O velho de 69 anos era ex agente penitenciário aposentado. Não tinha filhos, morava sozinho num apartamento em um prédio velho no centro da cidade.
O sujeito era alto e branco. Sua voz era trêmula em face das sequelas de um acidente vascular celebral que sofrera. Seu corpo envelhecido era revestido de verrugas em cujas pontas havia fios de cabelo branco.
O ex agente observava os garotinhos como um urubu sobrevoando uma carniça. Quando conheceu Gustavo, sentado no banco de praça, este lhe chamou a atenção pela juventude e beleza. Ardiloso, aproximou-se e puxou assunto. Em poucos minutos, levou Gustavo ao seu apartamento.
O velho já tinha tudo preparado: roupas limpas para os jovens, além de escovas dentais novas. O velho odiava sujeira, mas tinha enorme atração por jovens mendigos e moradores de rua.
Quando a campaínha tocou, o velho sabia que era Gustavo e, como combinado no outro encontro, ele devia ter trazido um colega, alguém mais para uma orgia. Quando os meninos entraram no apartamento, notaram a limpeza e a organização do velhote.
- Aqui é João Paulo, meu amigo.
- Opa, meu filho, disse o ex agente aposentado.
O velho lançou um olhar analítico ao menino moreno, imaginado seu sexo escondido naquela bermuda que mais parecia um pano de chão. João Paulo notou e ficou constrangido pela situação. Gustavo, por sua vez, agia com naturalidade como se estivesse em sua própria casa.
- Eu já sabia que você ia gostar do meu amigo, disse Gustavo.
- Quero ver vocês tomando banho juntos, ordenou o velhote dono do apartamento.
- Mas é claro, confirmou Gustavo.
Nem na pior das hipóteses, João Paulo pensar em submeter aquela situação ridícula, porém o desejo de beber e usar drogas o levava alí contra seu espírito. A droga outra vez, no entanto, gritava mais alto contra sua vontade e consciência.
Com timidez tirou a rouca, enquanto Gustava já se encontrava totalmente nu e se esbaldando no banho. Os dois ali ao banhar-se juntos, deu a João Paulo uma sensação terrível de ter sido invadido.
Enquanto os garotos se ensablavam, eram observados pelas retinas senis do velhote entorpecido de volúpia. Quase uma hora de banho e ambos estavam preparados. Foram-se, então, para o quarto.
Os dois jovens nus, na cama, eram masturbados pelas mãos trêmulas do velho. Mãos trêmulas que denunciavam um muito provável Mal de Parkinson no velhote aposentado.
Gustavo estava de pênis ereto, era mestre nessa situação, mas João Paulo fechou os olhos e foi jogado para o quintal de casa. Lá onde era feliz, com sua rede armada na sala, os carrinhos de brinquedos achados pelo lixo mais que o pai os dera de presente. Quando abriu os olhos para verdadeira realidade do agora, viu um abutre tirar a dentadura e começar a fazer sexo oral em Gustavo, que se contorcia de prazer. Aquela cena, para João Paulo, era ultrajante. João Paulo entendia porque seu pênis estava ereto. Provavelmente era provável que os toques daquelas mãos sibilantes e finas tinham um sortilégio que ele desconhecia.
O velhote os mandou ficarem de pé. O ex agente se ajoelhou e começou a usar a boca sem dentadura lambuzando o sexo de ambos. Quando João Paulo deu por si, Gustavo tocou em seu corpo e lhe direcionou um beijo no rosto. Tal fato causou asco ao menino de rua. Achou uma ação desnecessária.
- Quero ver vocês se beijando, sussurrou o velho lascivo que cheirava aos espermas de outros garotos que ele, com certeza, já tinha passado por alí.
Quando Gustavo deu lhe o beijo na boca, João Paulo, este lhe empurrou com tamanha força que tanto ele quanto o velho caíram no chão surpresos pelo ato.
- Eu não sou veado, berrou João Paulo enquanto vestia as roupas e corria em direção as escadas para ir embora.
Era o fim. Até quem ponto a sua vida foi parar? Indagou-se João Paulo. Havia tanto tempo que tinha voltado a sonhar, a ser uma nova pessoa. Até onde as drogas o haviam levado como um reles condenado por um crime que nunca cometeu.
João Paulo nunca havia beijado, nunca fizera sexo. Era estranho, mas para um morador de rua, na sua vida, não era nada tão "anormal" assim.
Quando voltou para as ruas, teve uma enorme crise de choro. Embora banhado, limpo e de dentes escovados, sua cabeça, no entanto, mostrava sua consciência chafurdada na lama. Como queria sair daquela vida, como queria uma família normal. Havia Deus lhe condenado, então, a viver uma eterna miséria? Assim dolorosamente meditou em seus monólogos internos repletos de hiatos destrutivos.
Quando chegou na praça onde seus pais ansiosos lhe esperavam, fechou, de pronto, a cara.
- Eita, meu fii, onde levou esse trato?
Sua mãe, então, o abraçou e pode sentir o cheiro de limpeza vinda de seu filho. Há tempos não farejava tais aromas, especialmente no filho.
- Nada, berrou iradamente João Paulo.
- Cadê o menino que tava com tu?Perguntou o pai.
- Foi pra puta que pariu, respondeu o rapaz.
Ficaram calados. Os três tristes porque tiveram a certeza de a espera fora em vão e o que restava era empurrar o carrinho de reciclagem para conseguir drogas o mais rápido possível. Toda a família estava em abstinência e a abstinência faz um monge tornar-se o mais sanguinário dos piratas a cruzar os sete mares num navio de velas furadas e sem âncora para o fazer parar.

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A Sagrada Família
AdventureDissecando a fome e o que existe de mais repugnante, a doença dos vícios, a escravidão e a profunda miséria humana. Este é A Sagrada Familia: Pai, mãe e filho dependentes químicos, moradores de rua que vagam como andarilhos por todo lugar carregando...