Twenty Six.

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Margô me contou que trabalhava na biblioteca da faculdade há trinta e cinco anos. Era viúva, tinha um filho, mas ele morava em outro estado, então passava a maior parte do tempo ali.

— A senhora precisa encontrar alguém pra te ajudar com tudo isso. — Falei descendo da escada. Tinha subido para pegar um livro que ela tinha me dito ser necessário para uma estudante de Direito.

— Uma menina costumava de ajudar, mas ela desistiu do curso. — Explicou — Mas pensando nisso...

A olhei sem entender, e ela continuou me encarando. Eu segurava os livros no braço como se fossem um bebê.

— Percebi o seu zelo e admiração pela leitura. Não sei se você precisa trabalhar, meu anjo, mas se precisar, seria maravilhoso que você trabalhasse aqui.

Antes que eu pudesse responder, ela continuou.

— O salário não é muito, admito, porque você só trabalhará cinco horas por dia. Mas você consegue o desconto de cinquenta por cento do valor do seu curso. — Explicou — Você pode pensar se quiser, é claro.

Em meus pensamentos, comecei a pensar nos pontos positivos e negativos. Só consegui ver os positivos. Com a minha relação com Zabdiel mudando, não teria sentido ele me pagar por isso. Eu estava sendo sincera, tendo sentimentos sinceros. Não receberia dinheiro por isso. E eu teria que conseguir um trabalho o quanto antes possível, para pagar a faculdade e me manter.

— Não preciso pensar, dona Margô. Eu aceito, é claro! Esse trabalho parece ter caído do céu.

Ela me abraçou, daqueles abraços que parecem ser familiares. Com a minha mãe longe, fazia tempo que não sentia isso.

— Quem caiu do céu foi você, Lauren. — Respondeu, dando dois tapinhas no meu rosto carinhosamente.

Decidimos os detalhes, quando começaria, qual seria meu horário, e meu salário. Fomos no financeiro e já assinamos outro contrato, mas dessa vez de trabalho. Saí de lá totalmente feliz, sentindo que pela primeira na vida tudo estava caminhando muito bem. Eu tinha Zabdiel, que me apoiava, era carinhoso e demonstrava gostar de mim. Iria começar a faculdade em alguns dias, o curso que eu sempre almejei. Minha mãe e irmão, mesmo longe, estavam bem de vida, se virando como conseguiam, tendo uma vida melhor. E agora esse trabalho. Não existia nada que pudesse me tirar essa felicidade.

Voltei para a casa de Zabdiel de táxi, como na ida. Chegando no apartamento, encontrei ele jogado no sofá, com alguns papéis cobrindo seu rosto. Ao me ouvir chegar, dirigiu o olhar a mim e sorriu.

Caminhei até o sofá, me abaixando e dando um selinho em seus lábios. Ele se sentou, dando lugar para que eu ficasse ao seu lado.

— O que é isso? — Apontei para os papéis, que agora estavam na mesinha ao lado do sofá.

— Uma música nova. — Respondeu, me entregando os papéis.

Passei o olho por cima tentando ler tudo. Estava escrito com lápis, com alguns borrões e palavras rabiscadas. Mesmo assim, as palavras se encaixavam, davam sentido uma para a outra.

— Foi... você quem escreveu? — Perguntei receosa. A letra falava sobre encontrar uma pessoa que não estava esperando, que não sabia que precisava.

— Foi. — Disse normalmente — A banda precisava de uma música nova, então comecei a escrever hoje.

— Hoje? — Repeti, demonstrando surpresa em minha voz — Você escreveu ela hoje?

— Sim, Lauren — Respondeu achando graça, cutucando minha cintura e me fazendo cosquinhas — Por que o espanto?

— Não sabia que você compunha. Achei incrível, de verdade. Mal posso esperar para ouvi-la.

Close Your Eyes.Where stories live. Discover now