Não foi fácil contar tudo para Eliza e depois ouvir seu sermão de tia durona. Precisei entregar o único bilhete ao qual eu havia guardado para a polícia, assim como Dylan. O sr. Carson não gostou de saber sobre o que havíamos escondido e, boa parte do tempo na delegacia, ele passou tomando goles e goles de café.
— Não acha que seu pai vai acabar tendo um ataque de cafeína? — Franzo o cenho.
— Ele toma muito café sempre que fica nervoso. Eu já estou acostumado. — Ergueu os ombros. — E os pés da sua tia parecem querer se desprender da perna!! — Aponta para a mulher claramente impaciente com as pernas cruzadas, balançando um dos seus pés.
— É, digamos que ela também está um pouquinho nervosa. — digo, baixinho.
Um dos policiais saiu de uma das portas do fundo e veio até nossos responsáveis. Dylan e eu caminhamos para mais perto, e seu pai jogou o último copo de café que segurava. Tia Liza, por um instante, me pareceu desconfortável com a presença de um dos seus antigos amores ali tão próximo a ela, mas é como se tentasse lutar contra qualquer demonstração de sentimento. Poderia estar enganada, mas o pai do Dylan parecia se sentir da mesma forma.
— Desculpem pela demora! O suspeito foi intimado para comparecer amanhã no primeiro horário do dia. Vamos averiguar o caso, mas está tudo arquivado...
— Como assim, teremos que esperar? Eu quero este homem aqui, agora!! — Michael Carson estava claramente no seu limite, seus olhos exalavam raiva assim como em sua própria voz.
— Espera, Michael! — Eliza tentou usar seu tom apaziguador, enquanto tocava o ombro dele. O sr. Carson se calou, trincando o maxilar e apertando os próprios dedos. — Por favor, policial. Não existe a possibilidade de Hunter comparecer ainda hoje?
— Lamento muito senhora, mas o que podemos fazer é aguardar até amanhã, fiquem tranquilos... — Correu seus olhos por todos nós. — Tomaremos as devidas medidas para puni-lo, e ficarão a par de toda a situação!!
Apertei a mão de Dylan, um tanto preocupada com a possibilidade das coisas não saírem como o planejado, ele me lançou um olhar calmo que me fez repensar todos os sentimentos dentro de mim. Precisavamos acreditar que estaremos livres de qualquer preocupação como essa em nossa cidade, eu precisava acreditar que tudo voltaria ao normal para poder dormir em paz.
(...)
No outro dia, Dylan e eu fomos juntos à escola como fazíamos antes, foi bom ter essa rotina de volta, mas também foi estranho ter que parar no meio do corredor e presenciar Stacey se pendurando nos ombros do Dylan, para beijá-lo na frente dos seus amigos. Jackson e sua turma sorriam de um jeito suspeito para os dois, mas eu tentei não me atentar muito às vozes de desconfiança que rondavam meus ouvidos. Prometi a Dylan que tentaria conviver em paz com sua namorada e eu não estava preparada para decepcioná-lo.
— Ah... oi, amiga do Dylan!! — Stacey me olhou dos pés a cabeça, com um sorriso forçado nos lábios.
Segurei a vontade de revirar os olhos e preparei um sorriso mais convincente para ela. Dylan nos olhava contente como se houvesse alcançado uma das metas da sua vida.
— Ahn, oi, Stacey! Me chamo Alice, você deve ter esquecido. — digo, com um sorriso meio torto.
— Hm, deve ser. — Deu de ombros, sem se importar comigo, e puxou Dylan pelo braço. — Amor, eu preciso te mostrar uma coisa...
Dylan deixou um dos seus pés no lugar e me olhou meio sem jeito.
— Tudo bem, a gente se vê depois. — Deixo meu sorriso ainda evidente.
Dylan resmungou um "valeu" baixinho e saiu colocando o braço em volta do pescoço da Stacey.
Assisti todas as aulas e quase infartei com a prova surpresa da aula de matemática, eu claramente não estava preparada e tenho certeza que isso refletirá em minhas notas. Espero que tia Liza possa ser compreensiva comigo.
Fiquei o tempo todo atenta a tudo e descobri que Hunter não havia comparecido ao trabalho naquele dia, o que possivelmente quer dizer que está na delegacia. Espero que ele tenha problemas e que pague por cada noite de sono mal dormida que tive.
Na hora da saída não encontrei Dylan, o que me fez seguir sozinha andando pela rua. Cheguei em casa e comi o último pedaço da pizza que havia restado em minha geladeira. Tomei um banho de vários minutos, desfrutando de cada pingo de água que caia. Vesti um short jeans e uma camiseta branca e me joguei no sofá, ligando a TV.
Ouvi a campainha tocar e corri para a porta, encontrando Dylan com as mãos no bolso e um sorriso amplo nos lábios. Eu senti tanta falta dessa cena.
— Você já soube?
Fechei a porta e me sentei ao lado dele, no sofá.
— Soube o quê? — questionei, abaixando o volume do filme.
— O Hunter não pode chegar perto de nós e nem lecionar em colégio algum. Além de tudo, vai ter que pagar uma quantia alta...
— Ele não vai ser preso? — A essa altura eu já me sentia desapontada.
— Não é tão simples assim, Lice. Mas a mansão já está sendo vendida e ouvi boatos de que ele vai sair da cidade.
— Então ele não pode mais mandar bilhetes ou assustar a gente?
— Não, Lice. — respondeu, ouvindo-me respirar aliviada. — Agora só precisamos encontrar uma forma de avisar o Harry. Acha que ele pode voltar em breve? Sei lá, talvez tenha alguma pista de como podemos falar com ele!!
Pensei sobre isso, mas não havia nada que pudesse me ajudar a contatá-lo.
— Acho que precisamos esperar que ele volte. — respondo, desapontando-o.
— Acha que ele pode demorar?
— Eu não faço ideia, seu irmão é imprevisível.
— Eu queria tanto conversar com ele... As coisas estão estranhas, mas eu não quero preocupar meu pai.
— Como assim?
Dylan ergue seus olhos caídos para mim, deixando-me preocupada.
— Eu tenho mudado ultimamente, tudo o que eu sinto parece mais intenso, principalmente a raiva. Eu me lembro de uma época em que o Harry parecia enfurecido com tudo, acho que ele pode me ajudar a entender essa fase. Seria mais simples se ele estivesse aqui. — Recostou sua cabeça no estofado.
— Prometo que quando ele aparecer, darei um jeito de te avisar. Daí deixarei que conversem a sós. Queria poder te ajudar de outra forma, mas eu sei que não posso.
— Já me ajuda muito o fato de estar do meu lado outra vez. — Virou seu rosto para mim. — Espero que não briguemos mais, foi a coisa mais chata que já aconteceu na minha vida. — Torceu o nariz e me fez rir.
— A coisa mais chata que já aconteceu na minha vida foi você. — provoco.
— Não me provoque, Lice. — Crispou os olhos. — Ou já esqueceu das consequências? — perguntou, com um sorriso suspeito nos lábios, aproximando-se de mim.
— Dylan... — digo, manhosa, arrastando-me para trás.
— Está fugindo por quê? — Dylan já estava próximo a mim, com as mãos preparadas.
Não consegui correr antes, então acabei sendo pega por suas cócegas que parecem infinitas. Eu detestava isso, mas ao mesmo tempo me deixava feliz saber que as coisas não haviam mudado entre nós.
Acho que nosso pacto de amigos para sempre continuava de pé.
___
Será que Hunter teve o que merece?
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ENCONTRE-ME - OS LOBOS (LIVRO 1)
LobisomemAlice Clark é uma garota cuja vida gira em torno de seus amigos, não havia nada de intenso em seu modo de agir, sua vida sempre fora monótona demais. Mas em uma noite tudo muda, quando Harry Carson decide partir, deixando nas mãos de Alice a missão...