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Já estávamos quase chegando.

A viagem fora um pouco longa. Agora estávamos dentro de um uber indo direto para o bairro onde morávamos ali na pequena cidade de Iguaba Grande. Eram quase cinco horas da tarde e quase não podia mais sentir meus glúteos por causa das várias horas sentado que passamos desde a grande São Paulo até agora ali, já na pequena cidade no Rio.

Nao demorou muito para que chegássemos ao bairro onde eu havia crescido. Agora podia ver muitas casas conhecidas e tudo veio à tona na minha memória. Me lembrava de ter andado por aquelas ruas. As casas não mudaram muita coisa, exceto por algumas que haviam mudado a cor, ou uma coisa ou outra no modelo, mas ainda conseguia reconhecer a maioria delas e a nostalgia não podia ser ignorada.

Sorrio para Andrew quando noto que ele está olhando para mim com um olhar carregado de brilho. Jogo meu ombro contra o seu rindo e ele devolve o gesto. Mordisco os labios e deleito a minha cabeça no ombro dele. Posso sentir a forte vibração das batidas de seu coração, então vejo pela janela que já estamos em minha rua, pois reconheço a casa da esquina que ainda não havia mudado nada desde que estive pela última vez nessa cidadezinha.

Me empolgo cada vez mais à medida que o carro avança para cada vez mais perto da minha casa. Meu coração está acelerado e a ansiedade por ver logo minha mãe e minha irmã aumentam. Andrew dá uma risada quando percebe a minha agitação e pousa a sua mão sobre a minha o que me faz parar por um segundo e focar nele. Andrew indica a casa na qual o motorista só uber deve parar e assim ele faz, parando bem em frente a casa que vivi por boa parte da minha vida.

― Chegamos! ― exclamo quase sem acreditar.

A casa não havia mudado praticamente nada. Tinha a mesma cor de verde de quando eu havia saído daquela cidade, porém estava um pouco mais desbotada. Ainda tinha aquele pequeno portão na frente pintado de branco e um pequeno jardim onde mamãe costumava plantar suas mudas de flores. Havia um caminho de pedras que ia do primeiro portão de entrada até um pequeno batente que dava na varanda da casa.

Desço do carro e começo a tirar as minhas malas do porta-malas. Andrew me ajuda com algumas malas. Olho em direção à pequena casa e vejo a porta se abrir e uma menina de cabelos cor de chocolate sair correndo de dentro e vindo em minha direção com berros de alegria.

― Manu! ― grito ao vê-la. Ela me abraça empolgada e eu correspondo ao seu gesto lhe girando enquanto a abraço.

― Andrew! ― diz ela também o abraçando.

― Meu Deus, já me sinto um velho te vende desse tamanho e lembrando que foi ontem que te peguei no colo! ― diz ele depois do abraço olhando para ela. ― Você lembra?

― Como vou lembrar, eu eu era uma criança? ― diz ela balançando a cabeça e fazendo uma cara de óbvio, o que fez Andrew e eu rirmos.

Mamãe aparece na porta com um sorriso quase choroso ao me ver. Corro até ela e lhe dou um abraço bem apertado e ela não consegue mais segurar as lágrimas. Mesmo que não esteja nesse momento a olhando nos olhos por estar deleitado em seu abraço, sinto sua respiração se alterar e é aí que concluo que ela está de fato chorando. Assim que encerramos o abraço, limpo as lágrimas dos olhos dela e ela repousa seu rosto em minha mão, sentindo sem pressa o meu toque.

Lembro-me de ter sido difícil para ela no começo me aceitar como gay, mas o amor sempre arruma um caminho para superar qualquer preconceito. Era algo recente ela me aceitar como eu realmente era. Foi um pouco depois da morte do papai à quase um ano. Quando saí daquela casa, havia deixado tudo muito mal resolvido, mas só depois que retornei para o enterro de papai foi que mamãe me disse que não seria um problema ter um filho gay e que o amor que ela sentia por mim era maior que qualquer outra coisa. Foi onde ficamos mais próximos.

"The ᴮᵒʸB̶e̶s̶t̶friends"Onde histórias criam vida. Descubra agora