Capítulo 3: A Mahou Shoujo

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Estar de volta à sala de aula parecia quase um sonho. Miranda correu até um dos banheiros em busca de um espelho. Tocou seus braços, suas pernas, analisou seu corpo por inteiro de cima a baixo.

Nada. Os hematomas sumiram, assim como as queimaduras. Como se nunca tivessem estado ali de verdade. Seus cabelos voltaram a ser castanhos, suas roupas retornaram para o uniforme escolar. Nada parecia ter acontecido. Nem mesmo o tempo dava a impressão de haver passado como deveria.

–A senhora está linda, mestra, se me permite dizer.

A voz da guitarra a irritou.

–Mas que merda foi aquela? Eu podia ter morrido! O que aconteceu?

–A senhorita lutou contra um youkai, mas, infelizmente, perdeu a luta. Se a outra não interferisse, nós...

A "outra". Sim, a garota de cabelo azul que a salvara na última hora. Tinha a impressão de que a conhecia de algum lugar, mas não conseguia recordar bem de seu rosto. Por que a teria salvado sem motivo?

–Aquela garota. Ela, digo, também tem uma guitarra falante?

–Eu diria que não. Parecia mais um dragão ou coisa do tipo.

Miranda não discutiu. Não valia a pena. –Entendo. –Lavou o rosto com água fria, segurou firme o estojo no ombro direito e saiu do banheiro. Acabara de lembrar que tinha um compromisso marcado, ou quase isso, com Luna.

Chegou ao portão do colégio após uma breve corrida. Estava para começar o turno da tarde e os aglomerados de alunos começavam a chegar. O ciclo escolar voltava a se repetir. Como havia dito, lá estava ela, parada ao lado do portão. Miranda notou um bracelete dourado no pulso que nunca havia visto Luna usar antes.

–Desculpa a demora. Tive um –Buscou uma palavra. –Imprevisto?

–Está me perguntando se você teve um imprevisto? –Luna riu de seu próprio comentário. –Brincadeira. Também tive que fazer algo há pouco, então estamos quites. –Pegou sua mochila do chão, deu uma leve batida para tirar alguma sujeira e a colocou nas costas. –Vamos indo?

* * *

Silêncio. Era tudo o que havia, com excessão de poucos instantes, fragmentos de tempo onde, invariavelmente, algo acabava acontecendo. A chaleira era posta sobre o fogo, a água em seu interior fervia, a mistura de ervas era colocada em um bule e, por fim, ambos eram combinados para formar chá.

Luna serviu a bebida quente em pequenos copos floridos junto de bolachas e torradinhas. Miranda aguardou durante um tempo, e só então provou o chá.

Estava bom.

–Cidade pequena, não é? –Disse Luna, fazendo menção ao episódio daquela manhã.

Miranda nada respondeu. Ainda não sabia o que poderia ou, pior, o que deveria dizer. Estava sentada na sala de Luna, um lugar já conhecido, mas que agora parecia completamente alienígena e que causava uma sensação estranha em seu estômago. Como seus pais eram diplomatas e estavam sempre viajando, a casa invariavelmente ficava vazia e silenciosa.

Nenhuma das duas dissera muitas palavras do momento em que se encontraram até agora, cada uma aguardando que a outra tomasse a iniciativa. Miranda esperava estar errada sobre seu palpite.

Infelizmente, Luna já tinha certeza sobre o seu.

–Amandy, apareça. –Ordenou após um gole de chá. O bracelete em seu pulso remexeu-se, semelhante a uma serpente, e então deslizou por seu antebraço até apoiar-se em seu ombro direito. O metal tornou-se azulado, olhos vermelhos brilhantes surgiram como rubis em seu rosto alongado, até que a figura assumisse sua forma verdadeira.

O Ballet da Garota MágicaOnde histórias criam vida. Descubra agora