"É somente em meio a escuridão que se tem consciência da luz" – A frase foi repetida umas duas vezes, quase como se fosse uma reza aleatória, por aquela mulher do outro lado do telefone. Era mais uma vez ela, e sua mente foi novamente sugada para aquele primeiro encontro no dia em que conversou com Adam Forreta. Do fundo da mina, Perito se sentia seguro para falar, mal sabia que as paredes daquela caverna também tinham seus ouvidos, e eram justamente os ouvidos dos confinados.
− Eu acabei de receber a confirmação, vão desativar o Chris! – Ele conversava com a voz do outro lado. E embora sentisse que a notícia não fosse exatamente uma surpresa, havia impaciência e urgência naquela voz.
− Eu sei, mas o que não é arriscado? Sim, a Jaque estava comigo quando fomos destruir os vídeos, eu não sei por que insiste tanto em implicar com ela... – Ele continuava interagindo, sendo pontualmente interrompido e tendo que se justificar com melhor ou pior humor:
− Dane-se o Caruso! Eu não acho que ele suspeitou de algo, bem... pra ser sincero, eu não sei, mas enfim. Está cada vez mais difícil sobreviver às escondidas neste circo de reality, mas eu começo a pensar que talvez... ok, ok, talvez esteja certa... talvez eles sejam os seus sete.
Houve um intervalo mais considerável de silêncio por parte de Lucas, a mulher o repreendia e metros acima os integrantes da casa, bisbilhotando, já estavam mais calados do que um corpo morto no chão. Will, Akya e Kasten entreolhavam-se como quem ganhara na loteria: ali estava Lucas Perito, escondido no fundo de uma mina, falando com alguém e revelando que os podres poderiam ir além do que pensavam até então. Calaram-se como corujas, olhos e ouvidos ligados e corpos quase petrificados por um momento. Todos cumplices do eco que denunciava o conluio de Perito e alguém mais. Mas, quem?
− Não, eu não sei o quanto posso confiar na Jaque, não sei o quanto posso confiar nem mesmo em... – Por um momento Lucas se deteve: "em mim mesmo", ele iria dizer, mas a língua travou como uma transação de cartão de crédito que não foi autorizada. Não que ele tivesse "errado a senha", apenas não tinha crédito mesmo.
Perito ouvia a voz e ia respondendo, mas a grande verdade é que ele sequer sabia o nome real da interlocutora. De repente lhe ocorreu a ideia de que ele próprio poderia ser um daqueles ratinhos colocados em um labirinto para chegar ao queijo que alguém toda hora mudava de lugar para confundi-lo.
− Eu não nego a escuridão! – Retrucou, sem estar plenamente convencido das próprias palavras, ou seja, já poderia se candidatar ou presidir um partido político. A primeira vez que se viram, foi no Hotel Montemor, nas cercanias da capital.
Lucas estava lá após seguir aquela mensagem anônima que insistentemente lhe enviaram. Clichê? Bom... era quase um: "eu sei o que você fez no verão passado" misturado com "você só tem 7 dias". Ele até a ignorou por um tempo, mas então começou a ficar mais sério, ou como ele mesmo preferia dizer: ameaçador, quase estorcivo.
"O que você conseguiu com a morte de seu pai biológico? Sua mãe não teria qualquer orgulho disso, mas 'nós' sabemos a verdade, não é mesmo? Hotel Montemor – no quinto assento do bar principal. Vai ter um grande evento lá, seu convite vai estar dentro do banheiro ao lado da recepção do hotel às 19:15. Sua vida já está de cabeça para baixo mesmo, só não a torne pior. - Tempestade".
− Eu entendo que é o único modo, mas quer que eu faça o que? Que eu saia gritando: "Ei, vejam só, temos uma I.A e sim quase um semi-deus em uma mansão, que não é só um casarão reformado e sim um portal do qual eu sou o guardião?". Iriam me internar na mesma hora. Sorte que o Caruso com este lance de scripts acertou. O público é tipo feto, engole qualquer coisa sem distinguir se é doce ou amargo.
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Watch-Pad: O reality show de papel
Ficción GeneralPara escapar da falência, a emissora (in)Certa decide lançar um reality show exótico que promete agitar o país. Participantes exóticas, uma mansão comprada a preço de banana, um farol que permite acessar a outra dimensão e um grupo de peças de um qu...