Capítulo 33 - Temos um laço

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Felipe

E lá estava ela distraída enquanto preenchia alguns dados no sistema como parte de seu trabalho. Seus cabelos castanhos mesmo curtos e naturais, não tiraram a beleza dela de sempre. Não haveria como duvidar, ela ainda mexia muito comigo.

Fernando chegou no corredor e me tirou de meus pensamentos ao bater em minhas costas.

– Já falou com ela? – meu irmão disse ao me ver observar a Laysa mais adiante no posto de enfermagem.

Eu comentei com Fernando a respeito de minhas suspeitas em relação a gravidez de Laysa e o quanto ela fugia do assunto quando eu a abordava. E ele me apoiou seria para qual fim aquela situação daria, apesar de polêmica se acaso a gravidez dela confirmasse em ser de um filho também meu.

Depois de conversar com os familiares no leito do meu paciente a respeito de uma alternativa ao tratamento dele, eu fui até o posto de enfermagem da unidade fazer a prescrição médica.

Laysa quando me viu parou de falar sobre um assunto aleatório que trocava com sua equipe e pôs a me olhar como se esperasse ordens minhas.

Ela é muito profissional e tentava passar bom humor e espontaneidade enquanto trabalhava, apesar de não gostar de fazer muitos amigos em sua vida privada. Todos no hospital gostavam muito dela e isso os motivavam a trabalhar.

Eu entreguei a prescrição impressa nas mãos da enfermeira e ela não me olhou nos olhos, se sentando logo em seguida para aprazar o horário das medicações, então eu puxei uma cadeira e me sentei do lado dela.

Eu encarei a barriga de Laysa com as bordas arredondadas como se fosse uma pequena bola. Eu a sentia estremecer com minha aproximação depois de respirar fundo e ainda evitar de me olhar.

– Eu preciso falar com você – eu disse quando ficamos sozinhos na sala de triagem.

– Pode falar – ela me olhou rapidamente.

– Não aqui – eu disse tentando chamar a atenção dela – qual é o seu horário de almoço?

Ela por fim me olhou e respondeu que não teria horário de descanso, porque teria uma consulta com o médico obstetra dali em poucas horas. Eu me recuei e fiquei um pouco chateado.

Laysa não queria falar comigo e eu tinha certeza de que era pai da criança no ventre dela.

Catarina e Laysa não sabiam, mas Jefferson e eu conversamos na ocasião do casamento de Cath e Ricardo, quando ele me disse que eles não estavam juntos. Então, graças a ela não mantiveram um relacionamento amoroso e sim de amizade.

Ao descobrir a gravidez de Laysa, questionei a Catarina que visivelmente escondia algo, ainda mais quando falei que Jefferson seria o pai, então ela mudou de assunto.

Eu levei minha mão a barriga de Laysa e ela recuou um pouco, fazendo-me tirar minha mão.

– Você, já sabe o sexo da criança? – eu queria amenizar o desprezo dela.

– É uma menina – Laysa respondeu e saiu para dar instruções aos técnicos de enfermagem, já curiosos pela nossa conversa.

Sem ao menos eu esperar, um sorriso brotou nos meus lábios, me emocionando ao saber que seria pai de um casal de crianças, apesar das mães diferentes e da indiferença de Laysa.

Antes de sair da unidade, eu dei um beijo no rosto de enfermeira na frente dos técnicos de enfermagem e disse a ela que estava muito feliz por ela ser mãe ao mesmo tempo que eu iria ser pai de um menino com Lígia. Eu saí andando e não olhei mais para os olhos arregalados de Laysa e sua face corada de raiva ou vergonha.

Se ela quisesse que eu me afastasse, tudo bem, mas não conseguiria manter sua versão por muito tempo. E eu ficaria esperando por ela, sem mentiras, sem dúvidas, para assim decidirmos nossas vidas.

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Na madrugada quente da estação primavera, meu telefone tocou enquanto dormíamos.

– Você anda tão distraído, algo te chateia? – Lígia chamou minha atenção enquanto ajudava a me vestir para sair.

– Não é com você, meu amor. Não se preocupe – eu acariciei o rosto dela para tentar tranquilizá-la.

Lígia suspirou, mas de certa forma, ela sabia que havia algo de errado comigo. Apesar de minha preocupação do momento ser a razão do meu celular tocar as quatro da manhã.

A ligação veio do hospital e era para atendimento de emergência do meu paciente que não se adequou ao tratamento alternativo que eu havia sugerido para a família dele. Mas, que depressa eu segui para o hospital.

O médico plantonista doutor Wagner da cardiologia me passou todos procedimentos que já haviam sido feitos e que não haviam surtido resultado. Eu então pedi que levassem o paciente urgente para o centro cirúrgico.

Depois de algumas horas em cirurgia e todas as intervenções possíveis o paciente não resistiu e faleceu.

Eu deixei a sala de cirurgia e tirei as roupas estéreis, depois segui até o refeitório dos funcionários cabisbaixo. Eu estava acostumado a perder pacientes, mas com a morte daquele em especial, me deixou frustrado em não ter respondido ao tratamento.

Passavam por mim vários técnicos de enfermagem, médicos e demais funcionários, porém somente cumprimentavam de forma rápida.

Para minha surpresa depois de um tempo, Laysa se sentou frente a mim ocupando o segundo lugar, dos quatro lugares da mesa. Ela trazia dois copos de Cappuccino e eu agradeci com um sorriso leve.

– É para você, alegrar um pouco o seu dia – ela disse com um lindo sorriso.

Eu respondi que estava bem melhor naquele momento com a companhia dela.

Somente Laysa para entender que eu precisava de alguém para conversar. Ela me completava, nossos pensamentos sempre se faziam iguais e eu me sentia muito feliz ao lado dela, pena que o destino tratou de nós separar.

Ela me contou muitas coisas de sua rotina de grávida e eu procurei não a interromper, ouvindo a forma doce em que ela contava suas pequenas tragédias.

Depois de um tempo, ela se levantou deixando a sua barriga sobressair ao seu jaleco aberto e então eu como se pedisse permissão para ela, me aproximei e toquei em seu ventre, diante do arrepio de sua pele clara.

– Não quero que vocês duas fiquem longe de mim – eu pedi a Laysa olhando dentro dos olhos dela.

Ela me encarou por alguns segundos e menos arredia, consentiu com cabeça no sentido de positivo.

Deixei que a enfermeira voltasse aos seus afazeres e eu fiquei aliviado de que tudo poderia ficar bem entre nós.

Meu celular tocou e era minha mãe dizendo que havia chegado na cidade. Ela queria conversar algo importante comigo e que poderíamos fazer isso enquanto almoçamos na casa de Fernando. Aceitei o convite, mas Dona Sônia misteriosamente pediu para que eu não levasse a Lígia. Coisas de mamãe, eu pensei.

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