Capítulo 14: A Dama de Ferro

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Miranda deixou o corpo afundar no sofá de casa. A água borbulhando dentro da cafeteira na cozinha era o único som no interior do apartamento. Sua mente fervia depois de um dia inteiro de aventuras, mesmo que no mundo real ainda fosse fim de tarde.

Abriu a mão mais uma vez. A peça de madeira apareceu.

–Tenshi, o que você sabe sobre Daikokuten?

–Quem? –Respondeu a guitarra.

–Deixa pra lá. –Miranda suspirou. –O Kaze e a Amandy sabem tanto sobre os youkais e os kamis. Por que você não?

Miranda conseguia sentir o esforço da guitarra em tentar formular uma resposta. Podia esperar qualquer coisa, mas a saída do tsukumogami foi a de sempre.

–Não sei, mestra. De verdade, não sei qual pode ser o meu problema. Quem sabe talvez seja algo da natureza dos Tsukumogamis? –Sugeriu Tenshi.

–Tem razão. –Falou enquanto abraçava uma das almofadas. –Só queria me sentir um pouco mais útil.

Assim que o café ficou pronto, Miranda o serviu em uma caneca e ficou apoiada na bancada da cozinha, pensativa. As luzes estavam apagadas e fazia um pouco de frio. Talvez fosse bom pôr um casaco dali a pouco.

–Para mim, mestra, a senhora é bastante útil.

–Obrigada, Tenshi. –Disse, pouco convencida do elogio. –Só que não é a mesma coisa.

Tenshi ficou em silêncio durante mais algum tempo.

–Sendo assim, por que não saímos para caçar youkais?

–Sozinha? Impossível. Não lembra o que houve da última vez?

–Aquilo foi diferente. –Rebateu a guitarra. –As Gêmeas nos pegaram de surpresa. Youkais não farão joguinhos daquele nível. Podemos acumular magia ao mesmo tempo que a senhora desconta sua raiva neles.

Pela primeira vez Miranda começava a concordar com uma das ideias de Tenshi. O tsukumogami tinha razão nesse ponto. Matar alguns youkais podia ser bom para desestressar.

–Muito bem, então. –Falou, virando a caneca de café de uma vez e limpando a boca com as costas da mão. –Vamos caçar.

* * *

Uma forte chuva caiu assim que sol se pôs. Miranda, por sorte, tinha um guarda-chuva consigo na mochila. Passara a última hora procurando por youkais, limitando-se ao seu bairro apenas. Não ia arriscar dar de cara com Garotas Mágicas homicidas novamente.

–Minha mãe vai voltar logo. Precisamos nos apressar. –Disse, saltando de um espaço seco de marquise para outro. Fechou o guarda-chuva por um tempo para descansar. –Não achamos nada.

–Youkais são ardilosos, mestra. Lembra o que a serpente lhe disse?

Só precisa procurar nos lugares certos, dissera Amandy. Mas quais seriam os lugares certos?

Continuou procurando por mais vinte minutos. Era surpreendente o volume de pessoas e carros que transitavam por ali apesar do alto volume de chuvas. Chegou a pensar que a causa fossem os Ōkubi mais uma vez, mas Tenshi não conseguia sentir a presença de suas barreiras no Takamagahara. Já estava quase desistindo quando avistou do outro lado da rua uma garota escorregar e cair em uma poça grande de água.

–Desisto. –Disse ao youkai. –Vamos ajudar ela e depois voltamos pra casa.

Atravessou a rua sem problemas, aproximando-se da moça caída. Ela usava um vestido de peça única preto e um dos saltos parecia ter quebrado.

O Ballet da Garota MágicaOnde histórias criam vida. Descubra agora