ENCONTRE-ME - OS LOBOS (LIVRO 1)

CAPÍTULO 1

Daley Hill é considerada a menor cidade da América do Norte, e para o caos total do nosso país, é denominada "cidade da estranheza", bom, Wyoming tem tido problemas em relação a isso.

Em contrapartida, sou feliz aqui, embora não tenha muitos jovens e diversão, somos todos unidos. Talvez a pior parte seja o nosso toque de recolher às dez da noite, o que é estúpido, afinal, se existem criaturas famintas por aí, elas podem nos devorar sobre a luz do sol se assim quiserem.

Os ataques de animais têm chamado atenção de todos, corpos pálidos em destroços jogados à montanha foram encontrados em alta escala durante os três últimos meses. É horripilante, príncipalmente depois de ouvirmos tantas estórias de seres sobrenaturais. Eu não acredito completamente, mas nunca deixei de considerar a hipótese, afinal, todos consideram.

— Senhorita Clark! — Hunter sorri de um jeito quase maquiavélico,  despertando-me dos meus rabiscos no livro de história.

A turma toda deposita seus olhares em mim, como se aquele fosse o momento mais interessante da aula. Apenas ergui as sobrancelhas.

— Que tal citar pontos marcantes sobre a Guerra de Secessão em 1861?! — pediu de forma triunfal sabendo exatamente minha resposta.

Apertei os lábios e ergui os ombros, causando em Hunter uma espécie de poder a mais.

— Infelizmente eu já previa. —  murmurou, causando alguns risos nos colegas.

Lucy me cutucou pelos ombros e me fez virar para ela.

— Já se deu conta do quanto nosso querido professor te adora? — questiona entre risos.

Apenas reviro os olhos, porque sei exatamente o quanto ele me "adora". Basicamente começou com o fim de um relacionamento entre ele e minha tia. Parece que Hunter nunca superou, por outro lado, tia Eliza não pareceu se preocupar em seguir em frente.

O sinal tocou, libertando-nos da nossa "tortura diária", e eu quase saí correndo dali, se não fosse por um pequeno e detestável empecilho: Harry Carson.

— Clark, como sempre atropelando pessoas. — murmura com sua expressão irritante de "rei da selva."

Harry é o tipo de garoto popular cobiçado por líderes de torcida e reverenciado pelo time estúpido de basquete. Ele tem olhos castanhos, pele clara e um cabelo escuro mal arrumado, mas a simples palavra pateta, já é o bastante para defini-lo.

— Seria mais fácil se você não entrasse no meu caminho. — repliquei, deixando evidente, como sempre, minha falta de entusiasmo por estar diante dele.

— Sempre com uma resposta na ponta da língua! —  continuou. — É até irritante. Talvez seja o mais irritante em você. — completa, apertando os olhos ao me analisar.

Nós nunca fomos do tipo amigos ou colegas. Na verdade me lembro de quando Harry destruía minhas brincadeiras, ou desfazia minhas tranças na infância. Desenvolvi por ele um ódio tremendo, talvez maior do que o que ele sente por mim.

Bufo baixinho, desviando de seu corpo insignificante, e, ao respirar profundamente entre os corredores, acabo me recompondo.

— Sessão extra de terror na minha casa às oito! — Dylan surge com seu sorriso empolgado e olhos castanhos cintilantes.

Dylan é meu melhor amigo barra irmão do Harry. Considero esse o único ponto negativo da nossa amizade.

— O que aconteceu com a nossa sessão extra de domingo? — questiono curiosa, ao fechar meu armário.

Dylan coloca as mãos nos bolsos e olha ao seu redor antes de me responder.

—  Harry vai dar uma festa em casa no domingo. — Revira os olhos.

— Por quê? — Franzo a testa. — Achei que as festas sempre seriam às sextas.

Sempre foram. Até agora!!

— Não pergunte a mim, não dá para negociar nada com o Harry. Essa é a desvantagem de ser o mais novo.

Dylan tem razão, quando Harry decide algo, ele sempre consegue.

— E como posso ter a garantia de que ele não vai aparecer por lá na sexta? —  Cruzo os braços.

— Ele vai para a casa do lago.

— Dos Gibson?

— Sim!!

Os Gibson são os gémeos ricos do colégio, eu os invejo um bocado... Todos invejam.

— Sessão marcada! — Ele sorri empolgado. — Eu levo os salgadinhos e você cuida do filme e do refrigerante.

— Combinado...

— Só, por favor, nada de lobisomens desta vez. — peço quase como súplica, dando meus primeiros passos rumo à saída.

Dylan me acompanha, e, com seu silêncio repentino, fez-me ter a certeza de que nosso filme de terror de sexta tem a ver com lobisomens.

— Ah não, Dylan!

— Esse é incrível, você vai adorar. Eu li a sinopse, e é horripilante demais.

Dylan é fissurado por lobos, é um aspecto estranho dele, inclusive vive alimentando esperanças de que um dia irá se deparar com um desses caras que se transformam na lua cheia. É esquisito, mas depois de um tempo desisti de tentar entender.

Nosso trajeto de volta para casa é sempre juntos, Dylan mora a duas ruas daqui e sempre me deixa na porta de casa antes de continuar seu trajeto. Nossa amizade é saudável e duradoura, desde pequenos somos melhores amigos e selamos nossa amizade com um toque de mãos especial e único nosso, debaixo da casa da árvore da senhora Billy, minha vizinha.

Assim que chego em casa, eu me deparo com o bilhete de Dona Eliza, deixado na porta da geladeira.

"Chegarei depois das nove, prometo trazer chocolates"

Ela nunca traz.

Eliza tem encontros basicamente todos os dias, sempre com caras misteriosos. Eu quase pareço a pessoa mais sensata da casa, considerando que a maior parte da semana fico sozinha esperando a tal "responsável" voltar.

Após tomar um banho, sentei-me no sofá, pronta a assistir meu programa de dança favorito. Mas para minha surpresa, o jornal tomou os dois primeiros minutos do programa até agora.

"O corpo de Jace Sullivan, o homem de trinta anos desaparecido há duas semanas foi encontrado nas montanhas do lado norte de Daley Hill, a família se recusa a falar com a imprensa."... " Com isto chegamos ao segundo ataque de animais deste mês"

Senti meu corpo congelar com a notícia, Jace era um dos amigos de Eliza, estudaram juntos nos últimos anos escolares e às vezes se divertiam por aí. Eu o conhecia, ele parecia ser um rapaz legal.

Só me pergunto; Que tipo de animal brutal é esse que nos cerca?

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