Depois de cair na piscina da primeira festa do reality show da emissora onde trabalhava, terminando semi-nua diante das câmeras, arruinar a curta carreira com um barraco ao vivo com a irmã de um dos participantes, virar même e ainda ter berrado com o próprio manda-chuva da (in)certa dizendo que iria se demitir, Aline se jogara em uma poltrona do apartamento que tinha alugado num bairro padrãozinho enquanto os dois neurônios que ainda funcionavam lhe diziam que talvez estivesse cagado tudo...
Se terminasse mesmo saindo da emissora, que faria para pagar os credores que nem mais cabiam na caderneta? Era deprimente, mas nem o investimento em bolsa que fez ao longo dos últimos anos resultou, não entendia por que falavam tanto em bolsa, bolsa, e suas Luis Vitton caríssimas não lhe atraiam mais notas. O limite do cartão começara a ser cortado pelos bancos, e ela ficava se imaginando se teria que finalmente tomar corotes, mais baratos, e manter as garrafas de vinho apenas para as fotos do instagram, ainda que vazias. Se brincar, pensou, faria sucos de pó e tiraria as fotografias à distância pra soar mais real a coisa toda.
Abriu o notebook e começou a deslizar os olhos pelos inúmeros e-mails de spam, foi quando os olhos se deprararam com o contato de:
− Alana?! – Repetiu para si mesma, levando as mãos à boca.
Receber um e-mail de alguém que não fosse algum dos parentes pedindo dinheiro, sem sequer saber como ela estava se sentindo, ou que não fosse um dos inúmeros spams das lojas onde se afundava em dívidas era tão surreal quanto ver um alienígena ou zumbi.
−Vamos fazer um encontrão da galera do colégio estrelas de luz, você vem com a gente? – repetiu – a Lucy vai também, não é o máximo?
Sim. Era o maximo. Os dedos finos e brancos tremiam no ar, ela sabia que tinha e deveria responder, só não sabia como. Não queria parecer uma desesperada que se junta em qualquer buteco de esquina com gente que não tem poder ou influência, mas a verdade é que tudo o que mais precisava e ansiava era ter pessoas com as quais teve alguma ligação na vida, pessoas para pelo menos lhe darem um abraço e livrá-la daquela sua sina de ser tão vazia... era uma coisa louca, a garotinha sem atenção dos pais que tinha enjaulada dentro de si, a mesma que se colocava em situações tão humilhantes só para ter migalhas de atenção, pega de saia curta diante de uma reposta que podia ser tão simples: sim.
A insegurança lhe consumia como uma matéria escura universal, indetectável a olho nú e nem por isto inexistente. Como estariam todos? Como reagiriam a ela? Serás e mais Serás até que finalmente respondeu que embora estivesse sempre muito ocupada e cheia de jobs, ela daria uma "passadinha".
Correu para o banheiro e foi logo ligando a ducha... enquanto a água caia pelo corpo, ficava se perguntando se o chefe tinha realmente levado a sério seu ataque histerico pedindo a conta. E se ele realmente acreditasse? Será que ela ainda teria direito a uma rescisão?
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Watch-Pad: O reality show de papel
Ficción GeneralPara escapar da falência, a emissora (in)Certa decide lançar um reality show exótico que promete agitar o país. Participantes exóticas, uma mansão comprada a preço de banana, um farol que permite acessar a outra dimensão e um grupo de peças de um qu...