"The ᴮᵒʸB̶e̶s̶t̶friends"

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Eu estava cada vez mais nervoso.

Mesmo estando sentado e completamente parado dentro daquele uber, meu coração estava correndo uma maratona dentro de meu peito. Esfregava as minhas mãos na bermuda, pois estavam suadas. Eu olhava pela janela do banco de trás do carro e via a cidade passar. O uber estava me levando para o endereço que eu havia falado para ele. Eu não sabia exatamente onde era, mas ele garantira saber, então apenas estava indo para onde quer que fosse. Andrew havia me dado cinquenta reais para pagar o uber, já que eu estava falido. Sem emprego algum, vivendo sustentado pelo meu melhor amigo. A que ponto eu havia chegado. Bem, pelo menos eu fazia o papel de dona de casa enquanto Andrew estava fora e quando ele chegava as coisas estavam arrumadas... às vezes.

Eu realmente sou um fracasso!

Eu estava indo para o apartamento de Dorinha Milão. Aquilo só me aumentava ainda mais a ansiedade por chegar logo e constatar com os meus próprios olhos de que não estava vivendo uma fantasia num dos meus sonhos mais profundos. Na noite anterior eu havia conversado por horas com Dorinha Milão. Aquele era o nome artístico dela. Ela não era trans e sim uma personagem feita para a Internet. Seu nome verdadeiro era Giovanni e o nome Dorinha veio de sua mãe. Ele começou realmente imitando sua mãe na Internet, até que se tornou uma personagem sólida, assim como a Pablo Vittar.

Era incrível de como a gente acabava descobrindo muita coisa sobre uma pessoa conversando com ela. Bem, entre nossa conversa, Giovanni falou que tinha visto o meu vídeo e que queria me dar toda a credibilidade possível. Queria fazer minha voz ser ouvida ainda mais, por isso me chamou até o seu apartamento para que pudéssemos gravar juntos. Todos os seus seguidores me apoiariam instantaneamente por estar me apoiando, então já crescia a minha credibilidade sobre aquela história.

Com alguém famosa do meio, eu teria mais visibilidade. As pessoas parariam de ver o que uma pessoa queria que vissem em mim e passaria a enxergar os dois lados, como era para ser desde o início, mas as pessoas só iam prestar à atenção em minhas palavras se uma pessoa famosa como a Dorinha Milão, prestasse à sua atenção em mim. As pessoas eram um pouco complicadas às vezes, mas era isso que era ganhar credibilidade na Internet. Estava ganhando força. Forma. Iria começar a brigar de igual para igual.

Aquela não era a primeira confusão que a Naty Cardoso se metera, mas era a primeira em que ela pôde se fazer de vítima perfeitamente e ganhar a credibilidade dos seus fãs e de outros também. Agora quem sabe poderia ganhar ainda mais seguidores pelo modo como se fez de vítima e quem sabe poderia ter comovidos outros vários corações fracos para o seu lado da força.

Eu poderia ter ido embora naquela noite e não ter revidado. Não estaria metido naquela confusão toda agora. Porém, por outro lado, também não estaria nem nos meus sonhos mais profundos, indo rumo ao apartamento de Dorinha Milão, uma das personalidades mais famosas da Internet naqueles tempos. Não só no YouTube, mas também nas redes sociais. É como diz um certo ditado que minha mãe gostava muito de falar: "Não há um mal que não traga um bem". Agora eu podia concordar cem por cento com ela.

O uber finalmente parou, interrompendo os meus pensamentos fluentes como um rio. Olhei para a frente em direção ao banco do motorista. Ele se virou para trás me devolvendo o papel com o nome do endereço que eu havia lhe entregado logo no começo da viagem para que ele chegasse até ali.

― Chegamos! ― diz ele com a mão estendida para que eu pegasse o papel de volta. Assim fiz.

― Obrigado! ― disse abrindo a porta do carro e me retirando dali no mesmo momento.

Assim que fechei a porta do carro o uber se foi sem olhar para trás. Como eu havia pagado logo no começo da nossa viagem o valor equivalente, ele realmente não tinha mais o que esperar ali. Agora era somente comigo. Respirei fundo e olhei em direção ao meu destino. Fiquei tonto só de olhar para o prédio. Era um monumento e tanto. Olhei em direção à porta e falei com o porteiro do prédio. Um moço apareceu sorrindo para mim ali na portaria e eu não podia reconhecê-lo.