Capítulo 28: A Surpresa

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Havia tensão e nervosismo no ar quando enfim a pequena multidão que ocupava as arquibancadas se calou. O piso de madeira do dojô era brilhante e demarcado por linhas coloridas, com alguns tatames dispostos de frente para as arquibancadas, onde os competidores sentavam-se sobre seus joelhos, com suas espadas de bambu deitadas ao lado do corpo. Todos usavam roupas de proteção por todo o corpo, com excessão de seus pés e de uma minúscula parte do antebraço.

–Boa tarde, senhoras e senhores. –Anunciou um homem careca trajado com um quimono preto elegante com a logo do dojô estampada nas costas. Tinha um bigode fino e esquisito, o que chamou a atenção de Alexandre por alguma razão. –Hoje, damos início ao nosso terceiro torneio anual de kendo. Esses jovens participaram das preliminares na última semana e hoje terão a chance de demonstrarem o quanto aprenderam nesse último ano.

Uma salva de palmas explodiu ao redor de Alex, que parecia nervoso enquanto olhava fixamente para Antônio.

–Algum problema? –Perguntou o namorado, chamando através da telepatia. –Não vai torcer por mim?

Alex deu um sorriso. –Minha mãe está torcendo o equivalente a todos nós.

Não era exatamente uma piada, visto que Karen, uma das mães de Alexandre, estava praticamente numa batalha pessoal contra o restante dos pais e espectadores para ver quem gritava mais alto.

–Vai lá, Antony, enche a sogrona aqui de orgulho! –Gritava ela, envergonhando tanto seu filho quanto sua esposa, sentada ao seu lado.

–Senta aí, Karen. –Pedia Luana, puxando a barra da blusa de Karen para que ela voltasse ao seu lugar. –Acho que até os marcianos já ouviram você.

–Deixa de ser boba, Lu! Quero deixar claro para aqueles garotos quem vai ganhar essa competição. –Virou-se em seguida para os competidores, com as mãos em concha ao redor da boca. –Vocês vão perder, bando de...!

Pondo a mão rapidamente em seu ombro, Alex fez sua mãe sentar-se e, em prol do respeito e da moral pública, impediu que ela proferisse qualquer adjetivo pelo qual desejaria nomear os outros competidores.

–Droga! Você é chato igual sua mãe, Ale! –Disse, fazendo um muxoxo.

–Só tente acalmar os ânimos, querida. –Jogou seus cabelos de dread para trás, apoiando a cabeça de Karen em seu ombro. –Guarde suas forças para a comemoração depois daqui.

Do outro lado da quadra, Antônio mantinha contato com o namorado através da magia. –Eu ouvi comemoração? –Perguntou, achando graça do fato do torneio nem mesmo ter começado ainda e já estarem pensando em comemorar.

–Era pra ser surpresa, mas sabe como elas são.

–Ah! Então, não me conte. Adoro as surpresas que suas mães fazem.

Era mais do que um fato comprovado que Luana e Karen adoravam o genro tanto quanto o próprio Alex. A felicidade em seus olhos quando ele o apresentou a elas valeu a pena por todo o trabalho que tiveram para conseguir uma liberação do internato, antes de terem a ideia de disfarçar a youkai de Antônio com sua imagem e deixá-la em seu lugar por algumas horas. Tinha muita sorte de tê-las como suas mães e mais ainda de ter Antônio como namorado.

O professor mais uma vez pediu por silêncio.

–Só lembrando que o vencedor desta competição representará nosso dojô nas competições municipais deste ano. Agora, apresentem-se! –Gritou o professor, ao passo que todos os competidores levantaram ao mesmo tempo e quase numa sincronização perfeita. –Curvem-se! –Todos curvaram-se.

Em sua mente, Alex ainda ouviu a voz de Antônio dizer:

–Me deseje sorte.

Por coincidência ou destino, a primeira luta era a dele e de um outro competidor X, o qual Alexandre não sabia e nem pretendia saber o nome. Ambos caminharam até o centro da quadra, de frente um para o outro, abaixaram-se até que ficassem apenas sobre os dedos dos pés, e então voltaram a erguer-se, cruzando as espadas para formar um X de bambu.

O Ballet da Garota MágicaOnde histórias criam vida. Descubra agora