Capítulo 34 - Não dá para seguir sem você

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Laysa


Os meus pés se balançavam por baixo da mesa do nervoso que eu sentia. Larissa encarava a tela do celular e nada dizia. Enquanto Sônia me observava por baixo dos óculos com aqueles olhos verdes lindos.

– Desculpe-me incomodá-la aqui no seu lar – Sônia falou ao sorrir de forma meiga – Felipe ficou receoso da mesma forma, quando lhe pedi o seu endereço.

Ela não amenizou meu nervosismo por mais que minha ex-sogra esbouçasse um sorriso bondoso e delicadeza no seu trato comigo.

– A senhora aceita um café ou um refresco? – Levantei-me diante delas com as mãos nas costas apertando os meus dedos.

A neta de Sônia me olhou atravessado e talvez seja porque eu não havia oferecido nada a ela.

Eu já imaginava o motivo da visita delas ao meu apartamento e "suava em bicas", por ousar não atender algum pedido da minha quase sogra.

Até então, eu evitava ao máximo a proximidade com a família de Felipe e muito menos gostaria de me encontrar com Lígia. Seria um desastroso confronto entre barrigas para disputa pela atenção de Felipe, além da vergonha que eu sentirei quando souberem que o médico é o pai das duas crianças concebidas ao mesmo tempo. Eu mordia o canto dos lábios só de estar pensando naquelas possibilidades.

– Eu já sei de tudo – Sônia disse-me um pouco mais séria.

Eu sorri sem graça e servir o café as visitas.

Quando me sentei, respirei fundo e tentei explicar o inexplicável do dia em que me engravidei de Felipe e condição de embriaguez de nós dois, porém ela não quis saber cortando minha fala de forma educada.

– O que já aconteceu não importa – ela pediu que eu lhe desse a minha mão sobre a mesa – eu preciso saber é o que vocês vão fazer daqui para a frente – disse ao apertar minha mão com delicadeza.

– Na verdade, eu não contei para Felipe sobre minha gravidez, foi ele quem deduziu tudo sozinho – desabafei e percebi o olhar de "rabo de olho" de Larissa.

– E Lígia precisa saber de tudo, não é algo que se possa esconder – Sônia pareceu preocupada.

A senhora continuou o seu discurso, enquanto eu a ouvia atentamente com a cabeça baixa e os braços cruzados sobre a mesa. Em suas palavras dizia que em meu ventre teria uma vida, uma criança e irmã do filho de Lígia. Os irmãos poderiam nascer até na mesma época dali alguns meses.

– Eu peço que você e Felipe conversem com a Lígia – eu engoli em seco e desviei meu olhar de Sônia – e para isso, garanti que toda família deixassem para que vocês dois resolvessem a situação – minha ex-sogra olhou desta vez para Larissa que virou os olhos diante da avó.

Depois de algum tempo, mesmo constrangida, eu prometi conversar com Felipe a respeito da questão e antes de se despedir, Sônia fez um convite para um jantar em sua casa na cidade vizinha, onde irá comemorar seu aniversário de 65 anos com seus filhos e família no próximo mês.

Então, ficou bem claro que toda família já sabia de minha gravidez, a parte mais difícil seria contar para a mãe do filho de Felipe. Sônia teria realmente razão no que dizia, porque se Lígia soubesse por outras bocas seria ainda pior a reação dela.

Eu não queria recusar o convite feito pela a senhora, mas minha presença na festa da família seria muito constrangedora para mim e para todos. Além de Felipe, o seu filho caçula, Fernando, o mais velho. Dos Estados Unidos viriam Flávio e Fábio, os gêmeos que também são filhos de Sônia. Eu ouvir falar muito pouco a respeito deles, no meu curto tempo de relacionamento com Felipe.

Antes de alcançar o corredor do prédio, Sônia se virou novamente para mim e me surpreendeu ao dizer:

– Foi muito bem feito o que você fez com Adriane, agora é bem provável que ela não a perturbe mais – a senhora deu uma piscadela de olho e saiu com um sorriso sapeca no rosto.

Eu sorri de volta e depois de fechar a porta, apoiei com a minha cabeça na mesma, pensando na conversa que acabava de ter e nas outras que precisaria ter com Felipe e Lígia.

🍁

Felipe estava com a expressão de preocupado escorado na porta de seu carro, enquanto riscava o chão com sua bengala como se escrevesse algo. Ele estava com o jaleco no ombro e vestido com seu estilo atraente. Seus cabelos dançavam com o vento constante e ele me olhava com as sobrancelhas cerradas e pensativo.

O próprio médico me chamou para conversar no estacionamento do hospital, enquanto eu tentava fugir sem sucesso dele e da conversa que precisarmos ter naquele momento.

Ele ficou sem ideia de qual seria a melhor forma de abordar Lígia. Eu disse que seria o médico quem deveria conversar com a namorada. Ele me encarou ao engolir em seco.

– Você sabe que eu não a conheço muito bem – eu tentei me justificar.

– Eu a conheço bem e por isso sei que ela nunca vai me perdoar – ele disse fazendo-me entristecer.

Eu me afastei dele naquele instante e pensei que ela seria, afinal, importante na vida dele e senti raiva pelos seus sentimentos.

Destravei o alarme do meu carro dando as costas para Felipe e antes que eu fosse embora, para minha infelicidade chegou Lígia que encarou minha barriga do mesmo tamanho da dela.

– Laysa, eu não sabia... – ela deu um beijo em Felipe e veio até mim.

Eu respondi com um "Oi" fraco ao beijar seu rosto e ela queria puxar assunto, enquanto Felipe ficou quieto como um gato acuado.

– Eu estava aqui perto e vim de surpresa ver o meu amor – ela fez questão de se insinuar.

Lígia agia naturalmente, fingindo não saber que eu e Felipe já havíamos tido uma relação. Mas, a forma que ela me olhava havia mudado e até mesmo provocava falando sobre as rotinas íntimas do casal e do futuro filho deles.

Eu respirei fundo e disse que estava com pressa para ir embora. Antes disso, fingindo amizade, eu disse que íamos marcar algo para nos reunirmos e conversar sobre os bebês.

– Ah sim! Leve o seu namorado – Lígia disse ao abraçar Felipe mudo e com dificuldades de olhar em minha direção.

– Eu não tenho namorado – tentei falar sem me exaltar.

– Desculpe-me. Eu achei que você estivesse com o pai de seu filho... – eu a cortei.

– É, Valentina o nome dela – falei quase cuspindo – ela é minha filha e não tem pai.

Felipe me olhou de repente e eu senti que o machuquei, mas não queria mais saber daquela conversa e então me despedi do casal, acelerando meu carro.

Parei com o carro no sinal vermelho e pensei se aquela não seria uma boa oportunidade de avançar no trânsito e acabar com tudo aquilo de uma só vez. Milhares de "gatilhos" se armaram na minha cabeça questionando a minha existência, mas precisava ser forte como teria sido até então. A ninguém foi prometido uma vida fácil. E lutar é o que fazia de melhor, quem se rende aos problemas da vida, é egoísta e um covarde.

Portanto, pensei melhor e talvez sumiria daquela cidade com Valentina assim que ela nascesse e nunca mais veria ao doutor, a razão de todo meu sofrimento.

A sensitiva da minha amiga parecia até saber quando eu estava na pior. Na tela do meu celular li a mensagem de Catarina me convidando para irmos juntas ao cinema. Não sei se teria paciência para assistir filme, se a minha própria vida era feita de tragédias. Mas, pela minha amizade valeria a tentativa de poder me divertir um pouco.

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