Capítulo 20

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Londres; Audi preto; segunda-feira; 5:40 da tarde;

Maria Luiza teria ficado surpresa ao ver Tom entrar na rua errada, a caminho de sua casa. Teria ficado surpresa ao saber que fora de propósito, mas não ficou. Não ficou porque no fundo sabia o que ele pretendia fazer.

Ou não.

Claro que não.

Porque ficou extremamente surpresa ao olhar pro lado, assim que ele estacionou, e ver uma mansão abandonada.

Um cara normal a teria levado ao cinema. Um cara normal a teria levado ao parque de diversões. Um cara normal - um nerd talvez, mas não um cara normal - a teria levado para uma feira de quadrinhos. Mas, com certeza, um cara normal nunca a teria levado a umamansão abandonada. Sério. Qual era a dele?

- Ahn... Eu perdi alguma coisa? - perguntou inocentemente.

Tom apenas riu, o que a fez levantar uma das sobrancelhas.

- Sério, Stein. Tudo bem você desviar do caminho da minha casa pra me levar... Sei lá, pra jantar, mas me trazer para frente do portão de uma mansão abandonada? É muito estranho... Até mesmo pra você.

- Desculpe. - ele disse, embora ainda sorrindo. - Eu queria te mostrar esse lugar. - o sorriso desapareceu subitamente e seu olhar ficou vago. - Não sei por quê. Só quis.

- E esse lugar é o que, exatamente? - Malu voltou seus olhos para a construção.

O portão de finas lanças negras guardava uma enorme casa de três andares ao fundo. A mansão tinha as janelas escuras e as paredes num tom já gasto de salmão. Alguma gosma verde escorria do telhado, indicando a falta de limpeza do local.

Além do abandono, a residência tinha um vento mais fresco, mais sombrio. Algo naquela atmosfera era capaz de arrepiar Malu até o último fio de cabelo. Aquela casa parecia não apenas solitária... Mas morta. O céu concentradamente mais cinzento por trás dos salgueiros do jardim apenas reforçava aquela sensação.

Por que Tom a havia levado ali, afinal? Quero dizer, que tipo de pessoa tinha fantasias com aquele lugar?

- Eu morava aqui. - ele disse. - Até ano passado.

'Cruzes', Malu pensou, mas recompôs sua feição séria rapidamente.

- Hm. O que aconteceu aqui pra você se mudar? - olhou-o curiosa.

Thomás fez alguns segundos de suspense, devorando-a com o olhar como se não quisesse perder nenhum detalhe de sua reação.

- Um assassinato. - ele deu de ombros. Depois abriu a porta do carro e o contornou com a mesma tranquilidade que teria se tivesse dito: "Você viu o jornal essa manhã?"

Mas isso não assustou Malu. Assustou, aliás. Mas não o fato de ele ter dito as palavras daquele modo. A garota sabia muito bem que, quando as pessoas se importam demais com algo, gostam de demonstrar que não ligam, como uma defesa natural.

Assim como Tom fez naquele momento.

Isso não a assustou. O que realmente era apavorante era o fato de ele tê-la levado pra lá.

Assim que o menino abriu a porta, ela o olhou com uma cara que o mesmo julgou estranha, fazendo-o gargalhar.

- Sério, por que me trouxe aqui?

Tom parou de rir se sentindo um completo idiota. Os impulsos de suas vontades o haviam levado a dirigir até aquele lugar. Era seu desejo levá-la à mansão... Mas estava nervoso... E ria. Ria porque achava graça nas caretas da garota e ria porque estava inteiramente ansioso.

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