Capítulo #24 - A mais pura maldade

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O céu era um tapete negro completamente apinhado de pequenas gotas de luz

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O céu era um tapete negro completamente apinhado de pequenas gotas de luz. Qualquer um que olhasse do chão, poderia dizer que dava para ir de uma até a outra em um só pulo, mas a verdade é que as distâncias eram bem maiores do que uma mera linha reta que qualquer criança inocente pudesse traçar com os dedos, e isto, o regente sabia muito bem. Perdido na janela mais alta da mansão alfa, seus olhos profundos e abissais olhavam com aparente nostalgia do lar, mas que ninguém se enganasse: era apatia.

O regente era o que era: superior. E ao seu ver nada poderia mudar isto. A humanidade era a pequena criança a ser domada, o filhote de elefante a ser preso em uma árvore desde pequeno, e aquilo tinha muito a ver com a sua missão civilizatória: equalizar todos em um nível abaixo do seu: trazê-los a luz da sua inferioridade. Afinal: Como podia um povo tão imperfeito como aquele ousar partir rumo ao profundo do universo, pisarem na nave que seu povo estacionou a milhares de anos ao lado do planeta terra, terem a audácia de nomeá-la como lua, terem o ultraje de crer, cultuar Deuses, amar, desenvolver aquela coisa interna dentro de si: emoções... emoções... noções de próximo... amor... arrependimento...

Um projeto civilizatório, uma limpeza pura, uma equalização. Um Deus absoluto, ou não? A purificação vinha como um vírus, uma fraqueza que os humanos absorviam sem nem se dar conta: a batalha tinha que ser ganha no campo mental, a entrega silenciosa. Bárbaros como eram, seria uma gigantesca economia de recursos e trabalho, pois no final das contas, seriam melhores servos entendendo a mensagem: há castas, há inferiores, há superiores, e as emoções são as fraquezas que impedem que a humanidade seja o que poderia ser: uma máquina biológica perfeita.

Em cada canto do mundo a purificação ocorria: livros, filmes, religiões, teorias, escolas, opiniões. E em cada parte havia um regente, cada um vindo de um mesmo ponto do infinito após terem civilizado tantos povos que os primatas homo sapiens sequer podiam imaginar. O regente lembra-se de rir quando descobriu o que eram Hubble e Cassine. Os terráqueos eram tão inferiores que sequer notavam que seu próprio mundo era uma face de dimensões distintas..., Mas pensando bem, pra que? Pra que lhes seria útil isso se no final o único caminho era a completa purificação? Ele tinha que cumprir o seu mandato: mostrar a humanidade o seu próprio caos, era como diriam alguns: vender o remédio da pandemia criada por si próprio...

Quando o regente tirou seus dedos pálidos e quase gelatinosos da janela mais alta do grande casarão, sua pele sem pelos foi despida do grande capuz branco que comumente utilizava. Sua narina quase não tinha qualquer protuberância e a boca bem mais lembrava uma linha. Mais alto que os demais, mantinha o rosto a maior parte do tempo oculto sob o grande capuz, sua voz ribombava enquanto pronunciava tudo que aprendera muito rapidamente. A verdade era que seu corpo poderia se moldar muito semelhantemente a forma dos seus hospedeiros estúpidos. Incrivelmente tinham uma grande capacidade reprodutora, algo que garantiria toda a perpetuação de uma espécie mais preparada no futuro. Mas havia ainda os ratos... havia os destoantes... os divergentes... a escuridão...

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