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Uma hora depois do ocorrido do banheiro, apareceu, como que do nada, um rapaz que aparentava ser também um morador de rua em busca da horda.

Tinha o rapaz em mãos uma garrafa de vinho barato e pães tão duros que Nazaré ao mordê-los lhe arrancou um dente.

O rapaz que parecia ter 18 anos. Era alto, branco e louro. Tinha uma aparência distinta e notava-se que, antes das ruas, vivia bem.

Rapidamente familiarizou e logo virou amigo de João Paulo. Como uma santa ceia invertida, comiam juntos o pão e o vinho enquanto conversavam sobre a vida nas ruas, as aventuras e, sobretudo, das drogas.

Naquela dissonante comunhão, o rapaz então contou sua história, mas pelo sentimento de abrir o coração e falar de sua dor e solidão.

Antes de descobrir as drogas, Gustavo (esse era seu verdadeiro nome) era apenas um adolescente de classe média alta e que morava com os pais num bairro nobre da cidade.

No último ano da escola, conheceu a cocaína por intermédio de amigos que, por pura curiosidade, comprara de um traficante. Esse traficante era tio de um amigo seu, aluno bolsista.

O vício foi instantâneo e se viciou de tal maneira que já não lhe interessava estudar. As notas então altas, foram ficando baixas. A mãe, psicóloga, entendia a todos, exceto o próprio filho. O pai de Gustavo, médico psiquiatra logo achou que o menino poderia ter déficit de atenção. O filho único do casal, na verdade, estava preso aos tentáculos do vício em drogas. Em ppuco tempo, o menino gentil se tornou outra pessoa. Transparencia ansioso e descontrolado. Quando as coisas de casa começaram a sumir, jamais a família poderia imaginar que o filho único e bem educado fosse o ladrão. Acusaram a inocente da empregada que envergonhada pediu demissão. Porém, antes de perder o emprego, soltou o verbo aos patrões e confessou que Gustavo era o ladrão da casa e que roubava para comprar drogas.

Num primeiro momento, os pais de Gustavo não acreditaram na mulher, entretanto o tempo passou e logo a verdade foi revelada. Os pais, então, resolveram interná-lo numa clínica particular.

Gustavo ouviu a conversa do pai, conforme o planejado mas, no dia anterior, roubou tudo o que tinha que roubar da casa, desde dinheiro e jóias. Gastou, então, tudo em drogas e farras. Desde aquela "rapina" não apareceu em casa e há um mês vivia nas ruas.

No íntimo o remorso por roubar os próprios pais o consumia por uma culpa que o impossibilitava o regresso ao seio familiar outra vez. Os dias nas ruas para ele era algo terrívelmente novo. Então ao ver aquela família, no seu inconsciente, viu a chance de ter sobrevivência melhor que estar só.

Quando contou a família sua história, houve um longo silêncio. Gustava tirou do bolso o maço de cigarros e ofereceu a família que contente aceitou.

Jerônimo ao observar as feições do rapaz: branco, alto e de rosto afinado, notou que, embora um pouco sujo, parecia ter sido alguém na vida, um alguém que já fora uma pessoa melhor do que ele.

Jerônimo olhou a si e a sua família e notou que o aspecto dele próprio e de seus parentes sempre foi a aparência de andarilhos perdidos no tempo e no espaço. Já o rapaz Gustavo parecia mais parecia o mauricinho perdido porque queria, um rebelde sem causa.

Quando o vinho acabou, o novato se prontificou a comprar outra garrafa. Chamou João Paulo para acompanhá-lo na compra da outra garrafa. Saíram, então, nas ruas juntos e João Paulo teve a estranha felicidade de encontrar um novo amigo. No caminho, porém, o novato parou a caminhada e falou:

- Não tenho dinheiro.

- Então como vamos comprar bebida, seu doido?

- Eu tenho um plano.

A resposta, então, de ter um "plano" ecoou nas paredes da mente de João Paulo. Aquelas palavras foram ditas por Gustavo com segurança e fazia tempo que João Paulo não sentia uma confiança brotar dentro de sua existência tão sem esperança.

- Como assim? Indagou João Paulo desconfiado.

Gustavo soltou seu sorriso de menino bem criado e assegurou a João Paulo:

- Relaxa, mano, eu tenho um plano.

Na sua ingenuidade, João Paulo pressentia que algo muito estranho a sua natureza pessoal estava prestes a acontecer.

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