CAPÍTULO 30

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Caminho pelos corredores, ao lado de Dylan, que está empenhado em me contar sobre o encontro que teve na noite retrasada com a garota nova do colégio. Ele dizia o quanto ela é  linda, beijava bem e, ainda por cima, era inteligente. Eu apenas conseguia sorrir e dizer: Uau!

Paramos em frente ao meu armário, e Dylan bloqueou minha tentativa de abri-lo, segurando a porta com a mão.

- Alice Clark! Por que só eu estou falando? - Dylan me encara, analisando cada expressão que surge em meu rosto.

Umedeço os lábios enquanto tento arranjar uma explicação para o  meu comportamento.

Minha mente se tornou um embaraço sem fim com tantas suposições. E, o pior de tudo, era incluir Dylan no meio das minhas respostas inconclusivas.

- Porque hoje minha garganta está doendo! - respondo com rapidez.

- Você está escondendo alguma coisa de mim! Me diga o que é!

Dylan cruza os braços e me olha meio incomodado. Nunca fui de esconder coisas dele e, talvez, isso tenha o magoado um pouco. Mas não tanto quanto se ele soubesse o que venho imaginando a respeito dele e de sua família.

- Nada, eu só... estou tentando arranjar uma desculpa para não ir ao treino hoje! Pronto, falei!! - Tento usar meu tom teatral.

Dylan crispa os olhos sobre mim, permanecendo com os braços cruzados.

- Então, está inventando uma dor de garganta para faltar ao meu treino? Por quê?

Suspiro, segurando firme nas alças da minha mochila.

- Porque eu estou enjoada de ver o Matty todos os treinos me provocando! Aquele garoto é um chato inconveniente.

Dylan deixa alguns risos escaparem, e eu aproveito para soltar todo o ar que estava segurando.

- Eu vou conversar com ele sobre isso. Mas, ok! Deixo esse treino passar. Só não quero desculpas para a festa de sexta, ouviu bem?!

As benditas festas do último ano!

- Tudo bem, eu ouvi. 

- Ótimo! Vou procurar os garotos, a gente se vê no intervalo!

Dylan deixa o local depois de um sorriso amplo de satisfação. Eu me sentia tão mal com tudo que nem mesmo um sorriso simples se formava em meus lábios. Não só pela noite mal dormida, ou melhor — pelas noites —, mas sim por tudo o que li, por imaginar que talvez tenha alguém tentando nos alertar sobre o que vem acontecendo ao nosso redor, ou que talvez tenha uma pessoa incrivelmente maldosa tentando enlouquecer a população toda.

Deixo meu livro de literatura cair, e antes que eu o pegue, alguém mais rápido realiza o ato. Ergo meus olhos para Stewart que sorri de canto enquanto levantamos ao mesmo tempo.
Ele observa cada parte do meu rosto e seu sorriso acaba se desfazendo, deixando uma pequena ruga se formar no meio da testa.

- Aconteceu alguma coisa?

Nego, colocando meu livro de volta no armário. Stewart ainda me observa em cada movimento, deixando evidente que não acreditou muito.

- Engraçado... - ele começa, enquanto tranco a porta. - Se não aconteceu nada, por que essa cara de cansada em plena manhã? Sem mencionar as olheiras!

Engulo em seco e encaro meus próprios pés antes de olhá-lo outra vez. Stewart toca meu ombro.

- Vem, a gente pode conversar no gramado!

ENCONTRE-ME -  OS LOBOS (LIVRO 1) Onde histórias criam vida. Descubra agora