CAPÍTULO 2

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A cada dia que passa, tenho a certeza de que; Daley Hill não é tão incrível como eu sempre achei que fosse. Talvez meus olhos estivessem fechados para os desastres que aqui ocorriam, ou, estamos passando por mudanças drásticas.

Não há nenhum morador deste lugar que possa dizer algum dia que nunca passou pelo sr. Soyer, ou foi interceptado por ele no meio da calçada com suas teorias malucas - ou não tão malucas -, sobre seres, metade-homem, metade-animal. Nunca ninguém soube reagir de outra forma, a não ser fingir acreditar completamente naquilo para poder sair do seu encalço o quanto antes. Pobre sr. Soyer, é sempre difícil acreditar nele. Ora! seu olhar esbugalhado e sua forma teatral de proferir as palavras, realmente causava dúvidas.

Assim que Dylan desliga seu carro, abro a porta ao meu lado, enquanto agarro a alça da minha mochila.

- Ufa!! É tão bom colocar os pés no chão! - provoquei, ao fechar a porta outra vez.

Dylan dá a volta e crispa os olhos sobre mim. Ele não é daquele tipo de motorista que realmente parece saber o que está fazendo na direção, não vou negar; ele é péssimo.

- Sabe, você não precisa vir de carro comigo se tem tanto medo assim! - retrucou.

- Hoje é segunda, aquele dia da preguiça... Não dá para vir até aqui andando. - Subo as escadas que nos levam a porta de entrada, ao lado de Dylan.

- São menos de dez minutos de caminhada, Alice! - disse, como se quisesse me lembrar.

- Eu sei, e por isso eu utilizo seus serviços! - Dou duas batidinhas em seu ombro só para vê-lo sorrir mesmo que contrariado.

- Deveria te colocar dentro do carro do Harry! Pouparia a mim todo o trabalho de tirar meu filho da garagem.

- Nunca mais diga isso! - Paro em sua frente, dramatizando. - E também - Volto a caminhar do seu lado. - não diga que o carro é seu filho, isso é estranho. - Torço o nariz.

Dylan encontra seu armário e o abre antes de me olhar outra vez.

- E quem me julga é a garota que carrega seus livros de romance os chamando de bebês! - debochou.

Ok! Eu faço isso mesmo. Mas não acho tão estranho.

- É diferente... - É só isso que consigo dizer em minha defesa, mesmo depois de tentar buscar algo a mais.

Dylan solta alguns risos baixos, balançando a cabeça em negativo. Quando me dou conta, Harry está atrás de nós, abraçado com sua namorada, Louis Hamilton, ela é a garota popular que sai balançando pompons junto ao seu grupo de torcida.

- Dylan, diga ao nosso pai que estarei na oficina e chegarei tarde.. - Ele me olha. - Olá cara de coelho, como vai? - provoca, fazendo-me explodir de nervos por dentro. Seu sorriso triunfante me faz ter certeza de que ele estava satisfeito por ter conseguido.

Cruzei os braços e encarei o outro canto do corredor para tentar não me importar tanto com a presença dele.

- Voltar tarde tipo...?

- Às dez! - responde apenas.

- Você sabe que ele não vai gostar, não é?! - insiste.

- Quando voltar eu me viro! - murmurou antes de sair.

Dylan bufou baixinho enquanto retirava seu livro do armário.

- Às vezes você parece o irmão mais velho. - comento ao vê-lo fechar seu armário.

- E eu me sinto assim!

Começamos a caminhar até nossa sala, química é uma das matérias que fazemos juntos, o que é bom, porque esse não é o meu forte, às vezes preciso de uma ajuda extra.

- Ouvi boatos de que o time vai se encontrar na reserva essa noite, acho que é tipo aquelas festas pecaminosas com fogueira e muito álcool.

Viro-me depressa para ele, que logo entende meu espanto.

- Eu sempre soube que eram burros, mas não tanto! - murmurei.

- Verdade!

- Aposto que a ideia foi do Harry, ele é o capitão, e por coincidência o cérebro dele é o menor do time todo. - desdenho e ouço Dylan gargalhar baixinho.

- Não me surpreenderia se fosse. Depois dos noticiários sobre as mortes, achei que no mínimo todos iriam manter distância.

- Bom, ouvi dizer que a área está interditada, talvez nem consigam passar.

- Se tiverem sorte, sim. Mas eles sempre conseguem o que querem, portanto... - Deixou o resto no ar enquanto erguia os ombros.

Boa parte da população estava amedrontada com as mortes por animais, e eu estou nesta parte. Ainda não foi descoberto, ou apenas não foi revelado a nós, com quais tipos de animais selvagens estão lidando, o que desperta muita curiosidade, mas não significa que alguns jovens bobalhões possam ir até lá tentar descobrir. E tenho a total certeza de que eles acham que podem.

Assim que o sinal tocou, saí da sala procurando por Dylan, afinal, eu não podia perder minha carona. Seria bem mais fácil se ele não se perdesse no meio de uma conversa boba de videogame com seus amigos nerds. Ainda no corredor, caminho olhando pelos lados. Ao sentir meu celular apitar em uma mensagem, desviei minha atenção para ele, e foi assim que fui ao chão.

Ergui meus olhos para o causador de tanto vexame, enquanto percebo todos em volta me observarem. Senti o coração acelerar com a súbita vontade de atacar Harry com minhas unhas.

Levantei-me, olhando para os lados com o pior semblante que podia, alguns fingiram que nada aconteceu, já outros, caminharam pelos corredores cochichando algo para seus amigos.

- Que droga, Harry!! - esbravejo.

- É o que acontece quando não olha por onde anda, Clark! - Harry se abaixa pegando meu livro. Ao me entregar, ergue as sobrancelhas percebendo que não tenho intenção de agradecer.

- Você poderia ter desviado! - retruquei, segurando o livro com os braços cruzados.

- É, eu poderia! - responde, fingindo demência. Reviro os olhos.

- E por que não fez? - Alterei meu tom de voz e vi formar um sorriso nos seus lábios.

- Não me deu vontade. Aliás, você não aprenderia a olhar por onde anda. Pelo menos agora você sabe! - Harry soltou uma piscadela idiota antes de sair e me deixar como uma estúpida, respirando profundamente na tentativa de não perder o controle.

Acho que nunca vão entender o quanto odeio esse garoto.

Talvez tenha começado com nossa infância cheia de brincadeiras bobas da parte dele. Talvez a pior tenha sido quando ele me jogou lama no vestido novo que Eliza tinha comprado para mim, e no final das contas, disse à ela que eu tive a ideia. Claro que minha tia ficou zangada, ainda mais se tratando de um vestido que eu nem deveria estar usando no momento, por isso, levei uma bronca e tanto, enquanto ele disfarçadamente me mostrava a língua.

Foram tantas provocações que já me perdi no meio das lembranças, sorte que Dylan sempre esteve ao meu lado. Ele sempre foi meu melhor amigo.

Encostei no carro do Dylan, esperando que ele aparecesse em algum momento, e enquanto isso, observava cada um presente no estacionamento.

As líderes de torcida praticamente se jogavam aos pés dos garotos do time, e Louis, como sempre, já estava pendurada no pescoço do Harry. Eles são o tipo de casal que te causa náuseas, e se acham perfeitos. Estavam tendo alguma conversa animada e aposto que estão comentando sobre os planos de hoje. Será que as garotas iriam? Bom, se fosse pelos garotos, acho que sim.

Em um momento qualquer, os olhos de Harry alcançaram os meus, ele soltou um daqueles risos cafajestes que não colam comigo, e em resposta apenas revirei os olhos e desviei minha atenção.

Algo naquele momento me fez ter uma sensação estranha no estômago, e não tinha nada a ver com o hamburguer que comi mais cedo. O dia estava quente demais e talvez eu estivesse ficando maluca com os neurónios fritando, mas podia sentir que algo de ruim aconteceria. E, céus, eu quero muito estar errada sobre isso.

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E aí, será que vai dar ruim?
Já deixou seu voto?

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