"Duvida da luz dos astros,Duvida que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor."
William Shakespeare.
O som de água lhe acordou.
Tom abriu seus olhos devagar, varrendo a sua volta. Estava no nada. Era exatamente esse o lugar onde estava... Nada.
Sentou-se, percebendo que estivera deitado em uma superfície sólida e gelada, coberta pela neblina densa do local. Não via início nem fim. Só uma imensidão gélida, enevoada e vazia.
Pôs-se de pé observando suas estes. Ainda usava o smoking preto que vestira para a ópera. Ao lembrar-se disso, levou as mãos na cabeça, que reagiu à memória com um forte latejar.
Ainda conseguia ouvir o barulho de água. Água. Talvez fosse para lá onde devesse ir, para perto da água.
Caminhou, sentindo seu andar mais leve do que nunca, para onde intuía que vinha o barulho. Depois de um tempo de sua andança, observou uma silhueta preta coberta pela névoa, sentada às margens de um lago.
Aproximando-se, percebeu que a sombra pertencia a uma mulher fina e esguia, que brincava com as águas turvas.
- Malu? - chamou.
Mas quando a garota inclinou a cabeça, atendendo ao chamado, Tom sentiu que seus batimentos teriam se acelerado... Se ainda tivesse algum. A menina de longos cachos dourados se levantou com um sorriso débil, caminhando até ele e lhe envolvendo em um abraço saudoso. Thomás retribuiu, ainda incerto se o que via era realidade.
- Eu sempre - disse Iv. - Sempre ouvi tudo o que você me disse, meu amor.
Tom arregalou os olhos. A lembrança de Duan apontando uma arma para Maria Luiza aparecera nítida em sua mente. A lembrança da menina fechando os olhos para receber a morte. A lembrança de ter se jogado na frente e ter tido o peito perfurado.
- Eu morri? - perguntou em um murmúrio.
Ivane fitou-o com os olhos magoados. Era possível ver que ela segurava o choro.
- Ainda não.
- E onde nós estamos? - ele disse ainda absorvendo as palavras da menina.
- Na Passagem. - ela esclareceu. - É pra onde as pessoas que estão entre o mundo dos vivos e dos mortos vão.
Thomás sorriu frio.
- Claro.
- Tom, será que você não entende? - ele voltou seus olhos para os suplicantes de Ivane. - Podemos ficar juntos pra sempre. Eu e você, como nós tínhamos planejado. Eu te amo.
Thomás olhou Iv dos pés a cabeça com o ar suspeito. Fixou-se nos olhos da loira erguendo uma sobrancelha. Sua face não estava nada satisfeita.
- Se me ama tanto, por que mentiu pra mim?
- Como? - ela pareceu surpresa.
- Por que disse que estava grávida, Ivane?
Ela ficou com a expressão de confusão durante algum tempo, mas depois retomou o fio da meada.
- Porque senão você nunca me perdoaria. Você nunca... Nunca teria me pedido em casamento.
- Eu te pedi em casamento porque queria dar um lar à criança, Iv.
- E eu disse que estava grávida porque queria me casar com você. Eu queria estar ao seu lado pra sempre. Quando nos casássemos, era só uma questão de tempo para que eu engravidasse de verdade...
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Ópera
Teen FictionOlhou-se no espelho, tendo certeza que estava sozinha. Examinou-se de cima a baixo: Seus cabelos claros caiam pelos seus ombros como cascatas, cobrindo as alças da pequena camisola cor-de-rosa e o meio sorriso escondido. Ah, o sorriso. Aquele sorris...