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Eu pensava sobre o que Andrew falara na noite anterior.

Agora tudo fazia sentido. O porquê de Andrew não estar mais tão empenhado gravando vídeos para o seu canal estava completamente respondido. Eu sabia que não era fácil ignorar os haters. Querendo ou não eles existiam e faziam a gente se sentir mal. Ainda existiam pessoas más e altamente preconceituosas aquilo era um fato irrefutável. Em pleno o século XXI. Você acha que agora a população estará um pouco mais evoluída, então percebemos que nunca saímos do ponto inicial, o velho homem neandertal.

Eu estava sentado no sofá com o celular na mão, querendo fazer algo além de ficar no Instagram rolando a tela para baixo. Nenê chega e começa a miar se esfregando em minhas pernas. Eu tiro os olhos do celular e a olho. Ele mia mais uma vez. Seus grandes olhos amarelos estão focados diretamente em mim. Acaricio sua cabeça e ela recebe o meu gesto afetuoso acolhedoramente.

― O que é que você quer hein papai? ― falo com aquela voz em falsete que donos costumam fazer para os seus bichos de estimação, tratando-os como bebês. Obviamente ela não falou nada. Se ela falasse, eu sairia correndo. A primeira coisa que pensaria, era que minha gatinha estaria possuída pelo capeta. Deus me livre.

Ela miou pela terceira vez algum tempo depois. Fui até a cozinha para verificar o que ela queria. A vasilha de comida dela estava vazia. Eu pego a sua ração no armário e despejo mais um pouco no pote para que ela comesse. Ela automaticamente corre em direção à vasilha e devora tudo numa voracidade colossal. Fico ali observando-a comer tudo com um sorriso estampado em meu rosto. Ela era um belo animalzinho. Não conseguia entender como alguém tão frio a jogaria na rua completamente à mercê do destino que por sorte lhe sorriu, colocando Andrew em seu caminho.

Assim que terminou de comer ela bebeu a água que estava contida no recipiente ao lado, depois lambeu toda a superfície de sua boca, vindo novamente à mim e se esfregando em minhas pernas como se agradecesse pelo gesto. Eu agachei dando-lhe mais um pouco de afago. Ela era uma gatinha muito carinhosa, o que só me conquistava cada vez mais.

Vou até o quarto e me deito na cama com o celular em mãos. Nenê deita aos meus pés e cai num sono de gato. Costumava passar quase o dia inteiro em minha cama. Ela adorava aquele lugar. Subia com dificuldade por ainda ser uma filhote. A observo naquele dia subir sem ajuda alguma em minha cama e dou uma risada ao ver aquelas patinhas alcançarem seu objetivo. Não era uma surpresa ela subir em minha cama, mas era a primeira vez que eu presenciava a cena que por sinal era muito fofa. Pais de animais tendiam a ser muito babões de seus filhotes. Seu Pet não podia fazer nada que já era motivo para morrer de amores. Uma verdade universal.

Fiquei ali por algum tempo no celular. Não havia nada de bom para fazer. Eu não estava à fim de assistir nada na TV. Tinha alguns episódios das minhas séries para assistir, mas confesso que não estava à fim daquilo. Só queria extravasar algo que estava sentindo dentro do peito. Uma agitação inexplicável que se dera desde que abri meus olhos, mas tentava ignorá-la, me distraindo com o meu celular.

Não conseguia assistir nada. Não conseguia fazer nada. Queria começar a escrever o roteiro do meu próximo vídeo para o canal, mas confesso que não estava conseguindo criar vontade para aquilo. Eu pensava vagamente sobre o assunto, mas confesso que não reunia animo suficiente para me pôr ao trabalho. Me recordei de quando eu trabalhava. Passava o dia todo ocupado. Minha mente vivia ocupada o suficiente. Quando não estava concentrado no trabalho, estava planejando os vídeos do meu canal.

Eu sempre editava meus próprios vídeos. Alguns contavam com a ajuda de editores, o que seria uma ótima ajuda, mas gostava de fazer as coisas eu mesmo, porque era como dizia um velho ditado popular: "Se você quer as coisas bem feitas, então faça você mesmo", e era o que eu fazia. Seguia aquele ditado à risca.

"The ᴮᵒʸB̶e̶s̶t̶friends"Onde histórias criam vida. Descubra agora