Durante um dos agudos da protagonista, na cena em que recebia o veneno do padre, Tom involuntariamente pôs-se a lembrar de alguns detalhes que antes lhe pareciam tão sem sentido. O detalhe que mais lhe chamara a atenção, de fato, e provavelmente conectado a cena que assistia, era a quantidade de GHB compradas por Brittany e Kimberly.Segundo as pesquisas de Rod, o volume do remédio que elas compraram seria o suficiente para levar um ser humano à morte, por ataque cardíaco. Como o único efeito que causara em Austin tinha sido apenas a tonteira e o desmaio, Tom duvidara que todo produto tivesse sido utilizado contra o garoto.
Mas então o que, ele pensou, elas teriam feito com o resto das "gostas de amor"? Não poderiam tê-las guardado, uma vez que os danos não seriam mais os mesmos. E também não poderiam ter comprado a mais por engano, porque, mesmo sendo Brittany e Kimberly, elas não seriam tolas o suficiente para gastar um punhado de dinheiro com algo que não usariam. O fato de terem feito Austin consumir a dosagem exata para que o menino ficasse dopado era outro indício de que elas sabiam o que estavam fazendo.
A pergunta era: em quem foi aplicado o resto do GHB?
Se elas estivessem realmente relacionadas ao assassinato de Ivane, que era o que tudo indicava, nada mais normal do que elas terem usado em outra pessoa daquele mesmo círculo de relacionamento.
"Pense, Tom" dizia para si mesmo "Quem mais ficou desacordado aquele dia?"
Maria Luiza sentiu algumas lágrimas inundarem as margens de seus olhos. A dor em seu ombro, o fato de seu vestido estar sendo encharcado de sangue... Nada importava agora. Ela não conseguia sentir. Seus pensamentos estavam tão escuros e misturados que não conseguia se concentrar no presente, não conseguia sequer raciocinar. Alguém havia desligado sua tomada da realidade.
A única coisa que Maria Luiza sabia, e que se dava ao trabalho de sentir, eram agora as lágrimas que rolavam em seqüência por sua bochecha. Assim como seu sangue, que se disfarçava no vestido vermelho, as gotas de choro eram quentes.
- Isso não... - Malu começou a dizer com a voz fraca. - Isso não está certo.
Ela observou o cano do revólver calibre 22 virado diretamente em direção a ela. Maria Luiza engoliu em seco.
- O que não está certo, minha querida? - o assassino perguntou.
- Não era pra ser você - tentou argumentar em desespero. - Era a Brittany. Como você pôde...
Duan gargalhou alto.
- Você o traiu! - Maria Luiza gritou. Depois engoliu seu berro e voltou a sua posição inicial, em completo estado de choque.
- Eu nunca trairia o Tom. - Duan abriu um sorriso arregalado. Seus olhos, que antes pareciam simpáticos e doces, agora eram lunáticos.
Maria Luiza segurou seu peito, tentando de alguma forma conter as batidas aceleradas e dolorosas de seu coração. Percebeu que estava ofegante. Sua pulsação latejava tão forte em seu pescoço que por um instante chegou a pensar que ele fosse se partir.
- Você... - Malu voltou a tentar dizer, mas sua tentativa acabou saindo em forma de sussurro. - Ivane e a Paskin... Você...?
Duan sorriu satisfeito.
- As duas. - concordou. - Acabei com a vida das duas.
O queixo da garota começou a tremer assim como o resto de seu corpo. Sentia frio nos braços e principalmente no rosto, como se todo o sangue estivesse escapado de lá. O que não chegava a ser mentira, pois percebera que as gotas de sangue vindas de seu ombro ferido, por onde um tiro tinha a atingido de raspão, já estava gotejando no chão de mármore branco da antiga casa de shows.
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Ópera
Teen FictionOlhou-se no espelho, tendo certeza que estava sozinha. Examinou-se de cima a baixo: Seus cabelos claros caiam pelos seus ombros como cascatas, cobrindo as alças da pequena camisola cor-de-rosa e o meio sorriso escondido. Ah, o sorriso. Aquele sorris...