? Vasculhava a mente para encontrar a desculpa perfeita para a seca, mas seus neurônios já escassos estavam tão embriagados quanto ela:
— Aí, vai, me beija... me beija... – apelou, dengosa, insinuando-se contra o peito musculoso do colega.
— Não vem, não vem – ele resiste, abrindo um espaço entre ambos.
Despeito.
— Ai para, vai! – Ela berra batendo contra uma peça de decoração que se espatifa no chão – vai me dizer que isto não te interessa, vai? – Ela tinha a mão de Midas em cima do seu seio esquerdo, e não, não era pra ele sentir o coração dela pulsar...
— Isso me interessa, mas não aqui, não agora, nem com você! – E retirou a mão, olhando tentadoramente para a porta.
Ela não ia deixar mesmo.
Rápida como uma macaca ensandecida, Aline se pendurou no pescoço do rapaz e começou a escalá-lo. Uma perna rapidamente passando pelo pescoço, enquanto a mão o prendia pelo braço direito na tentativa de desestabilizá-lo em direção a cama.
— Me pega! Me pega! Me beija, vai! – Gritava, à medida que as unhas se cravavam nele como se fosse um poste escorregadio.
— Mano, você é louca meu! – Ele finalmente soltou, assim que conseguiu fazê-la deixá-lo – Você precisa disso? Precisa? Entenda. Eu não te desejo, entendeu? Eu só desejo isso aqui – disse num gesto que a abarcava do pescoço até os joelhos. — Isso e só! Só! Entendeu?
Aline emudeceu. Os neurônios não conseguiam processar completamente a mensagem, mas Midas estava irrefreável:
— Sou cachorro, ok. Sou safado, ok. Mas não sou canalha e você não está em condições pra nada além de tomar um banho de água quente e se desintoxicar. Entende?
Midas se dirige para a cômoda e compara o relógio de pulso com o que está sobre o criado mudo. Ela finalmente recupera a voz:
— Espera aí, o que você está fazendo?
— Sincronizando-os. Vamos, você tem 5 minutos antes que eu vaze desse quarto. Acho bom se arrumar rápido, sim?
Completamente contrariada, a loira se arrasta em direção ao cômodo com chuveiro. Temia que o closet tivesse uma roupa beata demais para si. Midas permaneceu em silêncio sentado na cama, com o queixo afundado na palma da própria mão, pensativo.
Do lado de fora, dois outros se encaminhavam para o quarto VIP lateral. Ele pôde ouvir as vozes: Jaqueline Melindrosa e Lucas Perito, os dois apresentadores, ao seu ver iam ter uma festinha particular. Sentiu certa inveja, e até conjecturou o que fariam. Mal sabia que, nem em seus pensamentos mais criativos, poderia supor. Até porque, se soubesse, literalmente no subsolo àquela hora.
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Watch-Pad: O reality show de papel
General FictionPara escapar da falência, a emissora (in)Certa decide lançar um reality show exótico que promete agitar o país. Participantes exóticas, uma mansão comprada a preço de banana, um farol que permite acessar a outra dimensão e um grupo de peças de um qu...