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Era  domingo, João Paulo acordou das profundezas da escuridão e emergiu para vida. Nazaré foi chamada para conversar com a assistente social. Quando a funcionária lhe deu a notícia, Nazaré saiu correndo pelos corredores sem fim, como estivesse dentro do túnel que, ao final, tinha saída: ela chegaria à luz.

E quando chegou bem perto do filho, banhada de lágrimas, abraçou-o como nunca fizera antes: abraço longo,sem pressa,aquele abraço que desejamos abraçar em quem queremos. Foi um abraçou de "bem-vindo à vida".

João Paulo ainda estava tão confuso que não lembrou que a mulher que lhe afagava num abraço era sua mãe.

O médico chamou Nazaré e ambos estavam na sala da assistência social. Nazaré já tinha noção do que estava por vir,que o filho nunca seria o mesmo de antes, que teria suas limitações, mas o mais importante que era que João Paulo, seu filho, estava vivo.

Na sala, o médico em tom suave deu  explicações técnicas de como seria a vida do paciente. Quando o médico disse que João Paulo precisaria de um fonoaudiólogo, de um fisioterapeuta, Nazaré nada contestou, ouviu tudo calada. Para ela, o
mais triste seria o filho ficar restrito a uma cadeira de rodas. Pediu licença ao médico e foi  ao banheiro.

De cara para o espelho, não se sentia nem feia e nem bonita, mas estava alva, havia luz nos seus olhos. Lavou o rosto e secou as lágrimas. Caminhou de volta à sala da assistência social, pediu licença, ouviu ainda mais e depois o médico disse que João Paulo teria sua alta no dia seguinte.

Ficou tudo acertado pela assistência social: Nazaré e o filho receberiam um aluguel social, pago pelo governo.

Naquele domingo, parecendo dia santo, Nazaré não parava de mimar João Paulo. Muitos sabiam da história por trás de tantos sorrisos. Muitos sabiam o quanto Nazaré  sofrera. Muitos duvidaram, mas Nazaré  venceu.

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