Manuela era a única pessoa na Toca do Gato quando Lia chegou pela manhã. Fazia frio, apesar do sol morno que começava a brilhar sobre a cidade, mas mesmo assim a garota mais velha parecia ser imune a ele.
–Por que chegou tão cedo, jovem? –Disse, arrastando uma das cadeiras da mesa e sentando-se ao contrário, apoiando o queixo na cabeceira.
–Só não queria ficar em casa sozinha. –Admitiu.
–E decidiu ficar sozinha aqui? –Riu, pondo um cigarro entre os dentes. –Por acaso viu a Mika? Precisava falar com ela.
–Não a vejo desde ontem à noite. Parecia preocupada com algo, disse que não estava se sentindo muito bem e que precisava voltar para casa.
Lia dobrou as sobrancelhas. –Preocupada? Que tipo de preocupação?
Manuela não soube dizer com certeza. –Algo sobre estar farta disso tudo. Estava resmungando antes sobre a escolinha, então pensei que fosse algo relacionado. –Deu de ombros. –Bullying, talvez?
–Pode ser... –Concordou com a colega de Clã. –Crianças podem ser más nessa idade, principalmente com alguém no estado dela.
Com um movimento de mãos, Manuela fez surgir uma fatia de bolo sobre um dos pratos vazios e sua taça encher-se com refrigerante gelado e pedaços de limão. Tinha o olhar mais cabisbaixo do que o normal.
–Já disse o quanto você é boa com as bênçãos de Ukemochi? –Elogiou a companheira, que esboçou um sorriso de vergonha. –Algo a está incomodando, não está?
–Nosso Clã está desmoronando, Lia. –Disse, mastigando o doce. –Só uma dúzia de gatos ainda deve morar aqui, mas o resto já se foi. A Mika está cada vez mais fraca e não há o que fazer.
Lia soltou sua fumaça prateada para o alto, que desapareceu no ar como uma breve ilusão, os cabelos laranja brilhando pela falta de banho. –Há uma coisa, na verdade.
Explicou para a outra garota sobre a aliança temporária com os dois rapazes do Clã Monarquista e que eles iriam ajudá-las a lidar com o Nekomata e com a Anjo Negro. Disse que, para isso, esperava convencer a Líder a se encontrar com a outra Garota para conversarem e resolverem esse problema de uma vez, antes que mais vidas fossem perdidas.
–Agora que mencionou... –Manuela engoliu o restante do bolo com os últimos goles de sua bebida. –Não tenho visto o Nekomata se manifestar mais desde o incidente na Necrópole.
As palavras chegaram aos ouvidos de Lia como se eles estivessem cobertos por algodão espesso. De fato, não havia visto o Nekomata em sua forma felina, e muito menos manifestando-se através do corpo de Mikaella. A garota não havia mais participado das caçadas em grupo e mantinha suas caudas e orelhas sempre escondidas.
Súbito, deixou o cigarro pela metade cair frouxo por entre seus dedos, a revelação chegando à medida que seus olhos arregalavam-se.
–Precisamos encontrá-la! –Saltou da cadeira, sendo engolida por uma coluna de fogo e ressurgindo em sua forma de Garota Mágica, com a roupa de strip vermelha e o cachimbo de bambu, a cauda em Y e as orelhas feitas de puro fogo assim como os cabelos. –Agora!
* * *
A reunião com o Akita surpresa logo foi interrompida e, infelizmente, o animal precisou ser posto para fora. O prédio não permitia animais e já era muita sorte o fato do porteiro não tê-lo visto subir as escadas.
Enquanto Matheus e Miranda tentavam colocá-lo para fora, e seu irmão estando claramente com pressa para ver-se livre daquela coisa, o Hainu mordia e puxava a calça de Miranda junto, como se quisesse que ela também fosse com ele para algum lugar.
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O Ballet da Garota Mágica
Fantasía"𝙎𝙚𝙧 𝙪𝙢𝙖 𝙂𝙖𝙧𝙤𝙩𝙖 𝙈𝙖́𝙜𝙞𝙘𝙖 𝙚́ 𝙘𝙤𝙢𝙤 𝙖𝙥𝙧𝙚𝙣𝙙𝙚𝙧 𝙗𝙖𝙡𝙚́: 𝙧𝙚𝙦𝙪𝙚𝙧 𝙥𝙚𝙧𝙨𝙚𝙫𝙚𝙧𝙖𝙣𝙘̧𝙖, 𝙙𝙞𝙨𝙘𝙞𝙥𝙡𝙞𝙣𝙖, 𝙛𝙤𝙘𝙤 𝙚, 𝙥𝙧𝙞𝙣𝙘𝙞𝙥𝙖𝙡𝙢𝙚𝙣𝙩𝙚, 𝙩𝙧𝙚𝙞𝙣𝙖𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤". Abordando a mitologia e o folclore j...