"Os inferiores merecem ser subjugados para ressaltar e salvaguardar sua inferioridade nata". - O iluminado, como era nomeado o regente de turno, recitou.
Foi seguido em oníssono por todos os demais seguidores:
"Os inferiores são culpados até que comprovem inocência."
E o regente seguia:
"Órfãos da Nobre cor da nossa pele, deficientes no geral, pessoas fora da curva moral..."
Era a deixa pra o séquito:
"Os inferiores são um câncer mortal!" - E a partir daí o discurso era entoado por dois grandes grupos:
"E devem ser purificados!"
"E devem ser sacrificados!""E devem ser filtrados!"
Todo o salão era branco, alvíssimo em sua totalidade: mobília, piso, objetos. As únicas flores disponíveis eram da mesma cor. Não haviam rosas nem lírios que não o fossem. Tudo para representar a pureza. Era uma sala oval tendo no regente sua figura mais importante. Ele (sempre um homem) ficava no ponto mais alto e oposto aos demais. Dali para baixo, haviam vários níveis (andares) vazados como uma galeria que dava de frente para os telões que ficavam andares abaixo do regente.
O átrio onde estavam concentrados era composto por vários andares como uma grande galeria, no ponto mais alto estava o regente, se não fossem os dois telões, as pessoas na parte inferior não poderiam vê-lo. no segundo andar estavam os chamados "pensadores", por serem homens eles tinham maior relevância em seus cargos, algo que todos ali viam com naturalidade, como sempre fizeram os antigos. Em um segundo plano ficavam as mulheres, também chamadas "subalternas". Elas tinham cargos acessórios e no geral deviam sempre anunciar tudo aquilo em que pensaram de impuro, ou mesmo o que de contestável lhes fosse atribuído.
Um nível inferior era composto pelos "purificados". "Pessoas" que foram livres das emoções, desejos, vontades, opiniões, e tudo o mais que fosse julgado como uma fraqueza. Os purificados eram pessoas que optaram compulsoriamente pela nova ordem. Por serem extremamente fieis, poderiam desempenhar alguns papeis de contato externo sempre que julgados aptos para tal. Também eram as cobaias de quaisquer experimentos e introduções de aperfeiçoamento. Eles eram o modelo para uma futura sociedade consciente.
Um nível abaixo estavam alguns homens (ou mesmo mulheres) que tinham abandonado a escuridão, mas via de regra, não podiam ter cargos e privilégios, eram conhecidos como "sombras" e tinham que cumprir papel dos "fracos" quando estes estavam exaustos, bem como espionar aqueles e denunciar compulsoriamente pelo menos um secundário por semana para o ritual da limpeza.
No último nível estavam os "fracos". Via de regra além de ter que confessar suas impurezas natas, eles tinham que estar sempre passando por uma bateria de verificações de lealdade, e não podiam opinar ou ter voto. Apenas aceitar sua condição irrelevante. Também tinham o dever moral de servir a todos puros que deles precisassem, sem reclamar, sem hesitar e sem receber qualquer compensação que não sua aceitação no ambiente. Os "fracos" viviam um eterno processo de aceitação, e assim como os "sombras" não podiam se considerar em hipótese alguma purificados. Eles eram conhecidos como "fracos", e eram capturados e dados como "teoricamente úteis" durante o filtro. Obviamente, não podiam ter contato com livros de nenhuma espécie, nem a pessoas de fora do clã.
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Watch-Pad: O reality show de papel
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