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Pouco tempo depois, Jerônimo avisou à mulher que sairia do hospital para fumar uns cigarros. Beijou-lhe amorosamente a testa da mulher e prometeu que, em breve, voltaria.

Lá fora, comprou um cafézinho de cinquenta centavos. Meditou os fatos sobre o filho hospitalizado enquanto fumava. As mãos trêmulas fazia como se estivesse a ferver o café juntamente com uma necessidade implacável de usar drogas.

Decidido saiu a espreita de drogas e bebidas. Dialogava mentalmente, tão rápido esqueceu as próprias promessas feitas diante de Deus como um mártir.

Não hesitou, quando deu por si, os pés seguiam involuntários em direção à Praça das Fontes. De repente, a esposa surgiu de assalto em sua mente. Recordou do amor. O amor tem as próprias insígnias: uma delas era a esperança endossada pela fé, ambas em simbiose. O amor que o homem tem pela mulher não cabia entre todos os adjetivos. Entretanto tal amor não o fazia sóbrio, era cinzas diante da bebida, das drogas em si.

Continuou em marcha rumo a destruição até encontrar por acaso Gustavo. Sentando, tranquilo à consumir cerveja enquanto fumava um cigarro barato. Quando o avistou acelerou os passos, logo bateu-se defronte com o garoto.

- Vida boa!!! Desdenhou Jerônimo.

Quando olhou para trás do banco da praça, ficou pálido e, de pronto, se levantou, abriu um sorriso amigável.

- Olha aí, meu querido Jerônimo.

Alí perto da Praça da Fonte pareciam bons amigos, de tempos remotos felizes pelo acaso do reencontro. Sentaram juntos, Jerônimo explicou toda situação: desde o roubo até o acidente de João Paulo.

Gustavo ouvia tudo em silêncio, fazendo caras e bocas, demonstrando forçadamente empatia e surpresa.

Houve, então, um silêncio, ambos sequer conversaram do assalto ou se haviam ou não matando o homem naquela funesta ocasião.

- Bora tirar as caras? Disse Gustavo.

Aquilo era tudo que Jerônimo queria ouvir.

- Cuida! Respondeu animado o pai de Jerônimo.

- 'Vamo' pra um barraco acolá.

Aceitou e e foi como se todos os acontecimentos sucedidos tivessem sido tão rapidamente apagados, desfazendo toda relevância dos fatos.

Vinte e cinco minutos de caminhada até chegarem numa favela corrompida pela fome e as drogas. A ausência  de saneamento básico, o lixo em exposição, como amostras da lepra sem ataduras. As criações de galinhas em frente a ciscar o chão de lamas, fazia daquela favela singular.

Adentaram a casa, Gustavo apresentava Jerônimo como estimado amigo. O garoto era popular em meio daquela desgraça. A prostituta proprietária da casa era amante de Gustavo. Aquele casebre era igual ao de Tifanny antes da limpeza de outrora.

Havia apenas a mulher de 35 anos em um corpo desgastado de 50. A amante do garoto deu um sorriso no qual mostrava uma arcada dentária de poucos dentes amarelos.

- Sou Amanda, apresentou-se para o novo hóspede.

Jerônimo notou a mulher e dela teve dó: a pele amarelada de alguém com hepatite B.

Quando Jerônimo reencontrou a droga fisicamente, esqueceu absolutamente de tudo e Deus virou a "droga".

Duas horas se passaram, depois cinco horas. Quando, por acaso, deu de si, Jerônimo notou que tinha anoitecido e tudo havia acabado. Os três olharam um por outro, os olhos ainda sedentos por mais.

- Vamos roubar, disse Gustavo.

- Aonde? Questionou Jerônimo.

- Em algumas paradas de ônibus, no centro, 'home'.

Após trinta minutos de silêncio proporcionado pela noia prolongada, Jerônimo concordou:

- Bora nessa, parceiro!!!

Saíram rumo ao tudo ou ao nada e pouco importava o corpo mirrado de João Paulo enrugado e num sono induzido, mas que poderia tornar-se um sono eterno.

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