Capítulo 23

1.7K 58 3
                                    


- Parece que é aqui. - Maria Luiza respirou fundo, inalando toda a pureza do ar da manhã antes de estacionar o carro na frente de um grande prédio em Dockland.

Era segunda-feira, dois dias depois de seu fatídico sequestro, e seu coração disparava em prol de um único objetivo. Abriu a porta do Civic que pegara emprestado de Rod, pisando decidida com a bota de salto na calçada.

Olhou novamente o prédio e sentiu as pulsações em sua garganta, tão fortes que o sangue se concentrava em suas bochechas. Ela tinha dezoito anos e já era uma mulher, então porque se sentia como uma pré-adolescente saboreando seu primeiro amor platônico?

Como ela, madura como acreditava ser, ainda podia sentir seus joelhos fraquejarem com a simples menção do nome dele? Como poderia sentir sua pele queimar tão intensamente toda vez que ele a tocava? E a arritmia de seu coração? Como poderia explicar para si mesma?

Era como se todas as suas noções de amor e paixão tivessem sido automaticamente transferidas para um único ser humano. Nenhum dos caras com quem namorou ou saiu importavam. Ele importava. O cara que arriscara sua vida para salvá-la, que arriscou sua vida para vê-la respirar não apenas uma, como várias vezes. Aquele cara por quem, ela sabia, por mais que os anos passassem, sempre seria o motivo de seus suspiros. O tema favorito de seus sonhos.

De repente, o traiçoeiro destino pareceu tão correto. Não havia sido o acaso que a levara para Inglaterra, nem o acaso que tinha colocado o rapaz em seu caminho. Tinha sido o destino. O confuso e curioso destino.

Maria Luiza respirou fundo ao parar em frente ao porteiro do edifício, que a olhou de cima a baixo com um olhar um tanto surpreso. Sabia a quem ele a estava conectando, mas enquanto sua mente estava voltada para seu objetivo, não se importou com o que quer que o homem poderia lhe dizer.

O porteiro, um homem albino e de ombros largos, examinou-a minuciosamente.

Observou Maria Luiza em seu longo vestido de cashmere, com sua meia calça escura e preta contornando as pernas até serem escondidas por sua bota de salto bege.

- Perdoe-me se eu estiver errado - ele disse educadamente. -, mas a senhorita não é...

- Não. - ela interrompeu sem se preocupar com a grosseria. Estava mentalmente incapaz de ouvir um engano como aquele sem se magoar. - Meu nome é Maria Luiza Marques. - enfatizou, quase como se completasse com um "lembre-se disso". - Gostaria de saber se Thomás Stein está em casa.

O porteiro cruzou os braços por trás da mesa de mármore, que escondia a cadeira em que estava sentado. A disposição do apartamento onde Tom morava era bastante semelhante à de Duan, com a diferença, claro, de a recepção ser menos ampla e de aparência mais fria, menos convidativa.

Ele olhou curioso para a sacola que Maria Luiza pendia no braço, mas suspirou e acenou para os elevadores:

- Está. Vá em frente. Nono andar.

Ela caminhou até os elevadores mais incerta do que estava quando adentrou as portas automáticas do prédio. Apertou o botão sinalizando que estava à espera e esperou, com o coração latejando em sua garganta.

O porteiro não avisou a Tom que ela estava lá, ela observou. Pensou que talvez fosse melhor assim, uma surpresa. Porém descartou essa idéia quando cogitou a hipótese de estar sendo um inconveniente.

Engoliu em seco quando as portas do elevador se abriram. Não podia voltar atrás. Tinha ido longe demais.

Fechou os olhos durante alguns segundos, acalmando seus nervos, depois bateu na porta de madeira clara e polida, que quase imediatamente foi aberta. Por Tom. Sem camisa

Ópera Onde histórias criam vida. Descubra agora