Capítulo 12 - Nada tira você de mim

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Catarina me ajudou a levantar do chão. Eu estava devastada e ela me trouxe um copo com água. Ainda estava trêmula, mas conseguia me atentar melhor para o que dizia a TV.

Depois do intervalo comercial, atualizaram as notícias: "... Um dos carros de passeio com três pessoas abordo tentou uma ultrapassagem irregular, fazendo com que a carreta batesse com outro carro de passeio que foi arremessado da rodovia para uma estrada de chão"... Um arrepio percorreu todo o meu corpo.

- Catarina, eu vi isso, eu vi... - comecei a me desesperar de novo.

Ela me abraçou e pediu que eu fosse forte.

"... Os três ocupantes do veículo morreram na hora, o motorista da carreta teve ferimentos leves e da nossa cidade, o médico cardiologista Felipe Ferraz do carro arremessado para fora da rodovia, foi socorrido por uma UTI móvel e se encontra internado em estado grave no hospital local..."- Continuou o noticiário.

- Eu tenho que ir vê-lo - Já ia sair do mesmo jeito que estava somente de pijama.

- Vem. Eu te ajudo a se arrumar. Eles não vão nos deixar entrar no hospital de qualquer jeito - Catarina disse já me empurrando para o banheiro.

Enquanto fazia minhas higienes pessoais, eu me olhei no espelho, estava horrível minha aparência e não queria que Felipe me visse daquele jeito, mas ele não iria me ver ainda. Os meus pensamentos estavam desconexos, tinha medo de estar pirando.

Catarina me deixou no hospital e disse que me esperaria do lado de fora e como eu tinha o crachá de acesso, entrei pela entrada de funcionários.

Busquei informações com algumas pessoas que fiz estágio durante o dia e me disseram que o doutor estava no centro cirúrgico em cirurgia. Tomei mais uma pontada no coração que já estava todo machucado.

Eu subi a rampa de acesso ao Centro Cirúrgico e fui barrada na recepção.

- Mesmo que você seja funcionária do hospital, você não pode entrar no setor, sinto muito - disse um rapaz moreno que fazia o controle do mapa cirúrgico do dia.

Eu insistia com minha voz rouca e fraca, quando Elisabeth pareceu por trás de mim e escutou o assunto.

- Oi, minha querida. Você é parente de Felipe? - Ela encostou nas minhas costas e eu a odiei ainda mais.

- Eu...eu, trabalho com ele - ela olhou para meus olhos vermelhos e inchados.

- Desculpe-me, mas só parentes aguardam notícias aqui - ela deu um sorriso maldoso - inclusive a esposa dele e os familiares já estão na sala de espera e você não leu as normas do hospital?

Elisabeth me olhou de canto de olho e se dirigiu ao recepcionista para pegar a lista de pacientes que seguiriam para a UTI geral. Eu não tive como revidar e de forma humilhada saí da presença de meus colegas de trabalho.

A não ser pela própria boca de Felipe para dizer quem seria eu na vida dele, na verdade não teria nenhuma relação com ele, infelizmente. Nenhum parentesco e nem nada, totalmente estranha. E isso destruiu o resto de mim.

Ao longe vi a Adriane que não estava abatida e nem se quer havia chorado por ele. Tive vontade de ir lá, bater-lhe na cara só pelo fato dela ser a mulher oficial e ter todos os direitos enquanto ele estivesse vulnerável.

Antes de sair do hospital, pedi ao recepcionista do Centro Cirúrgico para me passar notícias do caso de Felipe.

- Por favor, é importante - ele se negou a princípio.

Eu apontei para Adriane que sorria com outros na sala de espera e disse para ele comparar o estado emocional das duas mulheres e que ele se colocasse no lugar de Felipe. Ele nos olhou e anotou o número do meu celular. Suspirei aliviada que pelo ao menos isso sobrava para mim.

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