Capítulo 17

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Londres; Oxford Street; Sexta-feira; 8:50 da manhã;

O clima estava seco. Tudo bem que fosse quase inverno, mas não era apenas o clima físico, e sim o simbólico. Não teria aula na sexta-feira. Aliás, provavelmente a aula não voltaria aquela semana. Aquilo seria impossível.

Maria Luiza se olhou novamente na frente do espelho. Suas vestes negras espelhavam perfeitamente como estava seu humor e a coloração embaixo dos seus olhos. Não conseguira dormir e era capaz de apostar um dedo que ninguém tinha o feito.

Prendeu parte dos cabelos pra trás, deixando a mostra o seu pescoço. Observou-o durante alguns segundos. Quando o vento gelado vindo da janela lhe tocou a pele da nuca, ela repensou e soltou-os novamente. O pescoço a mostra só a tornaria mais indefesa. Mais do que já era...

Seu vestido preto cheio de babados nunca fora tão triste. Fechou o bolero cinza que usava por cima, vendo pela janela que a árvore já estava coberta por uma fina camada de gelo. Sua meia-calça protegeria suas pernas do frio. Resolveu passar um pouco mais de blush para que seu rosto não ficasse tão pálido: pálido de susto, medo e desaprovação...

Ouviu duas fracas batidas na porta. Virou apenas as suas íris para olhar. Seu corpo permaneceu imóvel.

A cabeça de Rod adentrou o quarto. Seu semblante era tão chateado e assustado quanto o dela. Talvez até mais...

Vestia um terno preto bem passado.

- Malu, vamos? - perguntou com a voz baixa, provavelmente pela impossibilidade de elevar seu tom.

Ela apenas consentiu e seguiu com passos lentos até o primo, que a abraçou pelos ombros.

- Não tenha medo, minha baixinha. - sussurrou para ela, tentando parecer convincente. - Eu não vou deixar que nada lhe aconteça. Eu te amo.

Maria Luiza também tentou abrir os lábios para manifestar o quanto o amava, mas foi incapaz. Seus olhos apenas se encheram de lágrimas e ela agarrou o terno do primo, ficando ainda mais próxima a ele.

Londres; Cemitério West Norwood; Sexta-feira; 9:10 da manhã;

Toda a Highgate tinha comparecido. Era impossível para Maria Luiza enxergar o padre que falava, ainda mais o caixão da senhora Paskin, que a uma hora dessas já devia estar descendo rumo ao lugar onde ficaria durante um longo tempo. Vários alunos vestidos de preto escondiam essa paisagem nada agradável.

Rod, Maria Luiza, Austin, Cristopher e Melanie preferiram ficar um pouco mais afastados do grupo, embora ainda ouvissem a missa. Apesar de estarem juntos, não tinham trocado palavras significativas, apenas um silêncio melancólico e uma compreensão mútua de que não seria o último incidente como esse.

Maria Luiza e Rodrigo estavam abraçados, como se compartilhassem a dor do outro. A garota nunca se sentira tão grata por ter um primo tão atencioso e carinhoso.

Ele era tudo o que ela precisava no momento.

Ficaram mais alguns minutos em silêncio, apenas ouvindo o padre.

- E com a graça do Senhor, - ele disse. - que agora a senhora Amélia Joane Paskin descanse em paz. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...

Todos completaram em uníssono:

- Amém.

As pessoas deixavam o local enquanto os coveiros eram encarregados de jogar a terra sobre o caixão.

Maria Luiza sentia o vento gelado no rosto, mas nem isso a fazia ter vontade de fechar os olhos. Mais do que nunca, queria ver.

Observou Bennet passar por ela, com a sua cara de abobalhado mais deprimida do que de costume. Pouco atrás vinha Scott, com seu aspecto imutável de completa indiferença.

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