A minha cabeça naquele momento doía e minha única preocupação era Zabdiel. Clara e os dois seguranças haviam subido até nosso apartamento, onde puderam ver toda a bagunça que ali havia.
Zabdiel estava inquieto. Andava de um lado para outro enquanto eu e Clara conversávamos e mal prestava atenção quando falávamos com ele.
—Isso não pode ficar assim ! -ele disparou, furioso.- Me diz que você já entrou em contato com algum advogado ?
—Sim, claro que sim ! -Clara respondeu.- Hoje mesmo ele irá atrás de todos os papéis para resolver isso.
—Menos mal então... -suspirei.
Aquilo estava me esgotando.
—Eu quero sair daqui, desse apartamento. -Zabdiel disse se sentando e passando as mãos em seus cabelos.- Não consigo ficar aqui.
Já era de se imaginar, Zabdiel era reservado demais. Ninguém nunca sabia exatamente dizer o que ele sentia, ninguém nunca tinha visto seu lado frágil, ninguém além de mim.
Ninguém nunca havia invadido seu espaço e aquilo o perturbava.
Eu e Clara assentimos, e no momento seguinte,
ela já buscava por um novo apartamento que agradasse os gostos de Zabdiel. Eu não me importava por qual lugar seria, eu só queria o bem da pessoa ao meu lado.Eu estava sentada no braço do sofá, fazendo com que eu ficasse mais alta que o corpo de Zabdiel sentado. O puxei para perto, beijando sua cabeça assim que ele se aninhou em meu abraço. Aquilo não deveria estar acontecendo, não com a gente, não com ele.
{...}
Já se passavam 11h quando Clara entregou as chaves do apartamento que ela havia encontrado. Era em um prédio caro e bem movimentado, diferente de onde eu estava morando com Zabdiel. Quatro seguranças foram contratados para nossa segurança, dois que ficariam na entrada do prédio e dois em nossa porta.
Em todos esses anos de relacionamento, nunca imaginei que nossos dias fossem passar a ser controlados por seguranças. Não até à noite passada.
—Não é como o outro, mas foi o mais aconchegante que encontrei, sei como o conforto é importante para você... -Clara disse para Zabdiel.- E você, cuida dele por favor. Sei que não preciso pedir isso e confio muito em você, mas toda atenção agora é pouco.
Assenti, dando um sorriso de canto completamente sincero. Ela caminhou até Zabdiel e o abraçou e em seguida me abraçou também. Caminhou até a porta e assim que terminou de dar as recomendações fechei.
Expliquei para Zabdiel que nossos pertences chegariam até o final do dia. Uma equipe havia sido contratada para fazer a mudança, já que saímos o mais rápido possível do apartamento. Ele ouvia tudo atentamente e assim que terminou, respirou fundo.
—Me desculpa. -foi a única coisa que consegui dizer.- Isso não deveria estar acontecendo.
—Você não tem culpa. -ele disse calmo, apesar de tudo.- Aquele inútil não deveria ter voltado. Me promete que vai se cuidar ? Que vai me dizer sempre onde está ?
Assenti e caminhei até ele, me aninhando delicadamente entre seus braços. O capuz ainda cobria seu rosto, eu sabia o quanto aquilo havia o machucado. Não só fisicamente, mas psicologicamente também.
—Vamos tomar um banho uhu? Estamos cansados e precisamos descansar um pouco.
—Mas não temos nada além de nossas malas aqui. -ele disse olhando ao redor.
—Uma mulher previnida é tudo, meu amor. -respondi caminhando até minha mala de mão e abrindo-a, onde havia um shampoo e um sabonete líquido e também uma toalha.- Isso quebra um galho... Vamos ?
Ele riu, balançando a cabeça de um lado para o outro, andando pelo apartamento até achar o banheiro.
Apesar de tantos anos terem se passado, aquele banho era diferente. Ajudei Zabdiel a se desfazer da roupa que estava usando e aguentei cada resmungo por estar doendo. Seu corpo estava dolorido, imagino eu.
Ele esperou com que eu entrasse para entrar logo em seguida. A água quente tocou seu rosto e imediatamente ele recuou. Em seu rosto percebi que aquilo seria difícil. Com toda calma do mundo, esperei seu tempo e o ajudei com o banho. Limpei delicadamente o machucado em seu rosto e aproveitei o abraço que aconteceu antes de sairmos do box.
Sai enrolada na toalha até minha mala, pegando somente meu pijama e uma cueca, na mala de Zabdiel. Nos vestimos e o ajudei a se deitar na cama, aquilo estava me partindo aos poucos.
Fiquei deitada ali com ele, fazendo carinho em seus cabelos até que ele caísse no sono. Ali mesmo, me permiti chorar.
Depois de tantos anos, depois de tudo que se passou, Steve decidiu voltar para me atormentar. Provavelmente teria ido atrás de minha mãe e felizmente não a encontrou, assim, decidiu vir atrás de mim.
Não era difícil encontrar meu endereço, já que nunca é segredo onde um artista mora. Mas o que ninguém imaginava era que ele seria tão baixo ao ponto de invadir nosso apartamento.
Ouvi meu celular tocar e corri atender, não queria que aquele som acordasse Zabdiel. Ao ver o nome de minha mãe no visor, meu corpo todo se arrepiou. Atendi.
—Filha ? Ainda está na linha ?
—Sim mãe. -respondi minutos depois, soltando todo o ar que não sabia que estava preso em meus pulmões.
—Tá tudo bem ? -seu tom de voz agora era preocupado.- Aconteceu alguma coisa ?
Pensei um tempo antes de dizer. Ela precisava saber, ela precisava ter todo o cuidado que eu e Zabdiel não tivemos.
—Steve. -a ouvi do outro lado da linha, começando a se desesperar.- Mãe, respira, eu tô bem. Zabdiel fez com que ele fosse embora, mas existem complicações.
—Ele fez algo com vocês ? Eu odeio esse homem. -percebi que ela havia começado a chorar.- Como ele encontrou vocês ?
—Mãe, isso não importa, ok ? Eu estou bem, Zabdiel está se recuperando e estamos sob bons olhos. Tudo o que eu peço é que tenha cuidado, mais do que sei que a senhora tem. Esse homem é baixo e vai fazer de tudo pra conseguir o que quer, mas não vou deixar que isso afete vocês dois. Vamos dar um jeito nisso, eu vou dar um jeito.
—Filha, por favor, se cuida. -ela respirava fundo.- Eu não sei o que faria sem você e Thomas. Cuida bem do Zabdiel, não sei o que aconteceu, mas sei que não deve estar sendo fácil.
—Amo você mãe.
{...}
A equipe de mudança havia trazido literalmente todas as coisas do apartamento antigo. Deixei com que eles arrumassem em seus devidos lugares, mas bloquiei qualquer acesso ao quarto onde Zabdiel dormia. Ali eu me virava depois.
Eu buscava fazer algo rápido para que eu pudesse comer um pouco já que não havia comido nada o dia inteiro, quando ouvi passos lentos. Ao me virar, encontrei Zabdiel só de cueca caminhando até a cozinha.
—Tô morrendo de fome. -ele disse se sentando ao balcão.
—Estou preparando algo, tem algum pedido especial ?
—Me dá um beijo ?
Caminhei até ele e iniciei um beijo lento e calmo. Ao desgrudar nossas bocas, percebi que ele me encarava.
—A imagem daquele homem indo em sua direção não sai da minha cabeça, meu sangue ferve só de lembrar...-ele dizia e tentei dizer algo. -Você não precisa dizer nada, só fica aqui comigo. Eu amo você Lauren e não sei o que faria se algo tivesse acontecido com você. Eu não vou deixar com que ele faça mal algum com você.
Algumas lágrimas rolaram pelo meu rosto. Ele não estava preocupado se havia se machucado ou não. Suas palavras eram tudo o que eu precisava ouvir naquele momento.
—Eu te amo, Zabdiel, obrigada... -respirei fundo e me aninhei em seus braços.- Por tudo.
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Close Your Eyes.
RomanceLauren, uma jovem do subúrbio de Miami, se vê sem saída ao precisar de dinheiro e começa a trabalhar em um bar da região. O que ela não sabia é que o seu lugar de trabalho iria servir como ponte para algo maior, algo que a faria ganhar muito mais d...