CAPÍTULO 5

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Ao entrar no quarto, eu me deparei com uma figura sentada na ponta da minha cama. Se não fosse pela mensagem, agora eu estaria gritando e jogando coisas, seria minha única reação de defesa pessoal. Harry parecia um fugitivo ou coisa assim, ele veste um casaco preto com uma touca na cabeça, e um óculos escuro.

O garoto balançava as pernas freneticamente até se dar conta de que eu estava por perto. Harry se levantou e me encarou por de trás dos óculos.

—  Deixar minha janela aberta não significa que você pode entrar sem ser convidado, sabia? — Jogo minha bolsa sobre a cama e me sento logo depois.

Algo estava estranho, ele não parecia o mesmo. Então, virou-se de costas para mim, com as mãos na cintura.

—  O que pegando, Harry?

De imediato, ele se virou outra vez para mim, seu rosto estava tão pálido. Levantei-me, chegando mais perto, então, Harry deu alguns passos para trás.

—  Eu vou deixar a cidade! —  soltou as palavras com pressa. Foi o suficiente para me paralisar.

—  Quê? — questiono confusa. —  Harry, você foi ao médico? Os ferimentos de ontem estão afetando você. Me deixe ver os seus machucados...   —  Fiz menção de me aproximar, mas ele ergueu as mãos na altura da sua barriga, como se quisesse fazer alguma barreira entre nós.

—  Não chegue perto de mim, Alice! Eu só vim te pedir que entregue isso ao meu pai e meu irmão. —  Retirou de seu bolso um papel dobrado, e me estendeu.

—  O que é isso? —  Franzo o cenho.

—  É complicado, Alice. —  Engoliu em seco e balançou a folha em suas mãos como se quisesse me apressar em pegá-la. — Pegue logo! —  esbravejou baixinho,  fazendo-me obedecê-lo.

Harry saiu em direção a janela, permaneci confusa e sem reação até meu cérebro funcionar outra vez. Eu não poderia deixá-lo ir. Para onde ele iria? Ou, como sobreviveria sendo tão tapado e desprovido de inteligência?

Peguei em seu braço antes de deixá-lo passar para a sacada. Harry me olhou e parecia enfurecido, mas não foi o suficiente para me fazer recuar.

—  Por que sair da cidade, Harry? Você ficou maluco? O que aconteceu com você? —  Eu me alterei um bocado, e então o garoto remexeu seu braço, desprendendo-o facilmente da minha mão.

—  Você não entenderia...

—  Foi pelo o que aconteceu noite passada? Seus amigos estão bem, eu os vi hoje mais cedo no colégio!

—  Eu disse que é complicado. Só...só entregue a droga da carta ao meu pai,  eu preciso ir, não tenho tempo para te explicar nada.

—  Então você vai embora e não tem coragem de se despedir da sua família? Do que você está fugindo? Você está usando drogas, Harry? — Tento retirar seus óculos, mas Harry é mais rápido e segura minha mão.

Sua pele está quente e seu rosto ganhou um tom mais avermelhado, seu aperto em minha mão me fez gemer baixinho, o que pareceu chamar sua atenção e o fez me soltar às pressas. Não pude entender nada do que acontecia, e nem sabia como faria para explicar tudo ao sr. Carson, mas não havia nada que eu pudesse fazer em relação a ida do Harry, ele parecia decidido demais e ninguém o seguraria.

—  Adeus, Clark! — Tudo no momento foi em câmera lenta, Harry me disse adeus, beijou minha testa e simplesmente saiu, pulando para fora.

Demorou alguns segundos para eu me mover, mas quando olhei para baixo, não havia mais ninguém a não ser o vizinho regando suas plantas. Meu coração se agitou de um jeito estranho, era como se eu tivesse culpa de tudo isso, como se eu pudesse ter feito algo para que ele ficasse, mas no momento nada me surgia na mente. Porém, agora é tarde, e eu sei que Harry não voltará atrás.

E sobre o beijo na testa... Tirei a conclusão de que algo está muito errado com Harry Carson!

(...)

Toquei a campainha da casa de Dylan e esperei, com as mãos suadas, carregando a carta de Harry, eu não me atrevi a ler, achei pessoal demais, mas talvez eles me deixem ler assim que acabarem.

A porta se abriu, revelando o sr. Carson vestido de social, sua roupa de trabalho, ele não me sorriu de forma sincera, e com o celular em mãos, ergueu as pontas dos lábios em cumprimento.

— Olá, Alice! Dylan está lá em cima, pode entrar!

Ele deu espaço para que eu entrasse, e assim fiz, porém, ao fechar a porta, continuei o encarando, tentando organizar o discurso que tinha montado no caminho. Achei mais sensato contar toda a verdade antes de entregar a carta, só não tinha certeza se eles me odiariam depois disso.

—  Aconteceu algo, menina? — questionou, com as sobrancelhas quase unidas.

—  Eu.. Eu preciso falar com você, sr. Carson!!

Ele pareceu um pouco surpreso, e os passos vindo da escada, chamaram a minha atenção.

—  Alice?! — Sorri fraco para ele, que pareceu surpreso em me ver. —  Deixei várias mensagens no seu celular, por que não me respondeu? — Cruzou os braços.

Precisei respirar fundo e encontrar a coragem dentro de mim, a que eu nem tinha, por sinal. Fiz os dois se sentarem, e caminhando de um lado para o outro, eu os expliquei tudo. Dylan tentou me interromper, mas não deixei, preferia que os xingamentos ficassem para depois. Afinal, eu escondi isso dele.

O sr. Carson estava claramente preocupado e um pouco agitado, foi então que eu estendi a carta para ele, que a pegou sem cerimónia alguma. Dylan esticou o corpo na tentativa de poder ler ao mesmo tempo tudo o que havia ali. Os olhos de seu pai foram tomados por um rio de lágrimas que me doeu no peito. Dylan, porém, esfregou as mãos no rosto, impaciente, e eu continuei parada no lugar, sem saber o que dizer. Depois de muito tempo de silêncio, a não ser pelas fungadas profundas do Sr. Carson, eu resolvi me retratar:

—  Espero que me desculpem... Ele disse para não contar a vocês sobre o que aconteceu naquela noite, e eu não contei porque ele disse que o faria no dia seguinte... — Os dois olharam para mim. — Eu não fazia ideia de que ele iria embora, e se eu pudesse, teria feito ele ficar, mas o Harry me pareceu muito decidido e estranho...

—  Estranho como? — O pai se levantou, secando as lágrimas perdidas em suas bochechas.

—  Ele parecia assustado com algo —   lembrei-me do seu jeito de se afastar de mim. —, e nervoso. —  Toquei minha mão onde Harry havia pego.

Também tinha aquela coisa de carinho em relação ao beijo na testa, mas creio que não seja relevante para o  momento.

— Eu preciso dar um jeito de encontrar esse garoto... Não é a primeira vez que ele some, mas ele me prometeu que não faria isso outra vez. — Carson parecia perdido em sua memória, enquanto passava as mãos no cabelo em seu ato de desespero.

— Ele vai aparecer, pai! — Dylan se levantou e tocou seu ombro. — É o Harry, só está querendo chamar a atenção por um tempo... Ele vai voltar... Vai sim.

Ele queria estar certo, porém, enxerguei  em seus olhos a incerteza...

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Muitas emoções 😍😍.
Essa semana irei me organizar para postar mais capítulos, é um presentinho meu para vocês!!
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