Capítulo 4: Território e Contrato

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Miranda caiu sobre sua cama. Estava exausta, mental e fisicamente. Sentia calafrios somente por lembrar de seu treinamento com Luna.

–Pelo visto, seu tipo de poder é Ofensivo, mas se adequa mais à uma Suporte. Algo como um bardo ou clérigo de jogos RPG. –Explicou Luna logo após ver algumas das habilidades de Miranda. Entre outras coisas, suas músicas eram capazes de criar desde ilusões até pequenas explosões sônicas, como a que usara contra o Nekomata. Luna também achava que ela podia aprender a curar ferimentos, mas ainda era só um palpite –Isso é bom e ruim para você. Sua guitarra é sua arma, mas, ao mesmo tempo, é o núcleo de seu youkai. Se ela for destruída, acabou o jogo.

Segurou sua lança com uma das mãos, fez alguns cálculos rápidos e, sem mais nem menos, arremessou o objeto na direção de Miranda, que pairava alguns metros acima do mar.

Como que por reflexo, Miranda fechou suas asas, formando uma carapaça escura de penas. O objeto pontudo acertou sua barreira sem perfurá-la, tilintando como se batesse em uma parede de aço, e então caiu em direção ao chão.

–O que foi isso?! –Gritou Miranda, irritada. –Ficou maluca?

–Os youkais não terão piedade de você. E algumas Garotas Mágicas terão menos ainda. –A lança voltou para ela assim que estendeu a mão aberta em sua direção. –Mas esse não foi um golpe mortal. Um único corte da Amandy já é capaz de paralisar certos youkais. Alguns nem conseguem saber o que os atingiu.

Deslizando o dedo pela lâmina, Luna revelou que ela estava coberta por uma camada fina de uma substância verde e pegajosa.

–Veneno. –Disse, surpresa.

–Exato. O veneno de um Mizuchi é suficiente para matar um homem adulto em poucos dias, mesmo em pequenas doses. –No entanto, ao notar o olhar de espanto no olhar da aprendiz, acrescentou: –Mas não se preocupe. Eu sou capaz de remover o veneno, caso seja necessário.

Miranda engoliu em seco. Só de imaginar aquela coisa atravessando seu corpo a deixava com um nó no estômago, estando ou não envenenada. Por um momento chegou a sentir pena do Nekomata.

–Agora –Prosseguiu. –Ser uma Garota Mágica é como aprender balé: requer perseverança, disciplina, foco e, principalmente, treinamento. Vamos ver se aprende alguma coisa com isto.

Luna fez a lança dissolver-se no ar. Com as mãos livres, agarrou o ar como se puxasse os cordões invisíveis de uma marionete, fazendo o mar agitar-se. Oito tentáculos de água ergueram-se acima da linha da água e, sem aviso, atacaram Miranda.

–Ai! –Reclamou ao levar uma chicotada nas costas. –Vai com calma! A água tá gelada!

Miranda desviou de outros dois tentáculos, fazendo-os colidirem contra um terceiro. Virando de costas, acertou-se com um trovão, vendo a água perder a coesão molecular e cair de volta no oceano.

–Vai ficar ainda mais gelada. –Avisou Luna, flexionando os dedos com força. –Prepare-se!

Dos cinco tentáculos restantes, quatro ficaram com espigões de gelo na ponta. O quinto, por sua vez, começou a puxar a água para si, crescendo e triplicando seu tamanho em relação aos outros.

Luna queria lhe matar? Miranda chegou a pensar que era esse o objetivo.

Um dos espinhos acertou suas asas em pleno voo, causando desestabilidade, mas, a exemplo da lança, não provocou danos. Uma onda sonora destruiu mais dois tentáculos. Com uma pirueta, Miranda deu a volta por cima de um ataque, aproveitando a chance de destruir o terceiro e o quarto. Restava agora apenas o grandão.

Miranda disparou sua onda trovejante, mas nada aconteceu. Ele era grande demais.

–Alguma sugestão, Tenshi? –Perguntou à guitarra enquanto voava em círculos ao redor do tentáculo.

O Ballet da Garota MágicaOnde histórias criam vida. Descubra agora