Capítulo 1

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Os ventos que tiram algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar... Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim, aprender a amar o que nos foi dado. Pois tudo aquilo que é realmente nosso, nunca se vai para sempre... – Bob Marley

Um ano depois...

Londres; Civic prateado; Sexta-feira; 2:47 da tarde.

Rodrigo se acomodava no banco do carona, enquanto senhor Marques mantinha seu olhar fixo na estrada. Os fones do i-pod se embolavam, apesar disso não impedi-lo de ouvir Blink no volume máximo. Sua cabeça estava em outro lugar.

Segunda-feira seria o inicio das aulas na polêmica Highgate High School, berço dos alunos mais problemáticos e misteriosos de toda cidade londrina. Rodrigo gostava da escola. Gostava dos colegas, apesar de não conviver com as pessoas julgadas 'certas'.

Estava a caminho do aeroporto pra receber a prima brasileira, que não via desde a infância. Ela moraria com eles na casa branca da Oxford Street, conseguindo uma bolsa de estudos pra Highgate School – que podia ser o lar de alunos problemáticos, mas não deixava de ter um ensino exemplar e de abrigar os filhos dos mais ricos empresários da cidade.

Rodrigo suspirou contra o vidro, vendo o pai estacionar o carro bem a tempo de pegar a garota saindo da sala de embarque. Seu coração acelerou por um momento. 'Como ela estará?' perguntou-se, com medo de não reconhecê-la.

O pai fez sinal pra que ele saísse, e os dois seguiram até o lugar de onde saiam os passageiros do vôo que tinha pousado. Ela com certeza estaria lá.

- Maria Luiza! – o pai disse empolgado, abraçando a garota com uma calça de moletom cinza. Rod não pôde ver seu rosto direito, mas esboçou um sorriso. Talvez ele sentisse mais saudades dela do que imaginava.

- Tio John! Que bom vê-lo. – sua voz era suave. – Rod! – se desvencilhou dos braços do tio, indo abraçar o primo, que a olhou estático.

- Malu? – disse deixando os lábios entreabertos e sentindo um leve tremor passar pelo corpo.

Aquilo não ia prestar. Ah se não ia.

Beleza não era o problema da prima. Tinha um rosto angelical um tanto infantilizado, mas atraente ao mesmo tempo. Seu corpo e suas curvas eram proporcionais: Não muito chamativos, mas delicados. Os cabelos mais escuros caiam sobre os ombros, exatamentecomo a... Evitou pensar o nome.

Droga. Talvez incentivá-la a ir pra Highgate High School não tivesse sido a melhor idéia. Talvez não, não tinha sido uma boa idéia.

Esperou que a impressão que sua prima lhe passou tivesse sido apenas pra ele. Rezou mentalmente pra que ninguém percebesse... Ou se lembrasse.

Londres; Cemitério West Norwood; Sexta-feira; 3:15 da tarde.

Colocou o buquê de lírios amarelos em cima da grama, na frente da lápide. Seus olhos já começavam a arder, enquanto se sentava por ali mesmo.

- Ei, Iv. – abraçou os joelhos, dando um suspiro pesado e sentindo o coração bater apertado. – Hoje faz um ano que eu não a vejo. Triste não? Eu também acho. – o vento batia frio contra os seus cabelos. Ele não se incomodava. – Eu venho pensado muito em você... Todos os dias. Não sei se eu te contei ontem, mas meu pai viajou pra França. Provavelmente vai passar uns seis meses lá, como da última vez. – encarou o vazio. – Eu comprei um apartamento só pra mim. Nada muito luxuoso. Você iria adorar. Spike sente sua falta também. Ele ainda chora olhando pra porta, achando que em alguma hora você vai entrar por ela. – uma lágrima quente desceu pelos seus olhos, seguida de outras. – Eu faço o mesmo. – no momento seguinte já estava chorando compulsivamente, apesar de ser o que tentava evitar. Mas o cemitério estava vazio, então não teria problema. Ninguém o veria.

Ficou um tempo da mesma forma, lutando contra as lágrimas descontroladas, até que, por fim, o choro cessou. Enxugou os olhos com as costas das mãos, tirando os óculos escuros presos na camisa preta e colocando-os.

Thomás levantou-se e foi na direção do Audi A8, estacionado a metros dali.

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