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Nazaré de súbito acordou. Estava a sonhar um terrível pesadelo onde corria em completo breu, em plena escuridão, a procurar o filho.

Pulou da rede, o movimento brusco quebrou alguns punhos da velha rede que pertenceu ao falecido pai de Tiffany.

Sequer notou, apenas acendeu a vela e, como se voltasse ao pesadelo, só que agora acordada buscava o filho na escuridão da casa.

Gritou ao chegar a conclusão que o filho havia saído. Jerônimo quase enfartou pelo grito da esposa. Era uma espécie de grito de alguém que, de certo, estaria a ser esfaqueado e gritava guturalmente por socorro.

- João Paulo fugiu, dizia Nazaré aos prantos para o marido.

Tiffany caiu literalmente da cama.

A mãe chorava aos prantos, inconsolável a ausência do filho.

- Nazaré tenha nervo, bora atrás dele!
Dizia Tiffany para acalmar o ânimo da amiga.

Todos saiam como sonâmbulos pelas ruas em direção ao centro da cidade que estava apenas a alguns seiscentos metros de distância.

Enquanto caminhava, a mulher falava com Deus em pensamento para resguardar seu filho. Os três ao chegarem ao centro se dividiram, na possibilidade de achá-lo de maneira rápida.

Quando acabou, tudo acabou, João Paulo havia perdido outra vez. Raiva, dor, e milhões de sentimentos vinham como numa montanha russa.

Queria mais e venderia a alma para isso, porém algo gritava também alto no âmago de garoto: "morra!"

João Paulo respondia "não!!!"

-Se mate, menino, acabe com esse sofrimento, nunca irás vencer, clamava a
voz.

Tal voz o deixava confuso, pois não sabia se aquilo ecoava dentro de si ou se era alguém sussurrando ao redor.
Drogado, fracassado, caminhou até à avenida onde, certa vez, o pai dormia por ceder o lugar dele no abrigo para João Paulo.

A outra face do centro da cidade estava viva, a vida noturna bestial nutria-se da noite.

Caminhou em direção ao nada, atravessou a via de mão dupla de olhos fechados. Um corola branco dirigido pelo mesmo homem que a minutos atrás acabara de lhe fazer oral o atropelou. Tudo foi tão rápido como uma ideia que passa na cabeça da gente.

Quando deu por si, o homem havia atropelado o garoto que surgiu do nada em meio a pista de mão dupla. O garoto foi atingido pelo carro e o corpo bateu no para-choque e depois estraçalhou o vidro fumê a 60 km por hora.

Quando parou carro, o homem viu o corpo ao chão e logo reconheceu o menino. Em seguida, quando surgiu aglomeração de pessoas, o atropelador fugiu sem prestar socorro.

Meia hora depois a polícia se fazia presente e até uma emissora de TV estava a transmitir o fato.

Ruas próximas dalí, Nazaré ouvia as pessoas falarem de um garoto que havia de ser atropelado. No mesmo instante a mulher soube que era seu filho.

Enenquanto corria para ver quem havia sido a vítima, Nazaré começou suas orações:

"Meu Deus, meu Pai, não leva meu filho não, eu te imploro. Diante de ti, Senhor, que não aconteça nenhum mal para João Paulo. Meu Jesus Cristo , faço aqui minha promessa que, de hoje em diante, não usarei mais drogas só lhe que peço, Senhor, uma segunda chance para meu filho".

Aos prontos, quando viu o filho? no chão daquela pista, todo ferido entrou em tamanho desespero que soltou um grito de dor tão alto, tão agudo, tão desesperador e triste que acordou a cidade inteira.

Correu e tomou o filho nos braços que sangrava. O sangue banhava a mulher, o sangue de seu primogênito nos seus braços.

A mãe abraçava o filho e acariciava o rosto dele inconsciente, nada no mundo a faria largá-lo.

O policial, pegou Nazaré e a tirou de perto. O repórter logo veio em direção a mulher para entrevistá-la. Nazaré agora entrava num estado de choque.

- Minha senhora esse é seu filho? A senhora pode contar do ocorrido?Perguntou o repórter.

A mãe em prantos tremia e a palidez era tamanha que parecia que a qualquer momento iria desmaiar.

- Meu filho saiu de casa, ele usa drogas, meu senhor, não sei o que aconteceu. Ele é um bom garoto, é o único filho que tenho, ele saiu e não avisou, ele estava desesperado.

-Então seu filho é um viciado? Questionou o repórter.

- Sim, mas tava parando, alguém deve ter feito isso de propósito. Peço ajuda para ele, meu senhor.

A cena tocou a todos, até mesmos os policiais se emocionaram com a situação.

A ambulância veio atender a ocorrência. O socorrista coletou informações com a mãe da vítima.

De repente, chegou Jerônimo frenético em face do acontecido. A ambulância levou o menino e a mãe para acompanhá-lo.

Sem saber do ocorrido, Jerônimo entrou em pânico. O repórter, então, explicou ao homem os fatos quando as câmeras estavam desligadas. O pai do menino abri o coração e contou toda a história da família.

Tiffany chegou e toda a realidade outra vez entrou no caos. O repórter, então, leva ambos para o hospital para onde João Paulo foi levado. O extraordinário sétimo dia chegou ao fim, mas os raios de sol de um novo e incerto dia apenas começara a se espraiar por toda aquela cidade onde reinava o pranto e, às escondidas, as sementes de toda a alegria.

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