Capítulo 3 - Nossas Relações

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Cada dia fico ainda mais entediada, fazia algum tempo que não permanecia em casa o dia todo.

O atestado de quinze dias feito por Felipe, seria tempo demais e meus ferimentos já estavam se cicatrizando. Será que ele queria mesmo afastar-me somente do trabalho ou dele também? Eu bati em minha face, como se pudesse me auto castigar toda vez que estaria me sentindo iludida pelo médico.

E vinha à minha mente a lembrança daqueles olhos verdes que me atiçavam e pensava que teria que me conter perto dele para não estragar tudo ao enlouquecer, subir na mesa dele e dar aquela jogada de cabelos igual aquelas secretárias destemidas com seus respectivos patrões em certos filmes.

Catarina e eu combinamos de nos reunir na parte tarde em meu apartamento. Antes que Cath chegasse comecei uma faxina, fiz bolo e até adiantei trabalhos da Faculdade. Eu precisava finalizar logo o último semestre de enfermagem, a loucura e a ansiedade já queriam me possuir.

Eu assistia a TV e Expectra miava como se pedisse por mais carinho. Ela ronronava no meu colo não se importando de se estirar logo depois em cima da minha cama. Enquanto isso o meu celular não parava de tocar e eu deduzindo ser Eduardo tentando falar por números diferentes, então não atendi.

Mais tarde, Catarina chegou à minha morada, com seus cabelos loiros mesma cor dos meus.

- Que bom agora somos irmãs - eu ri da cara dela.

- Por pouco tempo - ela disse ao se atirar no meu sofá.

- É, eu sei. Nós somos irmãs louras até que outra cor de cabelos nos separe - sentei-me do lado dela.

Minha amiga se acomodou e eu fui buscar o brigadeiro que fiz para nós duas em comemoração ao nosso dia de lixo. Combinamos de pelo menos duas vezes no mês fazermos um dia como esse. Hoje podemos comer de tudo até explodir, o que para mim não ia dar certo, por estar de folga esses dias. Eu teria que me arrebentar na academia naquela semana.

- O que eu sei, é que tem uma pessoa que andou perguntando por você - Cath conseguiu chamar minha atenção lambendo seus dedos doces - ele falou da preocupação dele na parte médica, é claro.

Acho que meus olhos brilharam e nem conseguir disfarçar, ele mexia profundamente comigo.

- Felipe? - perguntei tentando não presumir que poderia ser Eduardo a incomodando.

- Eu não sei o que você fez com o homem - ela comeu, mas uma colher do chocolate - o doutor está desorientado, querendo te ver.

Joguei minha cabeça na almofada do sofá e eu não poderia acreditar no que estava ouvindo. Ele era um sonho tão distante para mim, como se fosse algo precioso que eu não teria nunca a chance de alcançar e que agora estaria a minha espera.

- Mas, vá com calma - Catarina parecia que tinha o prazer em desmanchar o meu sorriso.

Ela disse que teria uma história para me contar e revelou que sua irmã e enfermeira Elizabeth é muito amiga de Adriane.

Ocorreu que em um dos plantões noturnos de Felipe no hospital Particular, surgiu um burburinho dizendo que ele se pegava com uma fisioterapeuta da unidade semi-intensiva e na época do acontecimento e sem checar as fontes, Beth foi fofocar com Adriane a respeito disso. A mulher ficou possessa e quando encontrou a fisioterapeuta no seu caminho a segurou pelos cabelos arrastando pelos corredores do hospital e foi também batendo na moça até a recepção da instituição.

Foi o maior escândalo. Depois disso houve demissão apenas da fisioterapeuta. Porque o casal era cotista do hospital.

Eu ouvi em partes a história de Cath a respeito da mortiça Adams. Admito, não naquele primeiro momento, em estar cega de amor por Felipe, não me importando com mais nada. Então, eu fiz pouco caso, porque medo eu não teria de ninguém e provavelmente a fisioterapeuta da história não quis revidar com medo das sanções que poderiam ser ainda piores que a demissão.

- Não sei por que Felipe ainda fica com essa mulher - eu suspirei e fiz careta já repugnando o brigadeiro.

- Se eu fosse você o deixaria resolver esta questão primeiro, antes de se envolverem - ela aconselhou.

Não sei se posso esperar, ainda mais com a atenção que ando recebendo - Eu fiz cara de manhosa.

Cath fez uma expressão no rosto de quem diz que eu já estaria avisada.

Depois de falar e comer muito naquela tarde, tocaram a campainha. Levantei-me em direção a porta de entrada do apartamento, com meu short jeans curtíssimo e ainda esfarrapado na barra.

- Edu - eu disse desanimada ao ver meu não tão namorado com cara de cachorro sem dono na minha porta.

Catarina pegou a bolsa dela e saiu dizendo que teria um compromisso. Depois eu a acerto. Eu pensei.

Eduardo olhava para minhas pernas, pois já havia falado que não gostava daquele short.

- O que quer aqui? - eu fui direta na pergunta.

- Posso entrar? - ele pediu.

- Não e seja rápido - eu esbravejei.

- Então, está terminando comigo - ele perguntou choroso.

- Já terminamos na porta da clínica enquanto meu braço sangrava e você me xingava - eu já queria fechar a porta e ele aguardou meu braço, inclusive, o machucado.

- Desculpe-me, eu não sei onde estava com a cabeça.

- Desculpo, agora já pode ir embora.

- Você tem outro?

Aí já foi demais. Eu bati com a porta no nariz dele e pedi para que sumisse da minha frente.

Eu fui dormir tarde, quando a terrível insônia veio me fazer companhia.

Pensei em Eduardo que não fez nenhuma ameaça desta vez pelo término de nosso namoro e aí que moraria o perigo, vou a polícia pedi proteção da lei Maria da Penha. É sério.

...e mais tarde quando adormeci profundamente:

"Minha pele estaria quente como se eu estivesse pegando fogo e realmente estava. Lá estava Felipe seu sorriso era largo e seu olhar penetrante.

Ele me estendeu a mão e queria que eu fosse correndo até ele. Mas, quanto mais eu me aproximava mais ele se afastava.

Não entendia o que acontecia e aquilo me consumia, assim como aquele fogo a minha volta. Grito por ele e o eco respondia de volta.

Eu estava sozinha, abracei com as minhas pernas e de companhia a minha solidão. Algo obscuro me envolveu: Eu sou a morte ela dizia.

Não tenha medo, ele vai comigo e a você aconselho que se afaste porque eu sou o seu reflexo, a sombra dizia. E você é o próprio mal àqueles que ama.

Afaste-se! Ou levarei todos comigo!

Saí correndo por uma estrada sem final aparente e um sopro gélido assoprou em meus ouvidos me fazendo despertar".

Acordei com um salto da cama e puxei forte o meu fôlego. Aquele sonho pareceu tão real que liguei para meu irmão na Holanda para que ele ficasse na chamada de vídeo comigo.

- O que quer maninha, não é madrugada aí? - ele disse não querendo se preocupar.

- Estou sem sono, só quero conversar, pode ser? - pedi quase que implorando.

- Tudo bem conversamos enquanto não volto para o trabalho.

Eu me acalmei ao conversar com Jonathan e ele me falou das novidades e de sua família, a sua esposa Jane, a filha Chloe e um segundo filho a caminho, o Noah.

De família próxima a mim, eu só teria o meu irmão no mundo. Poucos amigos, a melhor entre todos, parceira e confidente a Catarina e o Eduardo que eu não saberia se me queria bem àquela altura do campeonato.

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