Capítulo 13 - Dividindo outros Amores

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Os olhinhos dele são tão pequeninos, arredondados, castanhos, um pouco puxados no canto e os cílios grandes. O meu irmão descrito em miniatura.

- Parabéns, o Noah é lindo - eu disse a Jonathan enquanto ele me mostrava meu sobrinho na chamada de vídeo.

- Você está abatida - Jonathan disse endireitando a tela do notebook para eu vê-lo melhor - vem ficar uns tempos aqui na Holanda.

Eu suspirei e deu um sorriso sem graça.

- Seu chefe não melhorou? - ele perguntou ao me ver com os olhos tristes - Conseguiu vê-lo?

Eu lhe contei que havia conseguido entrar no horário de visitas, (não no plantão da Elizabeth, é claro) ao acompanhar uma senhora que naquele dia foi até o hospital somente ela acompanhada de uma jovem que é provavelmente sua neta, uma garota de catorze anos, alta e loura. Elas entraram e logo em seguida eu pedi o acesso a UTI Geral, dizendo que estava com a senhora e a neta que haviam acabado de entrar e uma jovem novata na recepção permitiu minha entrada. Eu parecia uma criminosa tendo que me disfarçar para não ser reconhecida pelas câmeras.

Meus olhos lacrimejam ao me lembrar da cena:

"Depois de vestir a roupas próprias para UTI, eu me aproximei devagar e de longe vi a Felipe. Meu corpo inteiro se arrepiou. Ele estava com peito desnudo, pálido e estava muito magro. Havia muitos fios sobre o corpo dele dos aparelhos médicos hospitalares. As feridas externas já estavam em processo de cicatrização.

No centro cirúrgico Felipe havia feito uma Laparotomia e conseguiram conter a hemorragia. Ele estava com ventilação mecânica e haviam feito uma traqueostomia. Um soro com sedativo corria lentamente pelo equipo até as veias dele. Os sinais vitais estavam estáveis e pelo jeito bem monitorado. Suspirei aliviada.

A senhora que segurava a mão de Felipe, ergueu a cabeça olhou para mim assim que eu toquei no vidro que me separava de meu amor. Os olhos dela já carregados pelo peso da idade, revelou os verdes do qual eu sentia falta de ver todos os meus dias tristes.

- Você é a enfermeira que está cuidando dele? - a jovem ao lado da senhora perguntou.

Eu apenas consenti com a cabeça dizendo que sim. E ao que parece não havia convencido a senhora que olhou em meus olhos e pediu que eu entrasse na redoma de vidro.

- Ele sente sua falta - a senhora me falou.

As lágrimas que tanto insistiam em cair, não foi fácil contê-las quando toquei a mão de Felipe.

- Oi, meu amor - foi o que consegui dizer a não ver o brilho de seus olhos e nem a covinha de seu sorriso apagado.

A senhora me abraçou enquanto a jovem nos observava com dúvidas vistas pela sua expressão facial.

- Ele me disse que voltaria por você - disse ela ao me reconhecer da foto do celular que Felipe a mostrou."

As lembranças do primeiro dia que havia visto a Felipe, ainda me eram doídas. Mas, conhecer Sônia que não havíamos nem se quer sido apresentada uma para outra, formalmente pelo filho e vendo a força dela, assim como a sabedoria que ela trazia em suas palavras, me fizeram acreditar de novo que Felipe sobreviveria e voltaria para nós.

Contei a história via vídeo para meu irmão e despedi-me da família de Jonathan para tentar me alimentar um pouco.

Soube mais tarde que Sônia Ferraz mãe de Felipe, tinha câncer e estava depressiva. O filho foi vê-la para ajudá-la, mas disse que teria que voltar logo, pois precisava resolver a questão do divórcio e falou sobre mim para ela. Assim, o destino nos pregou essa peça. No entanto, senti honrada porque a senhora decidiu ficar na cidade até que Felipe melhorasse de sua condição e me convidou para ir vê-la em sua casa, assim que possível.

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