Miranda não sabia exatamente onde estava. Uma paisagem árida e escura estendia-se até onde sua vista alcançava, cortada por um frio sepulcral. As dunas de areia azulada moviam-se como miragens por aquele cenário e o céu noturno estava abarrotado com as mais belas estrelas. Via a tudo por uma janela panorâmica. O vidro era surpreendentemente transparente, quase uma película invisível com um leve tom azulado.
Olhou em volta na tentativa de se orientar. Parecia estar em uma espécie de biblioteca. O teto era uma infinidade distante, com verdadeiras colunas de estantes que se estendiam por quilômetros sem fim. O piso tinha padrão de xadrez e brilhava como se fosse novo em folha. Mesas compridas abarrotadas com pilhas e mais pilhas de livros estavam estendias pelos corredores, com abajures que lançavam uma luz amarelada e aconchegante.
Uma voz fria, mas ao mesmo tempo jovial e acolhedora, veio ecoando pelo labirinto de estantes.
–Que obra prima, as Mahou Shoujos, não concordas? –Aproximou-se, buscando a origem do som e dando de cara com uma figura altiva. Ele estava sentado, o rosto oculto por um livro sem título. –Nos atos, quão semelhantes aos anjos. Na apreensão, aproximam-se aos deuses. Tão superiores aos modelos, aos adornos do mundo, admiráveis em sua forma.
Olhando mais de perto, o Estranho parecia vestir algo semelhante a um terno feito de uma luz cor de prata. As mãos estavam ocultas por final luvas brancas e, de forma estranha, a luz não parecia vir diretamente do tecido, fosse ele qual fosse, mas era refletida por ele de alguma outra fonte.
–Quem é você? –Reuniu coragem para perguntar.
–Eu? Sim, eu. –O Estranho pareceu estranhar a palavra, como se buscasse seu significado no fundo da memória. –Pois me diga, importa quem sou? Um simples nome, como uma flor de sakura, sob outra designação, não teria igual perfume e beleza?
Miranda não sabia como responder. Era como se sua noção de realidade fosse novamente questionada e a mente não soubesse mais como proceder naquela situação. Mais do que isso, temia que essa fosse mais uma ilusão.
–Preciso ser breve, infelizmente. Minha irmã não sabe que estás aqui. –Continuou o Estranho, abaixando o livro. Seu rosto era de uma beleza pura e inocente e era de um tom cinzento de branco, quase transparente, e os longos cabelos brancos caiam como uma cascata até abaixo dos ombros. –Aproxime-se, minha cara. Trouxe a espada consigo?
Só então Miranda notou que ainda segurava a espada de Izanami nas mãos. A arma não exibia o talismã da deusa, mas ainda era possível sentir seu poder emanando do metal carmesim.
–Trouxe. –Falou, puxando a cadeira em frente à do Estranho e colocando a espada sobre a mesa.
O Estranho aproximou as mangas da espada, a polvilhando com sua luz metálica e vibrante. Miranda teve a impressão de ter visto algo rastejar para dentro das vestimentas dele, mas, tão logo o Estranho se afastou, a memória ficou confusa em sua mente e isso pareceu-lhe algo não tão importante assim.
–Esta é Ohigan, a Chave e a Ponte entre os mundos. Com ela, finalmente o tormento de minha mãe terá um fim.
–O quê? –Perguntou, não entendendo ao que o Estranho estava se referindo.
–Não há motivo para preocupação. –Ele a tranquilizou com um sorriso. –Tudo será respondido ao seu tempo. Agora, você precisa acordar. E eu preciso voltar aos meus afazeres.
–Mas...
O sonho se desfez em meio a um nevoeiro fumacento, deixando Miranda novamente junto à escuridão.
* * *
Ao abrir os olhos, a primeira coisa que Miranda conseguiu ver foi o teto. Um belo teto decorado com pinturas e representações medievais. Um lustre de ferro estava pendurado em seu centro, iluminando o quarto de paredes cor de salmão. Uma janela parcialmente oculta pelas cortinas à sua direita dava acesso ao céu sempre noturno da Necrópole, com a luz da lua, agora prateada como deve ser, adentrando no aposento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Ballet da Garota Mágica
Fantasía"𝙎𝙚𝙧 𝙪𝙢𝙖 𝙂𝙖𝙧𝙤𝙩𝙖 𝙈𝙖́𝙜𝙞𝙘𝙖 𝙚́ 𝙘𝙤𝙢𝙤 𝙖𝙥𝙧𝙚𝙣𝙙𝙚𝙧 𝙗𝙖𝙡𝙚́: 𝙧𝙚𝙦𝙪𝙚𝙧 𝙥𝙚𝙧𝙨𝙚𝙫𝙚𝙧𝙖𝙣𝙘̧𝙖, 𝙙𝙞𝙨𝙘𝙞𝙥𝙡𝙞𝙣𝙖, 𝙛𝙤𝙘𝙤 𝙚, 𝙥𝙧𝙞𝙣𝙘𝙞𝙥𝙖𝙡𝙢𝙚𝙣𝙩𝙚, 𝙩𝙧𝙚𝙞𝙣𝙖𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤". Abordando a mitologia e o folclore j...