Ten.

355 43 11
                                    

Suas palavras ecoaram na minha mente e eu não conseguia formar uma frase para responde-lo.

Todas as coisas que sucederam para a noite de hoje foram vividas por mim Lauren, e não por Vicky.

Vicky era uma personagem que não deveria ter sentimentos, muito diferente da Lauren, que está a ponto de perder a virgindade com um garoto que nem ao menos sabe o seu nome verdadeiro.

— E então? — Ele voltou a perguntar. Mas dessa vez já estava de cueca e sentado ao meu lado. Fechei as pernas e me sentei também, me cobrindo com o travesseiro que estava na minha cabeça.

— Eu... — Comecei a gaguejar — Eu... Bem... Sim.

A expressão de Zabdiel mudou da água para o vinho. Ele não parecia irritado, só não tinha mais aquele desejo no olhar de alguns minutos atrás. Não sabia dizer o que tinha acontecido.

Estava me sentindo extremamente desconfortável por estar apenas de calcinha e sutiã e tentava me cobrir o máximo possível, mas era dificil por ter apenas um travesseiro.

Abaixei o olhar e fiquei olhando a cicatriz em meu joelho de quando eu era criança. As coisas eram mais fáceis e eu não precisava me sentir assim. Não estava me sentindo usada e nem nada do tipo, só não entendia qual era o grande problema para ele eu ainda ser virgem. Fiquei sabendo que a maioria dos caras até gostam.

— Vicky? — Ele me chamou e eu ergui o olhar — Veste a minha camiseta. Ou as suas roupas, se você preferir.

Peguei a camiseta preta que ele me estendeu e me ajoelhei na cama para a vestir. Pelo visto a noite não iria acabar do jeito que eu pensei. Respirei fundo e voltei a olhar para Zabdiel. Ele estava vestindo uma calça de moletom chumbo e ainda estava sem camisa.

— Posso te perguntar por que você é acompanhante sendo virgem? — Senti uma pontada no meu estomago porque ninguém nunca me perguntou isso. Porque ninguém sabia — Não que ser acompanhante seja isso, sabe... Não foi isso que eu quis dizer.

Percebi que ele estava sem graça e parte de mim quis sorrir, mas não o fiz.

— Eu sei que não — Tirei algumas mechas do meu cabelo e respirei fundo — É muito óbvio o motivo, Zabdiel. Pelo dinheiro.

— Mesmo assim — Ele insistiu — Você é muito bonita, de verdade. Você é gostosa pra porr... — Ele fingiu uma tosse — Quer dizer, bem bonita. — Percebi ele sorrindo por um segundo — E tem esse ar inocente que deixa qualquer um louco...

Fiquei em silêncio e percebi que ele ainda me encarava. Minha respiração estava acelerada, igual a de uma criança que acabou de ser pega fazendo algo errado. Não que eu esteja errada ou esteja fazendo algo errado, mas a sensação era essa. Respirei fundo de novo e permiti fazer contato visual com ele. Seu cabelo estava bagunçado e a calça de moletom vestida de qualquer jeito o deixavam com um ar sexy.

— Se você me conhecesse há alguns meses atrás não pensaria isso. Você me vê com essas roupas justas e curtas e então me acha bonita, mas não é bem assim que eu sou. Gosto de me vestir assim e isso é bem surpreendente pra mim, mas não é quem eu sou, sabe?! — Falei sem pensar e ele continuava me ouvindo — As coisas na minha casa... Elas são bem difíceis. Moro com minha mãe e meu irmão mais novo. As coisas pioraram quando meu padrasto surtou e ameaçou bater na minha mãe. Entrei na frente e ameacei chamar a polícia. Ele foi embora. Eu acho. Pelo menos por agora.

— Calma, Vicky. — Ele se sentou ao meu lado e colocou uma das mãos na minha coxa — Respira. Você não precisa contar se não quiser.

— Acho que preciso contar isso para alguém — Puxei a camisa que estava usando um pouco mais para baixo e isso fez com que ele tirasse a mão da minha perna — Depois que ele foi embora, a gente se viu em um precipício e a unica saída era assaltarmos um banco ou algo do tipo. Eu não conseguia emprego em lugar nenhum por não ter experiência. Por sorte, Bruce me deu uma chance e logo no meu primeiro dia conheci a... — Ia dizer o nome verdadeiro dela, mas lembrei que nenhum dos meninos sabiam — Amber. E então ela me contou sobre como ela conseguia ganhar uma boa grana sendo acompanhante.

Ele estava prestando atenção em tudo que eu dizia. Contar tudo isso à ele foi como tirar um peso enorme dos meus ombros. Pelo menos alguém sabia de toda a verdade. Mesmo que esse alguém fosse Zabdiel e ele provavelmente não daria a minima para tudo isso.

A quem eu quero enganar? Zabdiel é lindo, rico e famoso. Não teria sentido ele abraçar os problemas de uma garota complicada e ferrada pela vida.

— Acho melhor eu te levar para casa.

Ouvi sua voz e mesmo assim foi como se eu não tivesse entendido o que aquelas palavras significavam. Fechei os olhos por algum tempo e senti algumas lágrimas escorrendo. As limpei rapidamente para que ele não percebesse.

Ficou bem claro o que ele quis dizer. Entendi isso depois de um tempo já dentro do carro no caminho para casa. Vesti minhas roupas tão depressa que minha saia estava do lado ao contrário, mas nem isso ele reparou. Ou fingiu não reparar.

Avisei que ele poderia me deixar no bar e de lá eu pegaria um ônibus para voltar para casa. Ele insistiu — a única vez que conversamos dentro do carro — e disse que não iria me deixar na rua em plena madrugada. Foi só nesse momento que olhei para o painel do carro e o horário me assustou.

Três da manhã.

Se minha mãe me visse chegando em casa com essas roupas iria surtar. Abaixei a cabeça e tentei encontrar uma solução e a única coisa que passava pela minha cabeça era como eu queria ser outra pessoa nesse exato momento, sem todas as bagagens que carrego. Talvez, só talvez, se eu fosse assim Zabdiel poderia realmente se interessar por mim. Ou qualquer outro garoto decente.

— É aqui? — Ele questionou estacionando o carro em frente a uma casa abandonada.

Suspirei e levantei a cabeça para me certificar que tínhamos chego no endereço certo.
A casa rachada e com a pintura descascando indicavam que eu tinha chego em casa. Tentei abrir a porta do carro, mas estava trancada.

Olhei para Zabdiel e ele estava tateando os bolsos. Ah não, isso não.

— Não — Disse séria — Eu não quero seu dinheiro.

— Vicky... — Ele tentou argumentar — Você foi uma acompanhante essa noite. Logo, preciso te pagar.

— Eu já disse que não! — Disse em um tom mais alto e senti algumas lágrimas escorrerem de novo — Me deixa sair desse carro e me esquece, Zabdiel. Por favor, esquece tudo o que eu te disse. Se algum dia nos vermos de novo, caso você vá no bar ou algo do tipo, finge que eu não estou lá. Tenho certeza que não vai ser difícil pra você.

Alguns segundos depois e ouvi o barulho da porta sendo destrancada. Ele nem ao menos me respondeu quando abri a porta e a fechei com uma força maior do que eu queria.

Parte de mim ainda tinha a esperança de que ele sairia do carro gritando meu nome e implorando para que eu o ouvisse. Ele diria que tinha sido um idiota e que eu era especial.
Nos beijaríamos enquanto alguns pingos de chuva iriam começar a cair sobre nós.

Infelizmente tudo isso não passava de mais um delírio.

O que aconteceu na verdade foi muito diferente. Subi as escadas na mesma rapidez que as lágrimas escorriam por meu rosto. Já não fazia mais questão de limpa-las. Abri a porta tentando fazer o máximo de silêncio. Corri até o banheiro e quando me olhei no espelho vi toda a maquiagem borrada e meus olhos vermelhos de tanto chorar. Lavei meu rosto e tentei tirar todos os resquícios dessa noite, mas era impossível já que meu pensamento me torturava e me fazia lembrar das mãos de Zabdiel por todo o meu corpo.

Abri a porta do banheiro silenciosamente e fui em direção ao quarto que divido com meu irmão. Percebi que ele continua dormindo e pela primeira vez em horas me sinto um pouco feliz. Tirei as roupas de Eve e as coloco dentro de uma sacola de papel para devolve-las amanhã. Visto um pijama qualquer e me deito na cama. Cubro minha cabeça com o cobertor e afundo meu rosto no travesseiro, me permitindo chorar até pegar no sono.

Close Your Eyes.Where stories live. Discover now