Capítulo 24

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Londres; terça-feira; 5:31 da tarde;

Tom subia com cautela e ao mesmo tempo com nervosismo as escadas do prédio mal iluminado. Estava em um dos piores lugares de Londres para se estar: onde gangues se encontravam, pessoas fumavam baseados e traficantes andavam livremente pelas ruas.

Mas sua postura altiva e confiante, apesar de não se sentir assim por dentro, seria a responsável por mantê-los afastados enquanto cruzava os limites de um muro de tijolos e abria a porta principal do velho edifício, com um rechinar.

Respirou fundo ao parar na frente do apartamento 201. Aliás, do apartamento 20, uma vez que algum engraçadinho lhe arrancara um "1". Porém, a marca do número perdido continuava lá, impregnada na madeira da porta.

Thomás se afastou um pouco ao perceber o celular vibrar dentro do bolso da calça. Desceu alguns degraus e o atendeu, falando no sussurro mais baixo que podia:

- Daves.

- Já está aí? - o homem do outro lado da linha perguntou.

- Sim.

- Senhor Stein, - o detetive deu um suspiro pesaroso. - não acha que seria mais prudente de sua parte deixar esse trabalho pra mim?

- Você não entende. - sussurrou ainda mais baixo. - Isso é algo que quero fazer.

E com o longo silêncio que se estabeleceu entre ele o outro, Tom sentiu-se livre para desligar o aparelho. Voltou a colocá-lo no bolso esquerdo da calça, dessa vez concentrado em uma proeminência que sentia no direito.

Sorriu frio e voltou a ficar de frente para a porta do apartamento 201. Bateu três vezes.

A porta se abriu, revelando apenas uma fresta, que era o máximo que a corrente de proteção permitia chegar. Tom observou algo brilhar no escuro do apartamento, e reconheceu o pequeno brilho preto como olhos de uma pessoa.

- O que quer de uma velha senhora? - uma voz trêmula veio de dentro da sala.

Tom apartou uma risada, vendo ainda mais estupidez naquela senha do que na primeira vez em que visitara o local com Ivane, no ano anterior.

- Seus biscoitos de polvilho, madame. - sorriu, sentindo-se absurdamente idiota.

A porta se fechou, e, durante alguns segundos, Tom pôde ouvir os barulhos de algumas trancas sendo destravadas. Um tempo depois, um enorme homem - que fingia a voz da velha senhora - abriu-a.

Sem esperar o convite para entrar, Tom se colocou para dentro do pequeno quarto que era o apartamento, de forma tão bruta que chegou a esbarrar um dos ombros no homem que permitiu sua entrada.

O grandalhão sentiu-se desafiado, virando-se imediatamente para o garoto que já estava atrás de si no aposento e apertando os punhos:

- Escuta aqui, seu fedelho...

Mas não prosseguiu. Não conseguiu proferir mais nenhuma palavra assim que vislumbrou de perto o cano de um revólver de calibre 38, diretamente apontado para uma de suas bochechas: a que possuía uma extensa cicatriz.

- O que você quer? - se deu por vencido olhando para Tom, que segurava a arma com aptidão.

- Quero a ficha dos seus clientes do ano passado. - o homem levantou um dedo para protestar. - Agora.

O traficante olhou Tom de cima a baixo. Depois, rendendo-se, caminhou na pequena sala até um armário escondido pelas sombras.

Thomás observou a quitinete com desgosto. A única coisa no local que de fato lhe chamara a atenção tinha sido a mesa de madeira, no centro do cômodo. Sabia que tinha sido exatamente a mesma mesa na qual tinha se sentado com Ivane no ano anterior, na qual a menina tentou induzi-lo a experimentar cocaína. Tom sorriu amargo, sem perder por um segundo o homem da mira de sua arma.

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